Dado diz respeito a 2ª dose. Cobertura da 1ª dose é de 41,16%. O ideal é acima de 80%. Negacionismo e tabu explicam cenário alarmante.

A cobertura vacinal contra o papilomavírus humano (HPV) em meninos está em apenas 22,84% em Goiás. O número considera quem tomou duas doses da vacina em 2023. Levando em conta somente a primeira dose, a cobertura é de 41,16%. O ideal é que ela fique acima de 80%. A vacinação contra o HPV foi incluída no calendário nacional de vacinação com o objetivo de prevenir o câncer do colo do útero associado à infecção pelo vírus. O cenário é considerado alarmante, já que a falta de vacinação dos meninos afeta diretamente as meninas. Especialistas percebem resistência à vacinação ligada ao negacionismo e tabu.

Desde 2017, quando a vacina contra o HPV começou a ser ofertada para meninos pelo Sistema Único de Saúde (SUS), Goiás nunca apresentou cobertura vacinal acima de 55% em nenhuma das doses (veja quadro). Entre as meninas, que tiveram a vacinação contra o vírus iniciada em 2014, a cobertura é melhor. Em 2023, 67,46% do público-alvo já recebeu a primeira dose e 49,44% a segunda dose. Entretanto, em anos anteriores, como 2017, 90,52% das meninas chegaram a tomar a primeira dose e 58,06% a segunda dose. Atualmente, o público-alvo são meninas e meninas com idade entre 9 e 14 anos.

O urologista Pedro Junqueira explica que percebe alguns pais reticentes em vacinar os filhos, principalmente depois da campanha de vacinação contra a Covid-19, que sofreu com uma série de ataques ligados a notícias falsas sobre a eficácia e segurança dos imunizantes. Outro ponto considerado importante por ele é que como o HPV é um vírus de transmissão sexual, algumas pessoas associam a vacinação contra a doença a um incentivo para o início da vida sexual.

“Os pais pensam que estão estimulando. Na verdade, a vacinação é só uma proteção para essas pessoas, que vão se tornar adultas em algum momento. É preciso ter visão a longo prazo”, destaca. Nesse sentido, ele aponta a importância da vacinação dos homens, já que eles podem passar o vírus para as mulheres. “Se eles não se vacinarem, as chances de transmitirem a doença para mulheres aumentam”, pondera Junqueira.

Nas mulheres, o HPV pode causar câncer do colo do útero e levá-las à morte. De acordo com o painel de oncologia da Secretaria de Estado de Saúde de Goiás (SES-GO), o câncer do colo do útero é o quarto que mais mata mulheres no estado. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), dois tipos de HPV (16 e 18) causam 70% dos cânceres do colo do útero e lesões pré-cancerosas. O SUS oferece a vacina HPV quadrivalente, que protege contra quatro tipos diferentes de HPV: 6, 11, 16 e 18.

Nos homens, na maioria das vezes, o HPV ocasiona lesões no pênis. “Elas também merecem atenção, pois afetam diretamente a autoestima. Essas lesões também aumentam a chance do homem pegar outras infecções. Além disso, temos o HPV no ânus, que pode aumentar a chance de câncer colorretal”, esclarece Junqueira.

Contramão

Na contramão de quem optou não vacinar os filhos contra a doença está a professora de dança e produtora cultural Cinara dos Santos Santana, de 42 anos. Tanto o filho, de 14 anos, quanto a filha, de 16, foram protegidos contra a doença ainda em 2021. “Decidi vaciná-los porque tenho uma amiga que adquiriu o HPV e mesmo não tendo desenvolvido o câncer, teve uma série de problemas de saúde em decorrência do vírus. Isso me marcou profundamente. Por isso, quis que eles ficassem protegidos contra a doença.”

Ela classifica como totalmente equivocado o discurso de que a vacinação contra o HPV pode estimular a vida sexual precoce. “Não é uma vacina que irá induzir as crianças ao sexo precoce. As redes sociais, a internet no geral, induz muito mais, visto que encontramos de tudo nas redes e se os pais não monitoram seus filhos, eles têm muito mais chance de serem influenciados por determinados conteúdos”, avalia.

Calendário vacinal

A superintendente de Vigilância em Saúde da SES-GO, Flúvia Amorim, destaca que a pasta ficou positivamente surpresa com a procura pela vacina contra o HPV na última Campanha de Multivacinação. Reportagem do POPULAR publicada em 9 de outubro deste ano mostrou que a HPV quadrivalente e a Pfizer Pediátrica, que protege crianças contra a Covid-19, foram as vacinas mais procuradas durante o ‘Dia D’ da Campanha de Multivacinação em Goiânia.

Flúvia acredita que o aumento da procura se deu por conta das estratégias adotadas pela pasta para tentar se aproximar do público mais jovem e comunicar a importância da vacinação. Em 2023, Zé Gotinha e o DJ de eletrofunk Jiraya Uai foram as estrelas da divulgação da Campanha de Multivacinação em Goiás. “Estamos sempre reforçando as estratégias ‘extramuro’. É a recomendação do Ministério da Saúde. Em 2015, tivemos um grande sucesso indo até as escolas”, comenta a superintendente.

Em relação especificamente à HPV, Flúvia enfatiza que o trabalho da SES-GO é voltado para desmistificar percepções equivocadas da população em relação à vacinação. “A ideia de vacinar o pré-adolescente é justamente fazer com que ele chegue na fase adulta protegido. É sobre proteger as mulheres do câncer do colo do útero. Imagina que maravilha se tivéssemos vacinas assim para outros tipos de câncer”, finaliza Flúvia.

Por Mariana Carneiro
Foto: Wesley Costa
Jornalismo Portal Panorama
panorama.not.br

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