Quando começamos a executar o calendário de vacinas de uma criança, já sabemos que serão meses de atenção e acompanhamento. Isso porque, para cada imunizante, há um esquema diferente tanto no número de doses como no intervalo entre elas para que os efeitos no sistema imunológico sejam satisfatórios.
Com as novas vacinas contra o novo coronavírus (Sars-CoV-2) isso também acontece. As vacinas atualmente disponíveis no Brasil —CoronaVac, Oxford/AstraZeneca e Pfizer— preveem duas doses em intervalos diferentes para alcançar a tão desejada imunidade contra o patógeno.
Mas por que o intervalo da vacina inglesa é maior? E o que determina esse tempo?
Estudos clínicos dão o norte
Tanto a vacina de Oxford como a CoronaVac escolheram como regime vacinal a aplicação de duas doses —um esquema chamado de primário.
“É essa a quantidade de estímulo necessária para o organismo desenvolver uma resposta imunológica satisfatória com a tecnologia que esses imunizantes usam”, afirma Socorro Martins, presidente do Comitê de Imunizações da Sociedade Paraibana de Pediatria e membro do Departamento Científico de Imunizações da SBP (Sociedade Brasileira de Pediatria).
É importante dizer que nenhuma das orientações é feita ao acaso. Tanto a vacina de Oxford como as outras têm recomendações de intervalos entre a primeira e a segunda dose com base em estudos clínicos feitos durante o desenvolvimento da vacina.
Assim, quando os testes clínicos são iniciados, os laboratórios fazem a opção por analisar alguns cenários específicos para avaliar a resposta do organismo. Com a vacina britânica, optou-se por acompanhar a resposta imunológica após um mês e três meses de aplicação da segunda dose.
“O resultado foi que, em um espaço maior de tempo, a resposta do organismo foi melhor”, afirma Natália Pasternak, doutora em microbiologia e presidente do Instituto Questão de Ciência.
Esse dado acabou sendo publicado em um estudo apresentado no periódico The Lancet. O documento mostrou que, entre o 22º e 90º dia após a aplicação da primeira dose, a eficácia da vacina ficou em 76%; mantendo-se o intervalo de três meses de aplicação, a eficácia é de 82,4%.
Com esses dados em mãos, e pensando que há uma escassez de vacina no país, a orientação foi esperar mais tempo para tomar a segunda dose. “Com um intervalo maior, temos tempo para produzir mais vacinas enquanto seguimos com o plano de imunização”, afirma Pasternak.
E as reações adversas?
Algumas pessoas têm apresentado resistência em tomar a vacina de Oxford por medo das notícias recentes de que o imunizante provocaria coágulos no corpo.
De acordo com Renato Kfouri, diretor da SBIm (Sociedade Brasileira de Imunizações), é importante esclarecer que esse efeito adverso é extremamente raro. “No universo dos milhões de doses que já foram aplicadas no mundo todo, os casos relatados foram poucos”, afirma.
Segundo ele, a trombose relatada após a aplicação da vacina é diferente da trombose clássica que conhecemos. “A vacina seria como um gatilho para uma doença autoimune, que a pessoa já possui, mas desconhece, e que provoca uma queda no número de plaquetas no sangue, aumentando o risco para o surgimento de trombos”, afirma o especialista.
Ou seja, enquanto a trombose clássica tem como uma das características a contagem alta no número de plaquetas (o que aumenta o risco de coágulos no organismo), a trombose no caso de quem tomou a vacina tem como característica uma queda no número de plaquetas.
Ele ainda reforça que mesmo as pessoas que já tiveram trombose podem tomar a vacina, já que, pela natureza rara e diversa da reação, esses indivíduos não estariam mais predispostos ao problema.
“A segurança das vacinas contra o coronavírus é semelhante às outras vacinas com as quais estamos acostumados”, afirma. “Sempre existem riscos, mas os benefícios, o número de mortes que serão evitadas, superam o número de eventos adversos relatados até aqui”, acredita.
No geral, as reações comuns e esperadas são dor de cabeça, cansaço, febre, dor e vermelhidão no local da aplicação. No caso da vacina de Oxford, os eventos adversos considerados raros (ou seja, que não acontecem com frequência) incluem a trombose e o choque anafilático.
Por Danielle Sanches
Foto Capa: Vânia Santana – Portal Panorama
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