Doença é caracterizada pelo acúmulo excessivo de gordura nas pernas e, em alguns casos, nos braços.

Uma dor e inchaço repentinos no tornozelo se assemelhavam tanto a uma torção que levou a analista de mídias sociais Denise Gonçalves Soares, de 35 anos, ao pronto-socorro, onde precisou fazer um raio-X. O exame não apontou nada, então outras suspeitas, como a de trombose, passaram a ser investigadas pelos médicos. Sem sucesso. Foi por intermédio das redes sociais de uma influenciadora que ela ouviu pela primeira vez sobre a condição causadora de suas dores e desconfortos: o lipedema, doença vascular crônica que mesmo atingindo 1 em cada 10 mulheres no Brasil ainda é pouco falada.

Os primeiros sintomas foram percebidos em 2019. Ao longo dos anos, os inchaços e dores se tornaram cada vez mais constantes, interferindo diretamente no dia a dia de Denise. “Também tinha uma sensação de peso e cansaço nas pernas. Pensava que era por causa da minha rotina agitada, já que eu trabalho de segunda a segunda”, conta. Quando a frequência dos sintomas aumentou, ela notou sinais que nem imaginava que estavam interligados, mesmo que fizesse acompanhamento nutricional e praticasse atividade física regularmente. “Notei o surgimento de celulite nas pernas, que antes não tinha mesmo acima do peso, e também dificuldade de eliminar gordura e ganhar massa magra”, conta.

Foram alguns anos convivendo com os sintomas até receber o diagnóstico. “Cheguei a pedir para a ginecologista trocar o anticoncepcional, achando que poderia ser a causa”, lembra. Em uma crise de dores nas pernas em novembro de 2023, ela se consultou com um cirurgião vascular por indicação da irmã. Após uma série de exames, foi constatada fraqueza e refluxo em todas as safenas e varizes internas, além do lipedema.

Desinformação

A empresária e modelo Yasmin Brunet contou no programa Encontro (Globo) que recebeu seu diagnóstico de lipedema logo antes de entrar na casa do BBB 24. “Lá ficou horrível, eu sentia muita dor e desconforto, minhas pernas e tornozelos ficaram gigantes. Quando saí, encontrei um médico incrível que está me ajudando muito”, contou na ocasião.

A youtuber Karen Bachini, de 32 anos, contou recentemente que recebeu o mesmo diagnóstico após muitos anos investigando os motivos para suas pernas estarem sempre muito inchadas, inflamadas e com dores, além da questão estética que a incomodava. “Sempre busquei uma solução para as minhas pernas e todo mundo dizia que eu era preguiçosa. Mas quando eu malho, minha parte de cima trinca e a gordura que tenho nas pernas e joelho nem se mexe”, contou em um vídeo.

Ainda que seja uma condição comum, o assunto ainda é pouco conhecido e abordado. “O lipedema é muito mais frequente do que a gente imagina, atingindo em média de 10 a 12% das mulheres brasileiras”, aponta o cirurgião vascular Frederico Gomes. Estima-se, ainda, que 11% das mulheres tenham lipedema em todo o mundo, o que significa quase 500 milhões de pessoas. Em Goiás, esse número pode chegar a 250 mil pessoas.

Trata-se de uma doença vascular crônica caracterizada pelo aumento desproporcional de gordura nas pernas e algumas vezes nos braços, provocando dor e outros sintomas na região afetada. As causas são genéticas e a doença atinge principalmente as mulheres em idade reprodutiva. “As raízes desse acúmulo de gordura estão relacionadas a uma inflamação crônica, que muitas vezes tem relação com intolerâncias alimentares não diagnosticadas, alterações hormonais, gravidez e menopausa”, explica o especialista.

O atraso no diagnóstico não é algo incomum quando se trata de doenças que atingem mulheres. No caso do lipedema, Frederico explica que, mesmo que o primeiro diagnóstico tenha sido feito em 1940, a doença continuou sendo pouco difundida até meados de 2018, só entrando para a Classificação Internacional de Doenças (CID) em 2022. Como consequência, havia poucos estudos e literatura científica sobre o assunto. O grande número de casos que vêm “surgindo”, portanto, são apenas o resultado da doença estar ganhando a devida atenção.

Impactos

Mesmo que a doença seja confundida com obesidade e sobrepeso em muitos dos casos, o acúmulo de gordura causado pelo lipedema é resistente à dieta e ao exercício físico, não diminuindo com a perda de peso da pessoa afetada, explica o cirurgião plástico Ícaro Samuel. “Além disso, o lipedema leva a outros sintomas, como dor, sensibilidade, facilidade de hematomas e inchaço”, diz. Ele destaca que há um padrão desproporcional de distribuição de gordura, que cria uma aparência de “pêra” ou “colchão” nas áreas afetadas.

Os hematomas espontâneos do lipedema são devido à fragilidade capilar, quando pequenos vasos sanguíneos ficam frágeis e se rompem com mais facilidade, causando as manchas. “A pessoa não se lembra de bater em nada, mas está cheia de roxos. Há também desconforto ao toque da região. Temos muitos relatos de pacientes que não conseguem nem segurar o bebê no colo ou que o marido encoste a mão na perna”, aponta o cirurgião vascular Frederico Gomes.

Os impactos na autoestima também são bastante relatados. “Desde pequena tenho os braços gordinhos, que também são um tipo de lipedema. Quando eu era mais nova, tinha muito complexo com isso, não usava roupa de alça de jeito nenhum”, conta Denise. “Eu treino o tríceps, aquele músculo do ‘tchauzinho’, mas ainda tem um pouquinho de gordura. Hoje não me incomoda como antes, mas nem imaginava que poderia ser uma doença”, diz.

Tratamentos

O lipedema não tem cura, mas o tratamento busca aliviar os sintomas e melhorar a qualidade de vida das pessoas afetadas. A importância do acompanhamento profissional impacta no tratamento, que é recomendado de acordo com o grau do lipedema. Segundo Ícaro Samuel, pode haver uma combinação de abordagens, como terapia descongestionante, que inclui drenagem linfática manual e o uso de meias de compressão, mudanças na dieta, exercícios de baixo impacto e perda de peso gradual. “Em casos mais graves e persistentes, a cirurgia de lipoaspiração é considerada como uma forma de remover esse excesso de gordura”, diz.

Para a gerente de farmácia Jonilda Maria da Silva, de 49 anos, a combinação de acompanhamento nutricional com a drenagem linfática mudou sua qualidade de vida em pouco menos de três meses. “O resultado estético é bem visível. Já as dores, cansaço nas pernas e sensação de peso que sentia antes praticamente não existem mais, o que melhorou minha rotina no trabalho e no dia a dia”, comemora.

Para a analista de mídias sociais Denise Gonçalves Soares, o tratamento recomendado foi cirurgia nas varizes a longo prazo e acompanhamento de nutricionista e fisioterapeuta. “Também uso um creme para aliviar as dores e o peso nas pernas”, diz. Na fisioterapia ela faz drenagem linfática mecânica e uso de tecnologias para melhorar as dores, o inchaço, eliminar a gordura, melhorar o aspecto da pele e a desinflamar. Ela também passou por exames onde descobriu intolerâncias alimentares, que influenciam na piora dos seus sintomas do lipedema.

Sinais

Informações sobre o lipedema têm sido disseminadas somente nos últimos anos, apesar de ser uma condição comum. Veja os principais sinais, sintomas e características da doença:

  • Desconforto (incluindo, estético)
  • Cansaço
  • Hematomas frequentes
  • Edemas (inchaço)
  • Sensação de peso
  • Dor e sensibilidade nas pernas e outras regiões afetadas
  • Acúmulo de gordura resistente à dieta e ao exercício
  • Padrão desproporcional de distribuição de gordura, geralmente nas pernas

Fonte: O Popular
Foto: Reprodução
Jornalismo Portal Pn7

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