
A vida tem momentos dolorosos: uma paixão frustrada, um calo doído, um parto, pedra no rim… Mas tudo é ninharia quando comparado à dor de ser vestibulando. – A paixão a gente troca por outra; o calo a gente arranca; o parto tem seu desfecho; até a pedra sai! Mas ser vestibulando… Viver para saber!
Numa era pré-Enem, o escritor gaúcho L.F. Veríssimo, ao avaliar a crueldade que sofre um vestibulando, diante de provas, simulados, redações, além de outras formas de tortura, propôs métodos mais viáveis de seleção, do tipo “desbravar a floresta amazônica, e quem voltasse de lá – vivo obviamente – estaria classificado. Múltipla escolha? – Nada disso. Só uma: sobreviver. Já era o primeiro passo para a simplificação da prova. E ele nem imaginava, mas era premonição: ciências da natureza…no meio da selva…ecologia…sustentabilidade…Tudo a ver. Só faltaram os direitos humanos, mas quem vai lembrar disso no meio da floresta onde a preocupação maior é safar-se das onças e jaguatiricas?
Dispensável dizer que o MEC rejeitou a proposta. Era criativa, sim, mas feria os direitos humanos. Tudo voltou ao que era antes. E eu voltei ao cursinho. A Terra não demora um ano inteiro para dar uma volta em torno do Sol, e recomeça tudo em janeiro sem reclamar? – Eu me sinto em movimento, não sei se rotação ou translação, vou perguntar ao professor de Geografia.
Eu disse “professor”? Sala de cursinho parece passarela de artistas desfilando. Modelos diferentes, alguns exóticos.
Tem aquele professor que não ri. Deve ser para economizar. São os melhores porque a matéria rende…Tem aquele que já entra gritando. Só pra chamar atenção.
E tem o professor cantador. Desse eu gosto. Canta musiquinha com rima e tudo. Aí é a hora que a Biologia vira música sertaneja universitária. (Me sinto em Barretos…)
Nem falei ainda do professor “data-show”. Esse nem precisa dar aula. Os elétrons e moléculas saltam da tela como ondas nervosas direto para nossos cérebros. (Nem sei quanto ele ganha nessa aula).
Não posso esquecer daquele que entra de cara fechada. – Ih! Esse brigou em casa! (Não ouse tocar no celular nem para ver as horas. A vítima pode ser você!)
Mas ainda existe um que gosta de contar piada. Eu nem rio mais porque já ri todas no ano passado. (Sem querer acabo de confirmar que estou repetindo…)
Essa é a minha história. Já tenho autoridade por tempo de serviço. Acho até que deveriam institucionalizar um novo estado civil: vestibulando. – O que você é? Casado, solteiro ou viúvo? – Nada disso. Sou vestibulando. União estável com livros, apostilas, simulados e outras torturas do gênero!
E tem mais: não sou exatamente um vestibulando. Sou um para-vestibulando. Não tem paraolimpíada? É moda. Tudo pra mim tem mais obstáculos e barreiras. Não há rampas para galgar a universidade. Até já disseram que sou um exemplo de teimosia e superação. Achei que era elogio. E se o Enem perguntar qual é o certo: paraolimpíada ou paralimpíada, aí eu chuto!
Mas nesse contexto olímpico, devo informar que o tiro esportivo é o meu preferido. Sonhei que era a prova do vestibular. Lembra aquelas cinco argolas concêntricas? Eu tinha que mirar bem no meio. Sabe qual eu acertei? – Nenhuma das anteriores.
Colunista: Prof: Jorge Pita
Revisão: Rosana de Carvalho
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