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Antonio Soares Neto, o Toniquinho de Jataí (Foto: Marcello Dantas/O Popular)

Antonio Soares Neto questionou Juscelino Kubitschek se ele mudaria a capital do Brasil para o interior do País, caso fosse eleito presidente

O funcionário do Fisco estadual, Antonio Soares Neto, 94 anos, conhecido como Toniquinho JK, morreu nesta quinta-feira (21), em Goiânia. Ele estava internado no Hospital do Coração de Goiás, no Setor Oeste, desde a noite de quarta-feira (20).

Toniquinho JK mudou a história do País quando questionou o então candidato à Presidência da República, o ex-governador mineiro Juscelino Kubitschek em um comício em Jataí, em de abril 1955.  “Já que Vossa Excelência anuncia o propósito de cumprir a Constituição, queria saber se, eleito fosse, construiria a capital do Brasil no Planalto Central?”, indagou Toniquinho, na época com 29 anos.

Toniquinho, que morava há mais de 40 anos em Goiânia, deixa a mulher, Nelita Vilela, cinco filhos, netos e bisnetos.

O ex-governador Maguito Vilela disse que Toniquinho era a última testemunha da história em torno da transferência da capital. “Todas as outras pessoas que estiveram presentes neste processo já morreram. O ex-presidente JK, a esposa dele e tantos outros se foram. Agora perdemos também a última testemunha deste marco”, disse.

“Era uma pessoa muito prestigiada, recebeu inúmeras homenagens ao longo da vida, era cumpadre de JK. Ele e o presidente ficaram amigos depois da célebre pergunta”, contou o ex-governador Maguito Vilela (MDB), cunhado de Toniquinho.

Maguito ressaltou ainda que a família está bastante abalada com a notícia. “Ele era muito querido. É uma pessoa que já foi homenageada muitas vezes em todo o Brasil. É uma perda muito difícil e triste”.

O velório será realizado no saguão da Câmara Municipal de Jataí, a partir das 21h30min. O sepultamento acontecerá amanhã, no cemitério São Miguel, em horário a ser confirmado.

Toniquinho de Jataí

“Já que Vossa Excelência está anunciando o propósito de cumprir integralmente a Constituição, queria saber se, eleito fosse, construiria a capital do Brasil no Planalto Central, conforme nela consta.” Lá do meio da multidão, a voz se levantou. Lá em cima do palanque, o candidato a presidente estacou. E agora, o que responder? Dizer que não construiria e desmentir-se na frente do povo sobre uma promessa que acabara de assumir? Ou manter-se firme e encarar um dos maiores desafios que um chefe da nação poderia enfrentar em seu mandato?

Os destinos de Antônio Soares Neto, um jovem que acabara de se formar em Direito, e Juscelino Kubitschek de Oliveira, o ex-governador de Minas Gerais que se propunha a administrar o Brasil, se encontraram no dia 4 de abril de 1955. JK viera a Goiás abrir oficialmente sua campanha à Presidência da República e escolheu Jataí para sediar o primeiro comício. “Todos discursaram e depois houve o momento em que ele abriu as perguntas para o povo. Por uma inspiração feliz, acredito eu, resolvi fazer a pergunta”, relata Antônio, conhecido como Toniquinho de Jataí.

“Eu havia acabado de estudar Direito aqui em Goiânia e havia lido muito a Constituição. Resolvi então perguntar sobre a transferência da capital, que estava prevista na lei. Quando fiz a pergunta, percebi que Juscelino se assustou, ficou meio surpreendido. Mas logo depois ele respondeu que sim, que daquele momento em diante a construção da nova capital seria um de seus objetivos principais, caso fosse eleito”, recorda Toniquinho, hoje com 92 anos de idade. JK, sempre que podia, relatava essa história, ainda que historiadores relativizem a importância do episódio ocorrido em Jataí.

No livro Brasília Kubitschek de Oliveira, o historiador Ronaldo Costa Couto sugere que JK já havia tomado a decisão de transferir a capital para o centro do País antes de chegar a Jataí. A ideia já estaria entre as cogitações de Juscelino quando ele foi deputado constituinte em 1946. A Carta Magna que sai desse parlamento é a que estabelece que a transferência, planejada desde os primeiros anos da República, quando para cá veio a Missão Cruls, com o objetivo de delimitar o quadrilátero em que seria situado o Distrito Federal, era uma obrigação constitucional.

Os então constituintes JK e Israel Pinheiro (que comandaria as obras de Brasília), além de parlamentares goianos (entre os quais estava Pedro Ludovico), teriam articulado a inclusão da exigência dessa transferência na Constituição, mas sem estabelecer prazos. Juscelino assumiu essa missão como candidato e a designou como “meta-síntese”, dentro de seu conhecido Programa de Metas. Foi uma decisão ousada e que teria deixado seus próprios aliados surpresos e desconfortáveis, já que eles mesmos desconfiavam que aquela atitude afundaria o governo.

O ex-presidente, porém, sempre referendava a versão de Toniquinho, de que teria sido a pergunta em Jataí que mudara seu programa de governo, nunca tendo confirmando a hipótese de que anunciaria a mudança do centro do poder federal independentemente do que aconteceu no comício em Jataí. “No dia da inauguração de Brasília, eu fui e me apresentei a JK, lembrando-o sobre a pergunta que fiz. Ele me chamou para cima do palanque, me recebeu muito bem e eu o acompanhei em várias solenidades da inauguração”, recorda Toniquinho.

Funcionário do Fisco estadual, Toniquinho, que nasceu em Jataí, tornou-se uma espécie de celebridade nacional com o ocorrido. Quando JK foi candidato a senador por Goiás, eles se reencontraram. “Eu me tornei seu cabo eleitoral. E com muito orgulho”, atesta. “Juscelino era um homem humilde, havia nascido em uma família pobre e sabia o que era enfrentar dificuldades. Eu só guardo lembranças boas dele, não só daquele dia em Jataí”, garante Toniquinho, pai de 5 filhos e avô de…. “Ih, já passam dos 10 netos. Eu ia precisar contar”, admite o avô que fez história.

Do O Popular

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