Acidente que matou policiais do COD: júri é anulado, e mãe de acusado denuncia “desumanização” durante julgamento
“Não somos monstros.” Com essa afirmação, Andreza Aparecida Paniagua, mãe de Jhonatan Murilo Leite, reagiu às acusações contra o filho, apontado como responsável pelo acidente que matou quatro policiais do Comando de Operações de Divisas (COD) na BR-364, em Cachoeira Alta, no Sudoeste goiano. O caso ganhou novo desdobramento na quarta-feira (17), quando o juiz anulou o júri popular após identificar um erro cometido por uma jurada durante a votação.
Para acompanhar o julgamento, Andreza saiu de Bebedouro, no interior de São Paulo, e seguiu até Rio Verde. Em seguida, ela pegou um ônibus para Cachoeira Alta. Segundo a mãe, ao longo das cerca de 19 horas de sessão, a acusação apresentou seu filho de forma desumanizada diante do Conselho de Sentença.
Além disso, Andreza afirmou que o Ministério Público utilizou argumentos que considerou excessivos. De acordo com ela, a promotoria interpretou tatuagens e comportamentos do réu para reforçar uma imagem negativa, o que, na avaliação da mãe, distorceu a realidade dos fatos.
Pressão e hostilidade durante o julgamento
Durante o julgamento, Andreza relatou episódios de pressão no plenário. Segundo ela, algumas pessoas gritavam que seu filho já estaria condenado. Ainda conforme o relato, diziam que Jhonatan receberia uma pena superior a 40 anos de prisão.
Diante desse cenário, a mãe afirmou que o discurso da acusação fez parecer que o filho seria uma “máquina mortífera”. No entanto, ela contesta essa versão e reforça que Jhonatan enfrenta fortes abalos emocionais desde o acidente. Atualmente, ele passa por acompanhamento psicológico dentro da unidade prisional, justamente por causa do trauma.
Ao mesmo tempo, Andreza disse sentir profunda dor pelas mortes dos policiais. Segundo ela, a família reconhece a gravidade do ocorrido. Inclusive, afirmou ter desejado conversar com os familiares das vítimas para expressar solidariedade. “Somos seres humanos”, declarou.
Questionamento sobre presença de criança no plenário
Outro ponto mencionado por Andreza foi o questionamento da promotoria sobre a presença de seu neto, de dois anos, no plenário do júri. A criança possui diagnóstico de autismo. Conforme explicou, a família levou o menino ao local por necessidade logística, e não como parte de qualquer estratégia da defesa.
Quando questionada sobre as expectativas para um novo julgamento, Andreza afirmou confiar na absolvição do filho. Segundo ela, as provas reunidas no processo sustentam essa tese. “Perícias e testemunhas afirmaram que ele não invadiu a pista”, disse. Além disso, destacou que Jhonatan nunca teve passagem pela polícia ou histórico de problemas com a Justiça.
Júri é anulado após falha na votação
O juiz Filipe Luis Peruca decidiu anular o julgamento após perceber que uma jurada embaralhava as cédulas antes de depositá-las na urna. Ao ser questionada, a jurada informou que participava de seu primeiro júri e admitiu não ter expressado sua convicção de forma consciente, votando aleatoriamente.
Diante da irregularidade, o Ministério Público solicitou a dissolução do Conselho de Sentença. O magistrado acolheu o pedido e destacou que a legislação exige que o voto do jurado seja direto, pessoal e consciente. Assim, o juiz determinou a anulação do júri.
Detalhes do acidente na BR-364
O acidente ocorreu na noite de 24 de abril de 2024. Um caminhão carregado com aproximadamente 70 toneladas de milho colidiu de frente com uma viatura do COD, na BR-364, em Cachoeira Alta. As vítimas foram o subtenente Gleidson Rosalen Abib, o 1º sargento Liziano José Ribeiro Junior, o 3º sargento Anderson Kimberly Dourado de Queiroz e o cabo Diego Silva de Freitas.
Inicialmente, outro homem assumiu a direção do caminhão. Contudo, testemunhas confirmaram que Jhonatan Murilo Leite conduzia o veículo no momento da colisão. Além disso, a investigação apontou que ele não possuía a categoria adequada na Carteira Nacional de Habilitação (CNH).
A perícia concluiu que o caminhão trafegava acima da velocidade permitida e invadiu a pista contrária. Marcas de frenagem de cerca de 30 metros reforçaram essa versão. Para o promotor Geibson Cândido Martins Rezende, do Ministério Público de Goiás (MPGO), o motorista tinha plena ciência dos riscos e ignorou as normas de trânsito.
Por outro lado, a defesa sustenta que Jhonatan dirigia em velocidade compatível e que a colisão ocorreu após uma tentativa de ultrapassagem da viatura. Entretanto, um laudo técnico anexado ao processo contradiz essa versão. O caso segue sem data definida para novo julgamento.
Por Gessica Vieira
Foto: Reprodução
Jornalismo Portal Pn7
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