Estudo da Fieg/UFG aponta gargalos da agroindústria do estado e indica estratégias para desenvolver a industrialização e gerar mais empregos.

A indústria goiana teve um mercado adicional potencial de R$ 111 bilhões, em produtos que foram adquiridos de outros estados, entre 2018 e 2021. Mas boa parte deste montante pode se transformar em geração de riquezas para a economia local, elevando a geração de empregos e a arrecadação de tributos nos próximos anos. Para isso, o Estado precisa investir em políticas públicas que possibilitem a redução das aquisições de outros estados, através do fomento à produção goiana, que pode crescer 13%.

Esta é uma das principais conclusões do estudo “Estratégias para o Desenvolvimento da Agroindústria em Goiás”, que será apresentado hoje pela Federação das Indústrias do Estado de Goiás (Fieg). O levantamento sobre cadeias produtivas goianas, executado pela Universidade Federal de Goiás (UFG), com o apoio do Sebrae Goiás, visa definir estratégias para o desenvolvimento e crescimento da agroindústria em Goiás, por meio da análise de fluxos comerciais, como vendas internas, importação e exportação.

CONTINUA DEPOIS DA PUBLICIDADE
Tarologa-Dany-300-x-250

O objetivo é buscar oportunidades para investimentos e aumentar o nível de industrialização no Estado, através da proposição de políticas públicas e privadas. Foram analisadas oito cadeias agroindustriais (soja e milho, carne e couro bovinos, sucroenergética, avicultura de corte, suinocultura, lácteos, algodão e silvicultura).

O estudo propõe políticas gerais em áreas como energia elétrica, capacitação de pessoal, logística, crédito, e automação e digitalização de processos produtivos. Mas, para cada uma das cadeias, foram propostas políticas específicas para o fomento à produção local.

Um exemplo é a cadeia de lácteos, que demanda linhas de crédito voltadas para produção e beneficiamento do leite e melhorias de infraestrutura de estradas rurais e vicinais.

Além de dados numéricos que incluíram informações da Classificação Nacional de Atividades Econômicas (CNAE), o levantamento também realizou entrevistas em profundidade com empresários e representantes de classe, que definiu um fluxo de R$ 865 bilhões em transações em quatro anos.

A conclusão é que a produção goiana tem potencial de crescimento de 13% em toda cadeia para atender a demanda do mercado, pois cerca de R$ 111 bilhões deste fluxo total, entre matérias-primas e produtos acabados, vieram de fora. A indústria de alimentos é a que mais se destaca, representando 16,6% do fluxo total de negócios.

A partir de agora, os dados serão constantemente atualizados. “O estudo mostra as ações que precisam ser feitas para desenvolver mais cada cadeia, sendo um norte para o setor produtivo e o governo”, diz o presidente do Conselho Temático da Agroindústria (CTA) da Fieg, Marduk Duarte. Segundo ele, é possível incentivar a industrialização de todo este montante que vem de fora em Goiás. “Como 90% das indústrias são micro e pequenas empresas, há enorme potencial para crescimento de emprego e renda no atendimento das demandas destas cadeias”, alerta.

Para reduzir aquisições de outros estados, incentivando a indústria local, como a alimentícia, por sua grande vantagem competitiva. “É preciso incentivar a industrialização de commodities dentro do Estado, pois não temos a necessidade de exportar produtos in natura, como soja e milho. Com a exportação de produtos acabados, a economia goiana ganha muito mais”, avalia Marduk Duarte. Além disso, é preciso desenvolver culturas que ainda não estão no sistema produtivo local.

O Estado não tem a cultura de gerar energia por biomassa, o que poderia ocorrer com o incentivo à produção de eucalipto, por exemplo, que neutraliza a emissão de carbono. “A silvicultura tem uma das cadeias mais ricas do agronegócio e poderia ajudar a desenvolver o norte e o nordeste goianos”, destaca Duarte. Ele lembra que, há 15 anos, a silvicultura respondia por apenas 2% do PIB do Mato Grosso do Sul. Hoje, após políticas de incentivo, já chega aos 28% sem tirar a área de nenhuma cultura. Outro exemplo é que apesar de Goiás possuir um dos maiores polos confeccionistas do Brasil e produzir algodão, não tem indústrias têxteis.

A cadeia da carne bovina é outro exemplo. Entre 2018 e 2021, Goiás registrou um fluxo comercial de cerca de R$ 206 bilhões para outros estados e comprou R$ 122,2 bilhões, segundo o estudo da UFG e Fieg. Para o presidente do Sindicato das Indústrias de Carne e Derivados no Estado (Sindicarne-GO), Leandro Stival, ainda há um grande potencial para o crescimento da industrialização de carnes no Estado, pois muitos produtos acabados ainda vêm de fora. Isso porque faltam indústrias processadoras, que poderiam gerar muitos empregos, como fabricantes de hambúrgueres e outros produtos, que são importados por Goiás.

“Há oportunidades para desenvolver a industrialização no Nordeste Goiano, por exemplo, o que poderia ocorrer através de incentivos fiscais específicos para a agroindústria”, alerta Leandro Stival. Para ele, um dos grandes entraves atuais é a grande competitividade de incentivos oferecidos por outros estados. “Goiás precisa equalizar mais seus incentivos para atrair mais indústrias que podem processar as matérias-primas produzidas por nós”, completa.

Estratégias incluem incentivos específicos para cada cadeia

O estudo que aponta as estratégias para o desenvolvimento da agroindústria em Goiás define propostas para cada cadeia produtiva. Um dos pontos de destaque é a necessidade de incentivar a indústria de alimentos, que possui vantagens comparativas em relação às demais.

Entre as propostas para a cadeia de grãos, está o fomento às indústrias de agroquímicos, bioinsumos, adubos, fertilizantes, corretivos em geral, alimentação animal, aos biocombustíveis, biodiesel e etanol de milho e biogás.

Para a cadeia de carnes, estão propostas como o fomento a indústria de biotecnologia veterinária, química e farmacêutica, além da agroindústria de carnes e curtumes.

No caso do setor de lácteos, o incentivo pode vir de linhas de crédito para produção e beneficiamento de leite, melhoria na infraestrutura de estradas e políticas ao fomento ao consumo e novos produtos e de fortalecimento da mão de obra para o setor.

Entre as proposituras para a cadeia do algodão, estão o fomento à pesquisa e desenvolvimento, inovação para mudas e sementes certificadas e à indústria de tecelagem e fiação.

Para desenvolver a silvicultura, são necessárias políticas públicas nas atividades industriais e políticas de integração e capital humano, crédito, logística e desburocratização.

Para o setor sucroenergético, as propostas incluem a integração dos processos industriais de cana e milho e coprodutos como os farelos de destilaria, fomento aos biocombustíveis, biodiesel, etanol de milho e biogás, além da pesquisa e desenvolvimento, inovação e indústria de biotecnologia, bioinsumos, resinas, bioplásticos e outros biodegradáveis e combustíveis a partir da cana, além de crédito, logística e desburocratização.

O estudo ressalta que a energia gerada por estas duas cadeias sustenta o crescimento das demais.

Para o coordenador do estudo, professor Waldemiro Alcântara da Silva Neto, Goiás ainda carece de incentivos como políticas a médio e longo prazo. Ele lembra a falta de mão de obra qualificada no interior do Estado.

“O exemplo da SuperFrango é icônico sobre esta necessidade de pessoal. A Creme e Mel foi embora porque não tem leite. Também falta energia elétrica. Seria preciso fazer uma rede de ligação com a cadeia sucroenergética, que gera muita energia, mas que precisa ser colocada na rede”, informa.

Waldemiro Neto ressalta que o Estado compra muito de fora porque sua indústria instalada hoje não tem os insumos necessários para crescer, como oferta de mão de obra capacitada de forma constante, apesar de existirem instituições empenhadas nisso, como o Senai. “Mas também é um problema do interior do Estado, que precisa ser desenvolvido para manter os jovens por lá, onde está boa parte do parque agroindustrial está instalado, porque ele quer consumir serviços”, explica.

Ele também lembra que boa parte da indústria de alimentos é movida por lenha e é preciso incentivar a cadeia da silvicultura para sustentar agroindústrias de alimentos. Segundo o professor, são desafios que estão apresentados no estudo, como educação, energia e até medidas necessárias para o crescimento da cadeia de grãos para sustentar a produção de carnes.

“São R$ 111 bilhões que podem ser alavancados na produção só pela demanda já posta no Estado, sem falar em gerar novos negócios, só deixando de comprar de outros estados para vender aqui”, ressalta.

Além disso, Goiás também vende muitos insumos para outros estados e pode crescer sua produção beneficiando mais estas matérias-primas, através das políticas certas, apenas com incentivo às indústrias que já existem no Estado. “A demanda é maior do que a indústria local é capaz de oferecer. A indústria de alimentos é muito forte e já tem um valor muito alto comercializado para outras unidades da federação e seria o carro-chefe neste processo”, prevê.

Outro bom exemplo, segundo o coordenador do estudo, é que, apesar de Goiás ter o segundo maior polo confeccionista do País, ainda não tem nenhuma indústria de tecidos e compra toda esta matéria-prima de fora.

Fonte: O Popular
Foto: Wildes Barbosa
Jornalismo Portal Panorama
panorama.not.br

CONTINUA DEPOIS DA PUBLICIDADE

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Este site utiliza o Akismet para reduzir spam. Saiba como seus dados em comentários são processados.

× Como posso te ajudar?