Pneu furado é um transtorno que atormenta os motoristas e tem sido agravado por uma tendência do mercado automotivo.
Já faz algum tempo que muitos carros têm saído de fábrica com estepe do tipo “bicicleta”: mais fino do que os demais pneus, o item sobressalente traz menos segurança e tem uso limitado a velocidades de até 80 km/h e a uma distância de 80 km, em média.
Além disso, veículos já têm sido comercializados sem nenhum estepe – substituído por pneus do tipo “run flat”, capazes de rodar mesmo furados. Essa tecnologia traz a vantagem de você não ter de parar para substituir o pneu, mas existem várias ressalvas quanto ao seu uso (veja abaixo).
Voltando ao “pneu de bicicleta”: além das limitações mencionadas acima, esse tipo de estepe está mais sujeito a danos causados por buracos, valetas e imperfeições do piso em geral, tão comuns no Brasil. Por não oferecer as mesmas condições de segurança na comparação com os demais pneus do veículo, existe essa restrição de velocidade e distância a ser percorrida.
É o que informa o engenheiro Oliver Schulze, da SAE Brasil, segundo o qual a tendência do estepe fino é mais forte entre montadoras europeias. Além do corte de custos, ele cita outra motivação para seu uso.
“Os limites de emissões e as metas de consumo são muito rígidos e exigentes na Europa. O estepe menor pesa menos e, com isso, amplia-se a autonomia. Ainda que seja por pequena margem, com o passar do tempo a economia de combustível é mais perceptível”, pontua o especialista.
Devido às dimensões menores e por ser consideravelmente mais barato, o estepe fininho também atrai menos furtos, complementa Schulze.
Esses benefícios, contudo, não parecem ser suficientes para compensar os pontos negativos para os saudosos do estepe “full size”, cada vez mais raro.
Existe proposta no Congresso para banir o “pneu de bicicleta” nos automóveis e obrigar as montadoras a venderem carros equipados com cinco pneus de especificações iguais. Trata-se do Projeto de Lei 5.098/2020, que está na Comissão de Viação e Transportes da Câmara dos Deputados.
Pneu que não murcha
Já os pneus “run flat” custam cerca de 30% a mais do que os convencionais, por trazerem estrutura reforçada nas respectivas laterais – possibilitando que se mantenham em condições de uso, mesmo sem ar no respectivo.
Da mesma forma que os pneus finos, também há limitação de velocidade e quilometragem percorrida enquanto estão furados, indicada no manual do proprietário. Em geral, a restrição também é de 80 km/h e 80 km, respectivamente.
Por determinação da Resolução 913/2022 do Contran (Conselho Nacional de Trânsito), veículos com pneus “run flat” também têm de trazer um kit selante para reparo, que possibilita rodar distâncias maiores em segurança – o que relativiza o benefício de não ter de rodar com o pneu furado.
Além disso, essa tecnologia traz outros inconvenientes. “Devido ao reforço estrutural, esse tipo de produto tem rodagem mais desconfortável, é mais duro e gera mais ruído. Além disso, exige um sistema de monitoramento da pressão para você saber que está furado”, esclarece o engenheiro Schulze.
Vale destacar que, dependendo da marca, o pneu que não murcha deve ser substituído após o furo, ou seja, não é reparável. Outras fabricantes informam que ele pode ser consertado, se os respectivos limites de uso não forem excedidos.
Lei permite venda de carro sem estepe?
“A regra geral é obrigatoriedade de roda e pneu sobressalentes, macaco, chave de roda e equipamento para remoção de calotas, nos termos da Resolução 912/2022 do Contran”, diz Marco Fabrício Vieira, membro da Câmara Temática de Esforço Legal do Contran e conselheiro do Cetran-SP (Conselho Estadual de Trânsito de São Paulo).
O especialista destaca que o estepe não é exigido em alguns casos, como nos veículos equipados com pneus capazes de trafegar sem ar, ou aqueles equipados com dispositivo automático de enchimento emergencial.
Fonte: UOL
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