Sabia que o simples ato de coçar os olhos pode provocar uma doença oftalmológica que, se não tratada, pode levar à perda da visão?
O ceratocone está entre as maiores causas de transplantes de córnea em todo o mundo. Para alertar a população sobre a importância do acompanhamento e tratamento dessa condição, foi criada a campanha Junho Violeta.
Segundo a Cornea Research Foundation of America, a cada 100 mil pessoas no mundo, entre 50 e 200, aproximadamente, desenvolvem o ceratocone.
O ceratocone é uma alteração na córnea, que é a estrutura anterior dos olhos e funciona como uma lente para focalizar a imagem. A doença provoca um afinamento da estrutura, deixando-a com formato semelhante a um cone.
Dados da Associação Brasileira de Transplante dos Órgãos apontam que, dos mais de 23 mil transplantes realizados ao ano no país, cerca de 13 mil são de córnea, sendo o ceratocone uma das principais causas. Do total de pacientes inscritos no Banco de Olhos do Distrito Federal que esperam por um transplante de córnea, 32% são por evolução da doença.
“O ceratocone pode levar a uma acentuada baixa de visão, mas, na maioria dos casos, é reversível, caso a doença seja diagnosticada e tratada logo no início”, explica o oftalmologista Rodrigo Santos, especialista em Córnea e Ceratocone e coordenador do Setor de Lentes de Contato do Hospital Oftalmológico de Brasília (HOB), empresa do Grupo Opty.
Sintomas e causas
A doença costuma se manifestar na infância ou na adolescência e atinge a estabilização por volta dos 30 anos. Ela evolui gradualmente, não apresenta inflamação aguda e é indolor. Mesmo sendo bilateral, o ceratocone geralmente atinge os dois olhos de maneira assimétrica, afetando mais um olho do que o outro.
Os sintomas variam de acordo com o estágio da doença, sendo o surgimento de erros de refração, como miopia e astigmatismo, barramento da visão, baixa acuidade visual (capacidade dos olhos em distinguir detalhes espaciais), fotofobia e dificuldade de enxergar em ambientes com pouca luz os mais comuns.
Fatores genéticos e o hábito de coçar os olhos estão entre os principais causadores do ceratocone. Sendo assim, o controle desse impulso é o primeiro passo para prevenir a doença. Mas, como a vontade de coçar os olhos tende a estar relacionada a possíveis alergias oculares, rinites alérgicas ou dermatites atópicas, que são alergias sistêmicas do organismo, o tratamento do ceratocone envolve resolver essas causas relacionadas.
Tratamentos e diagnóstico
O ceratocone não tem cura, mas há vários tratamentos disponíveis com o objetivo de prevenir a perda da visão e promover a reabilitação visual. Além do acompanhamento do oftamologista, o tratamento da doença conta com especialistas de outras área, como alergista, pediatra, otorrinolaringologista ou dermatologista, conforme o caso.
“Apesar de ter um componente genético, na maioria dos casos, a alergia ocular é um importante fator de risco, pois a fricção crônica dos olhos pode acelerar a progressão da doença. Por isso, os alérgicos precisam redobrar os cuidados e tratar a patologia para reduzir a coceira dos olhos, além de fazer consultas regulares com o oftalmologista”, explica Rodrigo Santos.
Para diagnosticar o problema, o oftalmologista pode solicitar a topografia de córnea, que estuda a regularidade da superfície; a tomografia de córnea, para verificar a estrutura de forma tridimensional; os estudos biomecânicos da córnea e do wavefront ocular e, eventualmente, o OCT de córnea, para estudar a camada de células epiteliais.
“Estes exames servem para averiguar o estágio da doença. Identificar corretamente o ceratocone possibilita avaliar a evolução e planejar o melhor tratamento para cada caso”, conclui o médico.
Por Raquel Valente
Foto: Dmitry Marchenko/EyeEm/Getty Images
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