Ivana Andrade, de 32 anos, apresenta sintomas desde a infância, mas só conseguiu diagnóstico recente (Foto: Wildes Barbosa)

Doença geralmente se instala após episódio de gripe, sinusite ou outro processo infeccioso. Pacientes que tiveram Covid-19 também podem apresentar sintomas.

Um cansaço que vai muito além de uma noite de sono mal dormida, que não melhora com repouso e que pode persistir por seis meses ou por toda a vida. Dores musculares, dor em múltiplas articulações mesmo sem sinais inflamatórios, dor de cabeça, fraqueza, comprometimento da memória e da concentração. Estes são alguns dos sintomas da Síndrome da Fadiga Crônica (SFC) que pode ocorrer após um episódio de gripe, sinusite, e até Covid-19. Sem exames laboratoriais que comprovem diagnóstico, a descoberta pode demorar a acontecer já que diversas outras doenças precisam ser descartadas.

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O cansaço é um dos principais sintomas apresentador nas consultas rotineiras em clínicos gerais. Entre as possibilidades, geralmente são analisadas: doenças cardiovasculares, autoimunes, pulmonares, endócrinas, musculares, neurológicas além de obesidade, depressão, uso excessivo de álcool ou outras drogas e tumores malignos. Acontece que em alguns casos, mesmo com diagnósticos negativos para todos os itens acima, as dores e o cansaço podem continuar.

Ivana Andrade, de 32 anos, conta que desde criança sentia um cansaço físico muito extremo, como se o pescoço fosse pesado demais. A mãe conta que sempre que saiam de casa, ela pedia para deitar no colo e mesmo em viagens ou passeios, se cansava depressa e pedia pra ficar deitada. Aos 12 anos começou a apresentar problemas na escola e foi aí que aconteceram as primeiras consultas com psiquiatras. Os primeiros diagnósticos: depressão, ansiedade, pernas inquietas, déficit de atenção. “Tive alguns episódios em que mal conseguia levantar da cama por meses e sempre vinculavam à depressão ou ansiedade”

Em 2017, trabalhava com fotografia e estava concluindo um curso de Direito. Ela també fazia design e nas férias foi ao Rio de Janeiro para uma consulta em um tratamento psiquiátrico Lá, teve um quadro extremo de exaustão acompanhado de sudorese e indisposição gastrointestinal. A princípio achou que seria uma intoxicação alimentar, mas quando voltou para Goiânia não teve melhoras. Passou cerca de quatro meses sem conseguir levantar da cama e aí começou uma peregrinação por médicos diversos. Mais de 10 profissionais foram consultados até que um retirou todas as medicações e falou sobre a possibilidade do diagnóstico de SFC.

“Ele disse que ele se depara com casos como o meu diariamente e que ainda não existia um protocolo específico e que em função da distância ficaria difícil me dar a devida assistência. Mesmo assim, ele se dispôs a conversar com os meus médicos e ajudou naquilo que ele pôde. Uma das maiores dificuldades que eu tive em todos esses anos é encontrar alguém que acredite na doença, para além disso, é preciso encontrar quem queira trabalhar em uma perspectiva multidisciplinar. Somos mais de 20 milhões de pessoas no mundo, a maioria sem chegar a um diagnóstico preciso e sendo tratados equivocadamente.”, explica Ivana.

Diversos nomes

A SFC também é conhecida por outros nomes como: Encefalomielite Miálgica (ME), Doença da Disfunção Imune e Síndrome de Intolerância à Atividade Física. A condição passou a constar na lista de Classificação Internacional de Doenças (CID 10) no fim da década de 1980. Dessa forma, deixou de ser vista como um distúrbio psicológico para ser classificada como síndrome.

Covid X SFC

Diretor científico da Sociedade Goiana de Reumatologia (SGR) e membro da comissão de dor, fibromialgia e outros reumatismos de partes moles da sociedade brasileira de reumatologia (SBR), Rafael Navarrete explica que de forma geral os casos não são comuns e atingem entre 1% e 2% da população geral. Apesar disso, pontua que nos casos associados à Covid-19 há relatos na literatura da incidência entre 15% e 50%.

“A pandemia do coronavírus resultou em uma população crescente de indivíduos com complicações das mais variadas formas (física, mental ou ambos). Mesmo aqueles com as chamadas formas leves da doença experimentaram algum comprometimento em seu organismo. Uma das complicações observadas na reumatologia foi a associação durante ou após a infecção aguda por Covid-19 com a chamada Síndrome da Fadiga Crônica, especialmente naqueles que permaneceram um tempo maior internados e em Unidades de Terapia Intensiva (UTI)”, completa.

O reumatologista, que também professor na Pontifícia Universidade Católica de Goiás (PUC-GO) diz que nos exames físicos, os músculos, embora estejam cansados, apresentam força muscular normal. O início, segundo ele, pode ser repentino mas também acontece de forma gradual, ao longo de meses e pode haver alterações cognitivas.

Como surge?

A Sociedade Brasileira de Reumatologia (SBR) afirma que na maioria das vezes a causa é desconhecida, mas infecções e fatores psicológicos podem desencadear o início dos sintomas. Embora o maior número de registros sejam em mulheres, também há confirmações em homens e crianças. A idade predominante, entretanto engloba pacientes de 20 a 50 anos.

Sintomas

O critério estabelecido pelo International Chronic Fatique Syndrome Study Group para que o diagnóstico seja definido é: todo paciente com fadiga persistente, inexplicável por outras doenças que apresentem pelo menos quatro sintomas (dos listados logo abaixo), por pelo menos seis meses:

  • Dor de garganta;
  • Gânglios inflamados e dolorosos;
  • Dores musculares;
  • Dor em múltiplas articulações, sem sinais inflamatórios (vermelhidão e inchaço);
  • Cefaleia com características diferentes das anteriores;
  • Comprometimento substancial da memória recente ou da concentração;
  • Sono que não repousa;
  • Fraqueza intensa que persiste por mais de 24 horas depois da atividade física.

Documentário na Netflilx

Lançado em 2017, o documentário ‘Unrest’ está disponível na Netflix e conta a história de uma estudante de 28 anos que cursa doutorado em Harvard e registra sua própria luta contra a síndrome de fadiga crônica. A protagonista e diretora do documentário, Jennifer Brea foi inicialmente diagnosticada, de forma errônea, com transtorno de conversão. Tentando entender o que havia de errado com o próprio corpo, ela começou a gravar os momentos em que não conseguia andar e assim começou a produção de ‘Unrest’.

Tratamento

Não há um tratamento específico para a síndrome, mas de forma geral é feito o controle dos sintomas a fim de garantir uma melhor qualidade de vida dos pacientes. A Sociedade Brasileira de Reumatologia também lista uma combinação de possibilidades:

  • Moderação para as atividades diárias: o paciente deve reorganizar seu cotidiano, evitando o estresse físico e psicológico. Entretanto, o sedentarismo deve ser combatido.
  • Tratamento da depressão e ansiedade: caso esteja presente deve ser tratada. Os antidepressivos também podem ajudar a melhorar o sono e aliviar a dor.
  • Tratamento da dor.
  • Tratamento dos problemas de sono.
  • Outros tratamentos úteis: acupuntura, meditação, técnicas de relaxamento, alongamentos, ioga e tai chi.

Há alerta, entretanto para a oferta de tratamentos tido como milagrosos ou naturais que não são seguros e /ou comprovados cientificamente. A indicação é que seja feita uma consulta com médico de confiança.

Fonte: O Popular
Foto: Wildes Barbosa
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