A nova especificação da gasolina importada ou produzida no Brasil, que passou a valer em todo o País na última segunda-feira, não proporciona apenas menor consumo, redução nas emissões e mais proteção para os motores.
De acordo com a ANP (Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis) e a Petrobras, a nova gasolina também dificulta a respectiva adulteração criminosa nos postos, com o objetivo de aumentar os lucros do revendedor.
Rogério Gonçalves, especialista em novos produtos da Petrobras e diretor de combustíveis da AEA (Associação Brasileira de Engenharia Automotiva), explica que isso acontece especialmente por causa de um novo parâmetro da gasolina: massa específica mínima de 715 kg/m³.
Quanto maior for a massa, maior será também a densidade energética da gasolina, explica o especialista.
“A maioria das adulterações que aconteciam no Brasil com a gasolina antiga era por meio da adição de solventes e outras naftas leves, além de gasolina de baixa qualidade. Com esse parâmetro de densidade mínima, antes inexistente, a ANP vai poder fiscalizar e controlar com maior eficácia a qualidade do combustível”.
Segundo a ANP, “a definição de densidade facilita a fiscalização” pelo fato de os aditivos ilegais justamente reduzirem a massa específica exigida.
“Os fiscais já têm o densímetro e vão conseguir medir a densidade no posto, de forma bem rápida. Não vai levar nem cinco minutos. Se a gasolina estiver fora da especificação, os fiscais já podem autuar o estabelecimento antes mesmo de levarem as amostras para o laboratório”, diz a agência.
Exija o densímetro
Ainda de acordo com a ANP, os postos têm a obrigação testar a gasolina na frente do cliente, caso ele solicite. Para tal, os revendedores devem disponibilizar proveta, para o teste do teor de etanol anidro – mantido em 27% para as gasolinas comum e aditivada e em 25% para a gasolina premium.
Isso é importante porque muita gasolina “batizada” traz mais etanol do que o permitido pela legislação, inclusive para compensar a perda de densidade energética decorrente da adição de solventes e outras naftas leves.
Além disso, os postos já eram obrigados pela agência reguladora a ter um densímetro para o teste de massa específica.
“Mesmo não havendo anteriormente um valor mínimo de densidade, já era obrigatório que o valor fosse medido e reportado”, complementa o órgão.
Como denunciar combustível batizado
A ANP informa que a empresa flagrada vendendo gasolina adulterada estará sujeita a processo administrativo, “com amplo direito de defesa e contraditório”, que poderá resultar em multa de R$ 20 mil a R$ 5 milhões.
A mesma penalidade está prevista para os postos que comercializarem gasolina com a especificação antiga depois do prazo máximo – que é de 90 dias a contar da segunda-feira passada.
No caso das distribuidoras, o prazo é de 60 dias.
Caso o consumidor tenha o teste negado ou desconfie de adulteração, a orientação é encaminhar denúncia à ANP por meio do telefone 0800-970-0267.
A agência orienta a sempre guardar a nota fiscal do abastecimento, bem como verificar se o posto tem a placa com a autorização da da ANP. Também vale observar se a bomba tem o adesivo identificando a origem (nome da distribuidora) do combustível.
Nova gasolina não tem identificação
A gasolina de maior qualidade já é produzida pela Petrobras desde o início deste ano, de acordo com Rogério Gonçalves.
“Muita gente não sabe, mas já está rodando com a nova gasolina há muitos meses”, revela. Segundo Gonçalves, aproximadamente 90% da gasolina vendida em nosso mercado é refinada pela Petrobras e não é possível identificar a nova especificação na bomba.
A nova gasolina não traz nomenclatura específica e visualmente é idêntica à antiga, esclarece.
O engenheiro também informa que, ao contrário do que muitos pensam, a novidade não proporciona potência ou torque acima dos valores máximos informados pela montadora para determinado modelo.
Porém, especificamente no caso de carros flex, a potência e o torque com gasolina de nova especificação podem subir. Muitos automóveis bicombustíveis têm desempenho consideravelmente maior quando utilizam etanol e essa diferença deve cair – especialmente em motores flex mais modernos, como os dotados de turbo e injeção direta.
A Petrobras já havia adiantado que, a reboque da melhoria na qualidade, a nova gasolina é mais cara. No entanto, a empresa não informa uma estimativa de quanto o preço médio já aumentou ou vai aumentar.
“O preço do combustível é definido pela cotação no mercado internacional e outras variáveis, como valor do barril do petróleo, frete e câmbio. Portanto, esses fatores podem variar para cima ou para baixo e são mais influentes no preço do que o custo adicional de especificação”, afirma a estatal.
A estatal de capital misto acrescenta que é responsável por apenas 30% do preço final da gasolina nos postos. “As demais parcelas são compostas por tributos, preço do etanol adicionado e margens das distribuidoras e revendedores”.
O que mudou na gasolina
A nova especificação determina que a gasolina comum, seja importada ou fabricada no Brasil, tenha massa específica mínima de 715 kg/m³ e octanagem de pelo menos 92 octanas de acordo com a metodologia RON (research octane number ou método de pesquisa).
Rogério Gonçalves explica que massa específica, em linhas gerais, é a densidade, enquanto a octanagem mede a resistência do produto à combustão – quanto mais alta, o combustível aceita maiores taxas de compressão e entrega mais desempenho.
Por sua vez, quanto maior for a massa específica, maior será a densidade energética.
A partir de janeiro de 2022, a gasolina comum nessa metodologia sobe para 93 octanas – a Petrobras, no entanto, adiantou-se e já produz esse combustível com a octanagem maior.
Já a gasolina premium deve ter pelo menos 97 octanas, seguindo a nova metodologia.
Esse novo parâmetro de octanagem, de acordo com a Petrobras, é “mais adequado às tecnologias de motores” mais recentes.
A terceira mudança é o ajuste na curva de destilação, termo técnico para dizer que a nova gasolina é menos volátil, proporcionando funcionamento mais uniforme do propulsor.
Segundo Gonçalves, a expectativa é de que, com a nova gasolina, o consumo médio tenha uma redução de 6%, podendo variar para baixo ou para cima, dependendo do tipo de veículo, do estilo de condução e das condições atmosféricas.
Fonte: UOL
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