A aquisição de dipirona injetável tem sido um desafio para as redes pública e privada de saúde em Goiás. O remédio é amplamente utilizado para tratamento de febre e dor em casos de influenza, Covid-19 e dengue, entre outros. O motivo da dificuldade de compra é o fato de a indústria farmacêutica ter diminuído a comercialização. O cenário fica ainda mais complexo com o aumento dos casos de dengue no estado, já que o uso da substância, junto com a hidratação, é uma das principais estratégias de tratamento da doença.
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A Secretaria de Estado de Saúde de Goiás (SES-GO) aponta que a dipirona injetável é usada como medida de apoio para o combate às doenças transmitidas pelo aedes aegypti e que atualmente, “o Estado de Goiás enfrenta dificuldades no abastecimento, com relatos de municípios que estão com problemas na aquisição do referido medicamento”, diz trecho de nota enviada pela pasta. De acordo com a secretaria, para atender a demanda, ela já iniciou processos de aquisição do medicamento, que estão em fase de trâmites legais.
A Associação dos Hospitais Privados de Alta Complexidade do Estado de Goiás (Ahpaceg) também tem enfrentado problemas com o abastecimento do medicamento. Ela afirma que o mesmo está em falta e que os hospitais trabalham com estoques que já estão acabando. A associação destaca ainda que o problema atinge outros itens, como antibióticos, relaxantes musculares, analgésicos e anestésicos.
A escassez e o aumento dos preços das matérias-primas, especialmente nos custos de importação, fizeram com que a produção do medicamento no Brasil diminuísse. Algumas farmacêuticas adotaram até a descontinuidade da produção. A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) informou que um pedido de reajuste de preço para a dipirona, que é regulado pela Câmara de Regulação do Mercado de Medicamentos (Cmed), já está em análise.
A Teuto, que fica no Distrito Agroindustrial de Anápolis (Daia), era uma grandes produtoras de dipirona injetável e foi uma das empresas que recentemente deixaram de fabricar o medicamento. A reportagem entrou em contato com a farmacêutica, mas até o fechamento desta reportagem não obteve resposta.
Saída
O Conselho Nacional de Secretarias Municipais de Saúde (Conasems) enviou um ofício ao Ministério da Saúde afirmando que 23 conselhos estaduais relataram no fim de fevereiro dificuldade de compra de medicamentos injetáveis, dentre eles a dipirona. O órgão pediu apoio do governo federal para a aquisição dos produtos e para intensificação da regulação do mercado e articulação com o setor farmacêutico.
Entretanto, por enquanto, o Conselho de Secretarias Municipais de Saúde do Estado de Goiás (Cosems-GO) ainda não foi informado de nenhuma mudança no cenário. “Pode ser que estejam articulando algo, mas ainda não foi verbalizado”, diz Verônica. O Ministério da Saúde comunicou que apesar de os repasses federais para a compra dos medicamentos básicos estarem regular, a pasta estuda, junto à Anvisa e aos representantes do setor farmacêutico, a melhor fora de solucionar o desabastecimento.
Problema está espalhado no estado
A presidente do Conselho de Secretarias Municipais de Saúde do Estado de Goiás (Cosems-GO), Verônica Savatin, afirma que este cenário, além de fazer com que o medicamento fique difícil de ser encontrando, inflaciona o preço do produto. “O pouco que tem no mercado, está com um preço muito superior do que o normal.”
Ela diz que a situação é extremamente alarmante porque uma das principais estratégias para o tratamento da dengue faz o uso do medicamento. “Para tratar a dengue é basicamente dipirona e hidratação”, destaca. Reportagem do portal publicada nesta segunda-feira (11) mostrou que o número de notificações de casos de dengue em Goiás cresceu 295% quando comparadas as 13 primeiras semanas epidemiológicas de 2021 e 2022. Foram 22 mil registros no ano passado contra 87 mil neste ano. É o maior número de notificações do período desde 2016.
O superintendente de Vigilância em Saúde da SMS de Goiânia, Yves Ternes, explica que a dengue causa uma redução do número de plaquetas e que outros medicamentos como, por exemplo, a aspirina e os anti-inflamatórios não esteroides também fazem isso. “A dipirona e o paracetamol não têm este efeito. Por isso, em momentos como este, o consumo deste medicamento aumenta muito.”
Goiânia é um dos municípios goianos que enfrentam o problema. Em artigo de opinião publicado no portal desta terça-feira (12), o titular da Secretaria Municipal de Saúde da capital, Durval Pedroso, explica que a pasta já teve uma compra emergencial fracassada por falta de interesse de fornecedores e que apesar de ter contrato fechado, está na fila da produção.
Em Rio Verde ainda não foi registrada falta do produto, mas a SMS da cidade tem recebido o medicamento em remessas, em vez de em um montante só, como era de costume. Já a SMS Aparecida informou que ainda tem estoque de dipirona, mas que “aguarda a entrega de uma nova remessa pelo fornecedor”.
Fonte: O Popular
Foto: Weimer Carvalho
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