Coronavírus 63% das cidades de Goiás não têm respiradores

Unidade de saúde (Foto: Heudes Regis - SEI 1)

Dos 43 municípios com casos da Covid-19 confirmados, 20,93% não possuem o aparelho essencial no tratamento de casos graves da doença...

A busca por aparelhos respiradores para o tratamento de pacientes em situação grave da Covid-19, causada pelo novo coronavírus (Sars-CoV-2), já afeta a necessidade dos municípios goianos, em que prefeitos não conseguem efetuar a compra dos mesmos. Atualmente, de acordo com dados do Cadastro Nacional de Estabelecimentos de Saúde (Cnes), 155 cidades goianas não possuem as máquinas utilizadas para alimentar os pulmões nos casos de deficiência respiratória, ou seja, 63% dos municípios. Nos outros 91 municípios estão localizados 1.715 aparelhos, sendo 1.335 no Sistema Único de Saúde (SUS) e os demais 380 na rede hospitalar privada. Há ainda 43 aparelhos registrados, mas inaptos para o uso.

Além disso, em 36 dos municípios que possuem o respirador há apenas um aparelho para o atendimento de toda a população ou mesmo de toda uma região e em apenas três, sendo eles Goiânia, Aparecida de Goiânia e Anápolis, todos na Região Central do Estado, há mais de cem máquinas. A capital concentra o maior número de respiradores, com 889, sendo 619 utilizados no SUS. Destaque ainda para Rio Verde, com 67 máquinas, e Catalão, com 51. Para se ter uma ideia da situação e sua relação com a pandemia da Covid-19, até o final da tarde desta quinta-feira (16), 43 municípios goianos tinham casos confirmados da doença e, dentre estes, nove não possuem os aparelhos necessários para o tratamento dos casos graves e em outros oito, há apenas um. Por outro lado, em Santa Helena, há 27 respiradores, todos localizados no hospital regional no município, e, até a noite desta quinta-feira (16), não havia caso confirmado da doença.

Nesta semana, o Estado divulgou proposta comercial para a compra de 350 respiradores, que deverão ser destinadas para as regionais de saúde, ou seja, cidades-polo em todas as regiões que devem receber pacientes de todo o entorno. Presidente da Federação Goiana dos Municípios (FGM) e prefeito de Campos Verdes, Haroldo Naves, afirma que as prefeituras do interior têm tentado realizar uma organização mínima para o tratamento dos pacientes com Covid-19 e, dentro disso, está a preparação da estrutura e também aquisição dos respiradores. “Não adianta só o respirador, não dá para colocar um aparelho destes em um Pronto-socorro da Família, por exemplo, pois precisa de um leito de UTI (unidade de terapia intensiva).”

Naves conta que ele mesmo tem feito uma reforma na unidade de saúde do município que administra para conseguir instalar o respirador que adquiriu. “Na minha região só eu que estou tendo. Vou finalizar isso nessa semana e, se outra cidade precisar usar, vamos ver com o Estado como será o acerto”, diz. Até por isso, municípios que não possuem unidade hospitalar, por exemplo, não conseguiriam instalar os respiradores e, logo, não adiantaria a aquisição dos mesmos no momento.

O presidente da FGM diz que os aparelhos adquiridos pelo Estado não deverão ser distribuídos aos municípios que não possuem. “Vão ficar nas regionais mesmo.” Por outro lado, o presidente da FGM afirma que as prefeituras não têm conseguido adquirir os respiradores no momento. “Muitos ficam com medo de comprar agora, porque os preços chegam a ser até quatro vezes mais caros do que o normal e aí os prefeitos temem acusações de superfaturamento. E também muitos fecham negócio, mas não recebem propostas, porque outros lugares pagam mais, é complicado.”

Média de Goiás está abaixo da nacional

Em comparação com os demais Estados e o geral de respiradores existentes e em uso no Brasil por 100 mil habitantes, o Estado de Goiás está abaixo da média nacional. Os dados do Cadastro Nacional de Estabelecimentos de Saúde (Cnes) deste mês apontam que no território goiano há 24,42 aparelhos deste tipo para cada 100 mil habitantes, mas se levar em consideração apenas as máquinas dispostas em leitos do Sistema Único de Saúde (SUS), a média cai para 19. Em todo o País, o índice calculado é de 30,38 respiradores para cada 100 mil brasileiros ou 21,7, se levar em conta apenas os aparelhos da rede pública.

Na relação com outros Estados, Goiás é hoje o 13º em quantidade de aparelhos utilizados para o tratamento de casos graves da Covid-19, mas é o 16º se levar em conta apenas os respiradores dispostos pelo SUS. Quem possui o melhor índice por 100 mil habitantes é o Distrito Federal, com 67,76 no geral e 32,7 na rede pública, seguido por Rio de Janeiro e São Paulo. Caso os 350 novos aparelhos, que ainda estão em fase de aquisição pela Secretaria de Estado de Saúde de Goiás (SES-GO), fossem acrescentados na somatória, o índice por 100 mil habitantes chegaria a 24, passando a média nacional, que subiria a 21,9.

Além disso, o Estado passaria a ser o nono com melhor capacidade de atendimento, tendo em vista a quantidade de aparelhos respiradores, da rede pública nacional. A reportagem não conseguiu, até o final da noite desta quinta-feira, contato com a SES-GO para falar sobre a importância dos respiradores e a política a ser adotada pela secretaria para a expansão dos mesmos. A necessidade de adquirir novas máquinas deste tipo é descrita também no Informe Técnico publicado pelo Instituto Mauro Borges de Estatísticas e Estudos Socioeconômicos (IMB).

O documento, baseado em dados do Cnes de janeiro deste ano, mostra que 52% dos até então 1.285 respiradores estavam na Região Central do Estado, mas que todas as regionais possuíam ao menos um aparelho. O número se refere apenas às máquinas dos leitos SUS. “Quanto aos respiradores em referência, a proporção de dois leitos de UTI por um respirador, os padrões são atendidos. Contudo, o papel do equipamento respirador é essencial ao combate da Covid-19 em casos graves”, informa o estudo.

No geral, de janeiro até abril, outros 41 respiradores foram cadastrados em Goiás, mas que a rede pública recebeu 50 aparelhos, ou seja, 9 da rede privada foram desativados neste ano. O IMB entende que “a Covid-19 é uma nova doença que está aumentando a demanda pelo SUS, e por suas características de disseminação, espera-se que ocorra um aumento exponencial no número de casos, e com isso a procura pelo SUS”. Assim, é necessária uma ampliação da capacidade de atendimento, sobretudo dos leitos de UTI para o paciente adulto. “Porém, estas ampliações necessitam de equipamentos específicos, tais como: leitos; equipamento respiradores/ventiladores hospitalar; e outros, além de equipes para operar a infraestrutura”, conforme conclui o estudo.

Fonte: O Popular
Jornalismo Portal Panorama
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