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Consumo de leite e queijos de cabra também supera expectativa e produção começa a ganhar mais espaço em Goiás...

Considerada uma carne premium, sinônimo de ocasiões especiais, a carne de cordeiro ganhou destaque nos cardápios em comemoração à reabertura dos bares e restaurantes em Goiânia, desde o último dia 15 de julho. Foram mais de 100 dias fechados para o atendimento ao público em razão da pandemia da Covid-19 e, desde que os estabelecimentos voltaram a receber a clientela presencialmente, o volume de apreciadores do cordeiro, em especial do carré francês, tem aumentado, de acordo com chefs de cozinha.

Magra e de fácil digestão, a carne de ovinos tem sabor marcante e grande valor nutritivo. É rica em minerais – como cálcio, fósforo e ferro, sendo também uma excelente fonte de vitaminas do complexo B e proteínas. Seu consumo é mais popular na região Nordeste e no Sul do Brasil, porém, seu baixo teor de colesterol e gordura saturada, somado à maciez dos cortes, tem agradado o paladar dos consumidores goianos que buscam mais qualidade na proteína de origem animal.

Esse novo comportamento dos consumidores é uma tendência segundo os especialistas na caprinovinocultura. Para o proprietário da boutique de carnes Boi Verde, Fernando Novelli, o consumo tanto do carré de cordeiro quanto da paleta, da costelinha e do pernil do carneiro está em crescimento constante. Especializado em carnes nobres e outros produtos selecionados, a loja comercializa, mensalmente, cerca de 300 quilos de carne de ovinos. “Hoje, nosso fornecedor em Goiás está se adequando para conseguir nos atender. Importamos carne do Uruguai e do Chile, porque o volume de pedidos dos restaurantes, empórios e supermercados premium que trabalham conosco também tem aumentado. Sabemos que alguns estabelecimentos tiveram dificuldade em repor seu estoque após a quarentena”, frisa o empresário.

Ele conta que acabou de lançar o hambúrguer de cordeiro. “A novidade está sendo um sucesso. O público que aprecia carnes sofisticadas é exigente. Para superar suas expectativas, selecionamos fornecedores diferenciados e gourmetizamos os cortes agregando novos temperos. Em média, o quilo do carré de cordeiro é comercializado por R$ 100 a R$ 130 e o do hambúrguer por R$ 40”, comenta Novelle.

De olho no crescimento do mercado de carnes nobres selecionadas e matérias-primas de qualidade, os produtores goianos estão investindo na criação de ovinos no interior do Estado. A atividade, por sua vez, ainda é desenvolvida paralelamente a outras fontes de renda na propriedade. Segundo a coordenadora técnica de Formação Profissional Rural (FPR) do Senar Goiás, Claudimeire de Castro, tanto a ovinocultura quanto a caprinocultura estão despontando em Goiás. “No último levantamento feito pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), em 2018, Goiás contava com 33 mil caprinos e 113 mil ovinos. Existe um mercado potencial, principalmente para a carne. Contudo, para o sucesso da atividade é de extrema importância a busca por conhecimento e técnicas adequadas de manejo, sanidade e nutrição animal”, destaca a coordenadora.

Para o médico veterinário e instrutor do Senar Goiás, Tayrone Freitas Prado, Goiás se prepara para competir com outros mercados e o setor está migrando para formalidade. “Hoje, boa parte dos produtos disponíveis tem origem importada. Há uma demanda reprimida. O brasileiro gosta de consumir carnes nobres. Goiânia, Brasília e Anápolis demandam um bom volume de carnes premium. Todos os bons restaurantes oferecem pratos exclusivos, nos quais o cordeiro aparece como protagonista. Nota-se o aumento no número de boutiques de carnes e açougues especializados”, destaca o instrutor.

Especialista em produção de gado de corte e mestre em ciência animal com enfoque em nutrição de ovinos, Tayrone presta consultoria há 15 anos no setor de ovinocaprinocultura. “Recentemente, temos visto investidores que estão entrando com muita técnica, focados na criação de ovinos e caprinos no Cerrado, com bons projetos que chegam a atingir até três mil cabeças”, analisa. “O Estado reúne boas condições climáticas, os animais são versáteis e se adaptam bem ao meio em que habitam. Com boas práticas de manejo e sanidade é possível produzir bem e ingressar com competitividade neste nicho de mercado.”

Produtores afirmam que o gargalo para o desenvolvimento da atividade a curto prazo é a dificuldade em encontrar frigoríficos especializados neste tipo de abate. O lucro da criação pode ser obtido tanto por meio da venda de reprodutores e matrizes para outros criadores, quanto pelas proteínas fornecidas pelos animais. Em comparação a outras carnes vermelhas disponíveis no varejo, a de caprinos e ovinos é considerada mais saudável, por conter menos teor de gordura e taxa de colesterol.

Lucratividade maior

Criador de ovinos para corte e dono de uma indústria de laticínios, à base de leite de vaca, o presidente do Sindicato Rural de Inhumas, Alex Praxedes, é proprietário do Rancho Arka, localizado na GO-070, no município de Inhumas. Ele trabalha com a raça Santa Inês com cruzamento Doper. Alex vende animais vivos, inteiros, que são destinados para abate em frigoríficos credenciados. “Meu rebanho tem 500 parideiras atualmente, mas pretendo chegar a mil cabeças até janeiro do próximo ano. Entrei neste negócio há três anos, quando a arroba do boi estava cotada a R$ 120 e a do ovino alcançava entre R$ 200 e R$ 240. Atualmente, os valores por arroba se aproximaram, porém a lucratividade dos ovinos ainda é maior”, observa o presidente.

“No mesmo espaço que você coloca um bovino adulto é possível criar sete ovinos e, enquanto o intervalo entre partos de uma vaca oscila entre 13 e 15 meses, o intervalo entre partos de uma ovelha é de 7 a 8 meses. A gestação da ovelha dura 7 meses e a da vaca 9,5 meses. Então, tanto o espaço quanto o tempo para formar o rebanho de ovinos são menores e mais viáveis”, explica o produtor. De acordo com Alex, o cordeiro desmama com 45 a 50 dias, e sua terminação é feita entre 90 e 120 dias, sendo que, em média, o animal é vendido por R$ 300. Ele diz que não teve grandes dificuldades para desenvolver a ovinocultura de corte no Cerrado, em razão das condições serem favoráveis, com exceção do período das secas quando é necessário investir maciçamente na suplementação da alimentação.

Apoio e treinamento

“O Senar Goiás, a Faeg e a Emater fazem um trabalho muito sério de capacitação, representação institucional e assistência técnica para quem deseja investir na atividade”, afirma o presidente do Sindicato. Ele teve apoio dos parceiros para organizar seu plantel e agora pensa em expandir seus negócios. “Montamos uma estrutura de confinamento e temos interesse em fazer parceria com outros produtores da região. Fazemos a visita técnica, fornecemos os reprodutores, auxiliamos na estruturação do rebanho, no acompanhamento da produção e efetivamos a compra do cordeiro na desmama. Intuito é dar volume e garantir o desenvolvimento da ovinocultura na região”, considera Alex Praxedes.

Para quem deseja começar com pé-direito na atividade, Tayrone aconselha: “É preciso assistência, insistência e persistência”. Embora não haja uma fórmula pronta, ele orienta o produtor a fazer um bom projeto e evitar investimentos mirabolantes. “Animal é um artigo de luxo. Quem está começando não deve comprar ovelhas de qualquer preço, nem fazer galpões gigantes ou alambrados. Vale sim, planejar um negócio com custo funcional, buscar ovelhas prenhas ou jovens até estabilizar a mortalidade e o manejo. Construir a estrutura antes de comprar os animais”, enumera. “Vale encontrar um fornecedor idôneo e ter uma visão mais holística sobre o plantel. O produtor que está iniciando deve buscar parceiros na sua região e não juntar muitos rebanhos diferentes na fazenda. Comprar animais só olhando preço, vai gerar uma salada de doenças”, alerta. Segundo ele, cada fazenda tem uma possibilidade. É imprescindível buscar sempre baixar custo com alimentação, lembrando que ovelhas, cabritos e cordeiros não são bezerros.

Além dessas considerações, treinamento é fundamental para quem quer investir na área. Nos últimos 10 anos, o Senar Goiás promoveu 300 treinamentos ligados à ovinocaprinocultura. O número de treinamentos vem crescendo a cada ano. Segundo a coordenadora de FPR do Senar Goiás, Claudimeire de Castro, cerca de dois mil trabalhadores rurais já foram capacitados. Durante as aulas, o participante aprende mais sobre o cenário atual da produção no Brasil e no mundo, bem como estuda na prática, as melhores técnicas para a produção no Cerrado. “Ele tem a oportunidade de conhecer as características de cada raça, como fazer o diagnóstico e a estruturação zootécnica do rebanho, os sistemas de produção e seus tipos, noções de instalações, equipamentos e nutrição, além dos custos e da rentabilidade da atividade”, explica. O curso dura 24 horas. Nele, os instrutores também ensinam como fazer o controle de verminoses e parasitoses, além dos critérios para o descarte de animais. Mais informações podem ser obtidas no portal e nos sindicatos rurais dos municípios.

Da roça pra mesa

Outra história de sucesso na ovinocaprinocultura é a do produtor Eduardo Alves, proprietário da Alge, empresa especializada em produtos da roça. Eduardo cria frango e porco caipira, tilápia premium e ovinos. A fazenda fica no município de Nerópolis, 36 quilômetros da capital. Para o empresário, todo o sistema de produção foi adaptado e tem como espelho a experiência de outros países. Eduardo entrega carnes nobres para o mercado de Goiânia e Anápolis. “Não dou conta de atender, tem fila de espera”, comemora o produtor. “Nossos animais são criados exclusivamente com ração fabricada na própria fazenda, sob rigoroso manejo sanitário e respeitando todas as normas de bem estar animal, com acompanhamento com veterinário e sem qualquer produto químico ou medicamento”, explica.

Eduardo cria cordeiros há oito anos. Há cerca de um ano e meio está investindo na atividade de forma comercial. Atualmente, possui 300 matrizes em regime de semiconfinamento. Ele diz que a atividade requer mão de obra especializada, cuidado, especialização e acompanhamento constante. “Nossos clientes valorizam padrão de qualidade. Os cordeiros são desmamados com dois meses e recebem alimentação suplementar desde cedo, em clipes individualizados. Medimos, anotamos, acompanhamos diariamente a evolução até que o cordeiro esteja com 35 a 40 quilos. Vejo como grande desafio do setor a falta de uma legislação específica para abates pequenos”, salienta o produtor.

“A taxa de retorno da ovinocultura se mantém acima do boi e o preço pago pelo quilo do animal vivo é bastante valorizado, por isso, mesmo que o produtor não abata na fazenda é um negócio lucrativo. Já na caprinocultura, podemos observar que embora o Estado não tenha volume na produção de leite de cabra, este produto também tem mercado garantido e preço significativo”, observa o médico veterinário e instrutor do Senar Goiás, Tayrone Freitas Prado.

Os diversos atores do setor produtivo afirmam que no Brasil, e em especial Goiás, há um grande potencial de crescimento em relação à criação de caprinos e ovinos. A equipe técnica do Senar Goiás informa que não se trata apenas de aumentar os rebanhos e sim, de melhorar a qualidade genética de cabras e ovelhas, cuidar da saúde dos animais e zelar pela higiene dos produtos, com vistas a atender mercado interno e externo em longo prazo, por meio de projetos que unam inovação, sustentabilidade e compartilhamento de conhecimentos entre todos que atuam no setor.

Além da carne e do leite, o couro ou a lã permitem a obtenção de uma renda extra para os pequenos criadores. Segundo Tayrone, o couro é de excelente qualidade – porém, o produto ainda não é explorado industrialmente no Cerrado. “O couro é usado artesanalmente. Já a lã da ovelha não é explorada no Centro-Oeste ainda”, reforça o instrutor do Senar Goiás.

A criação de cabras para produção leiteira também está se profissionalizando no Cerrado. Um bom exemplo é o do Laticínios Maju, em Bela Vista. A indústria é uma referência em produção de leite e queijos artesanais de cabra. Rico em sabor, o queijo de cabra é um poderoso aliado nas dietas com restrição às proteínas do leite de vaca. Toda a produção de queijos de cabra do laticínio é proveniente do próprio capril da empresa.

O médico veterinário, Leodolfo Alves, informa que a história do laticínio nasceu em 1993. “Começamos, meu sócio (o engenheiro agrônomo Fábio Borges) e eu, a partir da necessidade do leite de cabra em nossas próprias famílias. Nossos filhos apresentaram intolerância ao leite de vaca e falaram que o leite de cabra seria um santo remédio. Não havia disponibilidade do produto no mercado, então decidimos começar a atividade em função do consumo doméstico e para atender a população que enfrentava situação semelhante”, relembra. Ele conta que o diferencial da produção está na seleção e no tratamento dado aos animais.

O mix de produtos oferecidos pela Maju está em expansão. “Estamos aumentando o plantel, em média, 30% ao ano, para atender este crescimento. Os consumidores estão em busca de alimentos mais saudáveis que traduzem maior qualidade de vida. Esse crescimento reflete no volume de pedidos dos supermercados”, conta Leodolfo. “Nos últimos dias, lançamos o queijo Chèvre, tipo pecorino. Trata-se de um queijo de longa maturação, usado em massas e para consumo direto. O produto harmoniza bem com vinhos e está tendo aceitação surpreendente em Goiânia e Brasília, mesmo com pouca divulgação”, celebra o produtor.

“De fácil digestão, o leite de cabra é tido como remédio para a população que tem intolerância às proteínas contidas no leite de vaca”, afirma Tayrone. A produção de leite de cabra em Goiás sofre com a falta de volume. No interior, em geral, os produtores de leite de cabra transformam sua produção em queijos na própria fazenda e comercializam o estoque direto para o consumidor final. Os queijos artesanais têm boa aceitação, já a comercialização da carne de bode não tem muita expressão porque a demanda é pequena segundo os criadores.

Saiba mais:

  • Termos: ovelha (feminino) e carneiro (animal adulto – masculino) e quando pequeno cordeiro ou borrego.
  • O cordeiro é a criação de quatro a seis meses de idade e o seu peso vivo não excede 40 quilos, aproximadamente 15 a 17 quilos de carcaça.
  • O carré de cordeiro é um corte feito perpendicularmente à coluna vertebral do animal, incluindo 16 costelas ou costeletas.
  • A qualidade da carne é diretamente influenciada pela idade e pelo peso do animal, além de outros fatores como raça, sexo, manejo e nutrição.

Fonte: Comunicação Sistema Faeg/Senar
Jornalismo Portal Panorama
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1 thought on “Produtores afirmam que lucro de cordeiros para corte supera carne bovina: Senar Goiás estimula a criação

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