Da redação do Portal Panorama
Foto: Arquivo Pn7
O Grupo de Eletricidade Atmosférica do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Elat/Inpe) lançou recentemente uma cartilha voltada para a prevenção de acidentes causados por descargas elétricas durante tempestades. Este esforço se torna crucial diante do significativo aumento registrado no número de raios atingindo o estado de Goiás em 2023.
De acordo com o instituto, entre janeiro e outubro deste ano, foram contabilizados mais de 10 milhões de raios em Goiás, quase o dobro do mesmo período em 2022, quando foram registrados pouco mais de 6 milhões de descargas elétricas.
O aumento alarmante na incidência de raios é um fenômeno que, segundo o Inpe, deverá persistir, projetando um crescimento de 40% até o final do século no Brasil.
Para compreender melhor como se proteger, o professor de física George Fontenelle Costa explicou o funcionamento dos para-raios na contenção das descargas elétricas, além de fornecer valiosas dicas de segurança.
Os estragos causados por raios próximos a residências também foram abordados pelo professor. Ele alerta que, sem a presença de para-raios, o fluxo inverso da descarga pode resultar em danos severos, como o estouro de tomadas e avarias em televisores e outros eletrodomésticos.
“Onde cair vai espalhar a carga e com um bom condutor que, no caso, é o fio de cobre da residência, ela vai por esse condutor. Como a carga é de milhões de volts, ela vai estourar tudo por onde ela passar”, destacou Fontenelle.
Cuidado, mesmo com para-raios
É essencial compreender que os para-raios têm como função principal proteger a estrutura das edificações. Entretanto, quando um raio atinge o sistema de proteção em prédios, correntes elétricas são induzidas por toda a fiação, apresentando riscos aos ocupantes. Portanto, é crucial evitar contato com a rede elétrica e telefônica durante uma tempestade, inclusive em edifícios equipados com para-raios.
“Esse é o primeiro sistema de proteção que você tem. O ideal é que, se estiver em uma região com incidência de raio muito grande, você instale um sistema de para-raios. O para-raios joga essa carga que ele recebe para o chão, porque a terra tende a neutralizar qualquer corpo”, explicou o professor.
Contudo, Fontenelle ressalta que mesmo em locais próximos a prédios com sistemas de proteção, não há garantia total de segurança. “Não existe proteção 100%. Sempre vai ter um risco de ocorrer uma descarga elétrica na região, mesmo próximo de um prédio, mesmo tendo o melhor sistema de proteção. O que vai ter é uma probabilidade cada vez menor”, pontuou.
Carro é o melhor abrigo
Segundo o professor, os veículos se destacam como os locais mais seguros para se proteger de uma descarga elétrica. O carro, sendo uma espécie de caixa metálica fechada, funciona como o isolante perfeito contra eletricidade.
“O carro é o melhor elemento de proteção porque é um metal fechado que provoca um campo elétrico interno zero, então não tem como entrar qualquer excesso de carga para dentro do veículo. A pessoa lá dentro vai estar protegida quanto ao raio”, explicou.
Apesar disso, Fontenelle faz um alerta para o risco de incêndio. “É um outro problema. Mas depois que a carga elétrica cair, caso incendeie, aí você sai do carro”, ressalta.
Cartilha do INPE
A cartilha elaborada pelo Elat/Inpe traz recomendações essenciais para a população durante tempestades. A principal delas é evitar sair para a rua, a menos que seja absolutamente necessário. Em caso de necessidade, a cartilha instrui a procurar abrigo em locais seguros, como carros não conversíveis, ônibus ou outros veículos metálicos não conversíveis, moradias ou prédios com proteção contra raios, abrigos subterrâneos, como metrôs ou túneis, grandes construções com estruturas metálicas, barcos ou navios metálicos fechados.
Mesmo dentro de casa, a atenção deve ser redobrada para evitar acidentes. O uso de telefone com fio ou celular ligado à rede elétrica deve ser evitado, assim como ficar próximo de tomadas e canos, janelas e portas metálicas, tocar em qualquer equipamento elétrico ligado à rede elétrica, utilizar equipamentos elétricos ligados à rede elétrica ou ficar perto de tomadas, tomar banho em chuveiro elétrico e ficar próximo à rede hidráulica (torneiras e canos).
Em ambientes externos, recomenda-se evitar atividades como jogar futebol, caminhar em áreas descampadas, subir em locais altos, segurar objetos metálicos longos, empinar pipas e aeromodelos com fio, entre outras.
A cartilha ainda destaca locais perigosos durante tempestades, como topos de morros, áreas abertas, campos de futebol, estacionamentos abertos, proximidade de cercas de arame, estruturas altas como torres e linhas telefônicas, e locais sem proteção contra raios, como pequenas construções não protegidas e veículos sem capota.
Fique atento aos sentidos
O professor Fontenelle ressalta que, caso esteja em um local sem abrigo próximo e sinta pelos arrepiados ou coceira na pele, isso pode indicar a proximidade de um raio. Nesse caso, a recomendação é ajoelhar-se e curvar-se para frente, colocando as mãos nos joelhos e a cabeça entre eles. Não permanecer deitado é crucial.
Curiosidade sobre os pets
A cartilha ainda aborda a fobia de tempestades em cães, explicando que, nos casos mais graves, os animais podem entrar em pânico, roer móveis, chorar e quebrar janelas. A origem dessa fobia, no entanto, ainda não é totalmente conhecida.