De 1991 a 1998, apenas 1% das propriedades rurais tinha uma mulher como responsável pela tomada de decisões. Hoje, já são 10%

As tendências do campo e da sociedade colocam a mulher como figura central na continuidade do agronegócio. O tema foi abordado em palestra ministrada pelo agrônomo e consultor José Ney Vinhas na manhã de hoje (12/4), na TECNOSHOW COMIGO, em Rio Verde (GO). Cada vez mais jovens, segundo ele, as mulheres tem ocupado funções decisivas, em áreas que antes eram exercidas apenas por homens. Elas estão na linha de frente, tomando decisões e se responsabilizando pela gestão e administração do negócio, com importante papel ainda na articulação e harmonização familiar.

De 1991 a 1998, segundo Vinhas, apenas 1% das propriedades rurais tinha uma mulher como responsável pela tomada de decisões. Hoje, esse porcentual já atinge os 10%. O avanço, em muito, além de explicado pela mudança comportamental e cultural, é justificado também por aspectos naturais do desenvolvimento da sociedade. As mulheres possuem expectativa de vida maior e são maioria na população. “Eu particularmente conheço muitas viúvas e pouquíssimos viúvos, ou seja, mais cedo ou mais tarde, o negócio vai cair nas mãos das mulheres. É uma tendência e o campo, vale frisar, é um negócio familiar”, expõe José Ney Vinhas.

Para uma plateia repleta de mulheres, o palestrante expôs dados e estudos que comprovam a necessária atuação feminina no campo. Um dos pontos importantes enfatizados por ele foi a desenvoltura e habilidade diplomática da mulher no meio familiar, conseguindo, quase sempre, manter a harmonia das relações e ser referência em situações de atrito. “Em negócios geridos por famílias, é primordial que elas sejam coesas e felizes. Nenhuma família constrói um negócio para gerar conflitos e disputas internas. O objetivo é de, efetivamente, conseguir formar uma família empresária e a mulher é essencial, neste sentido, porque ela consegue articular melhor as demandas, por ser mais detalhista e emocional que o homem”, expôs.

Entre as causas que determinam o fracasso de um negócio familiar, o rompimento de comunicação e a perda de confiança são os principais, aparecendo em 60% dos casos. Nos demais, as razões se dividem em preparação inadequada de sucessores ou herdeiros (25%) e questões técnicas ou culturais (15%). A partir disso, fica clara a importância da presença da mulher, enquanto figura central e interlocutora no ceio familiar e, ao mesmo tempo, primeira da linha sucessória a ocupar o posto de gestora e responsável por decisões, em caso de falecimento do marido.

O palestrante considera alarmantes os dados de continuidade das empresas familiares no Brasil. Ele demonstrou que, de cada 100 empresas criadas por famílias, apenas 25 sobrevivem na passagem para a segunda geração, 17 chegam até a terceira geração e apenas 10 atingem a quarta geração sucessória. “Isso é triste, porque não acredito que alguém se sacrifique para construir um negócio e perdê-lo totalmente na passagem para a geração seguinte”, afirmou.

Empreendedorismo
Essa situação, no entanto, pode estar caminhando para não ser tão extrema no futuro, com uma solução que parte, inclusive, das mulheres. Segundo José Ney Vinhas, a mudança comportamental e as novas tendências têm atraído cada vez mais cedo as filhas de agropecuaristas para os temas referentes ao campo. Além de possuírem um conhecimento tecnológico maior, elas querem empreender. “Já vemos que elas estão tomando a frente do negócio na gestão, na operação de máquinas, na administração. Isso faz diferença, pois elas trazem uma bagagem cultural específica voltada para o campo, gerando bons retornos para o grupo familiar”, conta.

José Ney Vinhas sugere que, de regra geral, quando o assunto é negócio, as mulheres são mais cautelosas e conservadoras que os homens, “mas qualquer sociedade só tem sucesso se tivermos uma pessoa muito agressiva no empreendedorismo e outra que seja mais pé no chão”, considera. Para ele, o equilíbrio é o que promove o sucesso.

Um fator que ilustra bem isso foi citado pela coordenadora de Cursos para Cooperados da Cooperativa Agroindustrial dos Produtores Rurais no Sudoeste Goiano (Comigo), Siomara Martins, que acompanhou a palestra junto ao grupo de mulheres que participaram do Programa de Formação das Mulheres Cooperativistas, curso oferecido pela Comigo: “A gente observa que, quando o marido vai fazer um negócio, em 90% dos casos ele pede conselhos ou consulta a aprovação da esposa”.

Curso
A Comigo começou a oferecer o curso em 2015, com o objetivo de promover a inserção das mulheres no meio rural, abordando temas que vão do cooperativismo e do protagonismo da figura feminina até questões práticas e burocráticas de sucessão familiar. O curso é realizado de junho a outubro, com um total de 80 horas curriculares. No ano passado, foram 30 participantes e, este ano, até o momento, quase 50 já expressaram interesse. O curso é direcionado para mulheres e filhas de cooperados.

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