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Para especialistas, mercado deve se estabilizar nos próximos meses, mas ainda deve permanecer em alta...

Aumento de 60% na exportação de carne bovina em Goiás no mês de Outubro. É o que apontam dados divulgados pela Secretaria de Estado de Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Seapa). O cenário de crescente venda a outros países contrasta com o comércio interno no estado, em que a procura pelo produto foi reduzida devido à alta no preço da carne. Goianos vêem o valor do produto disparar e passam a optar por ovos, carne suína e frango. Especialistas dizem que mercado deve se estabilizar nos próximos meses, mas ainda deve permanecer em alta.

Desde o mês de outubro, a vendedora Sirlene Gonçalves tem se virado como pode para enfrentar a alta do valor do produto. A regra é clara: “economizar o máximo possível”. A missão, segundo ela, não tem sido fácil. Isso porque o quilo da carne de primeira, como contrafilé, era encontrado por R$ 19 e agora por R$ 29.

A alternativa da trabalhadora é optar por carnes de segunda, que também sofreram reajustes. “Até as carnes de segunda como o coxão duro, por exemplo, que pagávamos cerca de R$ 14 o kg, estão atualmente R$ 19, 20”, relata. Outra opção é o consumo de ovos, carne suína e frango. “Aqui em casa tem sido assim. Estamos trocando a carne por alternativas mais baratas”.

Os altos valores, conforme o economista Danilo Orsida, são resultados do aumento das exportações de carne bovina do Brasil para a China, que passa por crise na indústria de carne suína (mais consumida no país) após vírus atingir criações de porcos. A estimativa, segundo o banco holandês Rabobank, seria de até 200 milhões de animais atingidos pela doença.

Desde o início da crise, os chineses chegaram a oferecer 15% a mais pela carne e as exportações chegaram a subir mais de 110%, entre os meses de setembro e outubro. No mesmo período, Rússia (694%) e Emirados Árabes (175%) também compraram mais. As informações são da Associação Brasileira de Frigoríficos (Abrafrigo).

O economista ainda aponta o aumento do dólar como um dos fatores. “Com o dólar em alta, é bem mais interessante para os produtores vender para países do exterior. O lucro com certeza será maior do que o comércio interno. Então, devido à grande demanda de exportação e ao grande consumo no final de ano, o mercado interno acaba sofrendo essas consequências de alteração de preço”, disse.

Segundo Danilo, o brasileiro tem sofrido com a disparada de preços não só da carne, mas também de combustíveis e outros alimentos. “O que a gente vê é o aumento desses produtos afeta diretamente o poder de compra do cidadão. O valor gasto pelas famílias com questões domésticas tem comprometido praticamente todo o salário do cidadão”, afirma.

Alto valor da arroba

O presidente do Sindicato das Indústrias de Carne e Derivados no Estado de Goiás (Sindicarne), Leandro Stival, também aponta o alto valor da arroba para o aumento no valor da carne bovina para o consumidor. Segundo ele, o que custava cerca de R$ 200 passou a ser encontrado por R$ 230. Nesta semana, porém, houve leve recuo e a arroba tem sido vendido por R$ 215.

De acordo com ele, o aumento do preço da carne bovina decorre, ainda, da falta de boi no período de transição chamado entressafra. “Nós passamos do tempo seco em que há boi confinado para o período de chuva, que coincide com o aparecimento de boi de pasto. Todo ano temos essa janela difícil de compra de animais”, alega.

Apesar do súbito aumento, Leandro acredita em redução do valor. “Foi um conjunto de fatores. Recordes de preços da arroba, volume de exportações e falta de matéria. Mas da mesma maneira que o aumento é rápido, as mudanças também são. Já percebemos que no atacado o valor do kg da carne caiu 5,4%. Semana após semana isso será reduzido até que o consumidor sinta um preço melhor”, disse.

Leve recuo

Conforme explica o Sindicato do Comércio Varejista de Carnes Frescas no Estado de Goiás (Sindiaçougue), Silvio Carlos Yassunaga Brito, o mercado apresentou leve recuo para a categoria. Na última semana, o valor pago kg do boi casado (ossado) era de R$ 15,20. Com redução de apenas R$ 0,70, o preço atual é de R$ 14,50. Antes da alta, no entanto, o produto era vendido por R$ 10,20.

“É uma redução tão pequena que ainda não é possível que o consumidor sinta. Não teve uma melhora significativa. Hoje vivemos em função da queda de vendas por conta do alto preço”, lamentou.

Para Silvio, mesmo após este período de alta, o valor da carne não deve retornar ao que era. “Tem sido uma luta para os varejistas nesse momento. A expectativa é que haja certa redução, mas estamos cientes que o valor não vai ser o mesmo de antes do aumento. O valor deve permanecer alto”, ressalta.

Consumidores buscam alternativas

Com o alto valor cobrado na carne bovina, os consumidores passaram a buscar alternativas. Muitos têm trocado o produto principalmente por ovos, carne suína e frango. O presidente da Associação Goiana de Supermercados (Agos), Gilberto Soares, informou ao Mais Goiás que houve redução na procura de carne bovina.

“A procura pela carne vermelha teve queda de 6 a 8% nas vendas. Em contrapartida, houve aumento de 5,6% na procura de carne suína, frango e ovos. Outros consumidores têm trocado a carne de primeira para a de segunda, que é relativamente mais barata”.

Gilberto pontua, porém, que as compras variam de acordo com a região. “Em alguns locais em que o poder aquisitivo é menor conseguimos ver essa redução na procura de forma mais acentuada. Em lugares com poder aquisitivo maior, no entanto, quase não há diferença no consumo”.

Com a nova demanda, o mercado de carne suína, ovos e frango já sentiu reflexos. Segundo ele, houve aumento de cerca de 35% no valor dos produtos mencionados. “Esse aumento se deve além da demanda, ao aumento do preço dos grãos que são base da ração para os animais”.

A expectativa, conforme ele, é de que os valores da carne vermelha se estabilizem nos próximos dois meses. “Janeiro e Fevereiro certamente terá uma regularização e os valores voltam ao normal”.

Exportações do agronegócio em Goiás

Além do crescimento de exportação de carne bovina (60%) em outubro, a Seapa também apontou aumento de 72,7% e 37,9% nas exportações de algodão e complexo soja, respectivamente.

Conforme os dados divulgados na segunda-feira (2), o agronegócio foi responsável por 70,6% nas exportações goianas, o que gerou US$ 294 milhões. A pesquisa mostra que Goiás participa de 24,4% do saldo da balança comercial brasileira.

De janeiro a outubro, houve exportação de 51,9 mil toneladas de álcool etílico, 2,2 mil toneladas de café, 41,8 mil toneladas de algodão e 3,5 bilhões de toneladas de milho.

Fonte: Mais Goiás
Jornalismo Portal Panorama
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