“Bicos dos peitos”, os mamilos, remetem às mamas, ou melhor, à amamentação. São a marca inconfundível —e exclusiva— dos mamíferos, caracterizados por terem glândulas cuja função primordial é produzir leite para nutrir recém-nascidos.
Quer receber notícias no seu WhatsApp? Entre no grupo do Portal Panorama
Bebês de diferentes espécies, inclusive humanos, usam os mamilos como canudinhos do líquido garantidor de sua sobrevivência. Mas para que ele saia, as aréolas, suas estruturas redondas, exigem ser estimuladas pela sucção.
Quando isso não acontece e só os mamilos são sugados, eles sofrem microfissuras e doem, impedindo ainda a completa liberação do leite. Dessa maneira, além de os pequenos serem prejudicados, pois não recebem a quantidade necessária do alimento, muitas mães ficam preocupadas de que não saibam aleitar direito ou até tenham algum problema, e para não deixarem suas crias com fome, acabam introduzindo, sem necessidade, fórmulas artificiais.
Servem apenas para escoar leite?
Não! Mamilos, por serem muito sensíveis e inervados, podem ser estimulados para obtenção de sensações eróticas e prazer sexual. Lambidas, mordiscadas, toques com os dedos, tudo isso faz aumentar o fluxo de sangue e, consequentemente, a temperatura e o volume dos mamilos, que ficam maiores, corados como os lábios, provocantes, ativando no cérebro a mesma região sensorial relacionada aos genitais e isso vale tanto para homens como mulheres.
Fora isso, mamilos, quando apalpados suavemente, com os dedos polegar e indicador, contribuem para o diagnóstico de câncer de mama. Nesse processo, não são bons indicativos a presença neles de secreção e sangue, ainda mais espontânea.
Alterações na cor dos mamilos também exigem atenção, bem como dores, nódulos (ainda que indolores), descamação, coceira, inchaço, vermelhidão, pele repuxada ou afundada, formato invertido, feridas, crostas.
Lembrando ainda que homens podem ter câncer de mama, apesar de muito menos frequente.
Nos homens estão lá para…
Nada. Mamíferos, independentemente do gênero, nascem com mamilos, e todos nós, como já citado, podemos tirar proveito deles. No que compete à amamentação, os mamilos masculinos não têm essa função. Neles, as glândulas mamárias apresentam um número baixo de células que secretam leite e, tem mais, a presença e o desempenho hormonal são diferentes. Nas mulheres, as glândulas se ativam pela ação de ocitocina, prolactina, somatomamotropina.
Porém, glândulas mamárias masculinas podem secretar leite em quantidades bem pequenas. Alterações hormonais, tumores e uma condição chamada ginecomastia, caracterizada pelo aumento anormal do volume da mama masculina em qualquer fase da vida, podem levar a isso. Em teoria, também é possível induzir a lactação com constantes estímulos nos mamilos.
Mamilos são bem diferentes
A aparência dos mamilos está relacionada a uma série de fatores: genética e hereditariedade, gênero, cor da pele, dimensão das mamas, taxa de gordura, exposição solar, estado emocional, temperatura, idade, contração dos músculos ao redor deles, fase de lactação e amamentação, presença ou não de doenças que os alteram: infecção, dermatite de contato, inflamação da mama (mastite), dilatação e obstrução do ducto de leite (ectasia) e até câncer.
Quando mamilos ficam em modo “farol aceso”, duros, tem a ver com tesão, frio, susto, sendo que o medo libera na corrente sanguínea adrenalina, cuja função é preparar o organismo para enfrentar ou fugir de situações —e que nos deixam tensionados.
Em 2016, cientistas suecos publicaram um artigo na revista Nature informando que também há por trás da ereção dos mamilos neurônios que se responsabilizam apenas por isso e por deixar a pele arrepiada.
Tem mais. Devido a um aumento nos níveis dos hormônios sexuais durante o período fértil, mamilos femininos podem parecer diferentes, inchados, mas esse sintoma menstrual logo passa.
Na puberdade, influências hormonais também fazem crescer as glândulas mamárias e nos meninos os mamilos podem endurecer, “empedrar”, mas isso costuma sumir sozinho.
Tipos de mamilos
De modo geral, os mamilos podem ser classificados em três tipos:
- Protruso – é o mais frequente, projetado alguns milímetros à frente da aréola. Costuma ser naturalmente firme e quando largo demais pode impedir a estimulação da aréola pelo bebê e a saída do leite. Para evitar que apenas o mamilo seja sugado, vale estimular a aréola antes.
- Plano ou pequeno – estão no mesmo nível de altura da aréola. Para que não haja dificuldade de amamentação, a mãe, com os dedos, pode segurar a aréola, fazendo formar nela um bico.
- Invertido ou pseudoinvertido – menos comuns, são virados para dentro da aréola, mas se estimulados podem “subir”. Seus problemas mais comuns são o acúmulo de secreções, que favorecem mau cheiro, infecções e a dificuldade de serem sugados, como os do tipo plano.
Faz mal furar e usar piercing?
Furados para a colocação de piercings, os mamilos ficam chamativos, mas correm o risco de inflamar, infeccionar e até desenvolver abcessos, resultando em sintomas como dores, enrijecimento, vermelhidão, inchaço, saída de pus e hipersensibilidade. Para evitar que tudo isso aconteça, a colocação do piercing deve ser feita por um profissional bem indicado, para evitar contaminações, e em casa o local ser mantido seco e higienizado até sua cicatrização.
Se o piercing inflamar e gerar secreção, sangramento, dor intensa, febre, mal-estar, é fundamental procurar um médico, que pode prescrever anti-inflamatórios e até antibióticos.
Uns sem e outros com tantos
Mamilos também podem estar ausentes, como no distúrbio atelia, em que o sujeito, sendo homem ou mulher, nasce com um só ou sem o par deles e ainda sem as aréolas. De origem genética e rara, essa doença geralmente está associada a outras, como displasia ectodérmica ou síndrome de Yunis-Varon, que afetam a formação e funcionamento de várias outras áreas.
E se uns não possuem mamilos, há quem tenha extranumerários, em boa parte ao longo do tronco, parecidos com pintas ou verrugas, caracterizando a politelia, um “resquício evolutivo”.
Como reconstruir ou corrigir mamilos
Para mulheres que passaram por mastectomia, cirurgia de retirada completa ou parcial de uma ou ambas as mamas, próteses de mamilo e aréola autoaderentes são opções estéticas acessíveis, menos invasivas.
Existem ainda tatuagens em 3D, que podem refazer placa areolomamilar, camuflar defeitos e até repor a coloração original do mamilo perdida, às vezes, em decorrência de uma cicatrização por mamoplastia redutora.
Tatoos também servem combinadas à reconstrução mamária, cujas técnicas cirúrgicas são variadas e podem envolver retalhos e enxertos. Em todas as situações, se o paciente desejar intervir no mamilo devido a preocupações com a amamentação ou por razões estéticas e emocionais, é necessário consultar um médico.
Nem tudo exige cirurgia e ele pode testar, por exemplo, algum dispositivo no mamilo, como de sucção, usado para se extrair os invertidos.
Quanto aos homens, também não ficam de fora. Com ginecomastia, cujas causas vão desde fatores fisiológicos e obesidade ao uso excessivo de anabolizantes, cigarro e álcool, o tratamento pode ser feito com medicamentos, no estágio inicial, ou cirurgia, quando está avançado, podendo afetar o convívio social e gerar depressão se o caso não for solucionado.
Por Marcelo Testoni
Foto: iStock
Jornalismo Portal Panorama
panorama.not.br