Charlatanismo, dados falsos e utilização ilegal da psicologia são as principais acusações

Conceito

O conceito de coaching é controverso. Dentro da própria comunidade há divergências. Para o Instituto Brasileiro de Coaching (IBC), seria um “processo, uma metodologia, um conjunto de competências e habilidades que podem ser aprendidas e desenvolvidas por absolutamente qualquer pessoa pra alcançar um objetivo na vida pessoal ou profissional”.

Simplificando, coaches seriam uma espécie de treinadores de certa área, que ajudariam os Coachees (cliente que está passando pelo processo) a alcançar seus objetivos.

Charlatanismo e Exercício Ilegal da Psicologia

O que, na teoria, aparenta ser inofensivo tem causado controversas. As acusações mais comuns são de charlatanismo, utilização de dados falsos e até técnicas e tratamentos exclusivos aos certificados em psiquiatria, psicologia ou terapia.

É justamente por conta desse diálogo, por vezes intrusivo, com outras profissões, além da falta de certificação oficial, que se debate a criminalização do coaching no Brasil, tema que discutiremos posteriormente.

Sobre a utilização de técnicas da psicologia por profissionais não inscritos no Conselho Regional da Psicologia (CRP), o Conselho Federal de Psicologia publicou uma nota orientativa em Março desse ano, na qual ressaltou que o trabalho do psicólogo é de “extrema importância para a realização de um trabalho que vise à proteção e garantia do cuidado com a sociedade.”

“Ademais, qualquer profissional que não esteja inscrito no CRP, e que se utilizar de métodos e técnicas privativas da(o) psicóloga(o) durante sessões de coaching, ou que desenvolva, de alguma forma, atribuições restritas à Psicologia, estará incorrendo em exercício ilegal da profissão, de acordo com o art. 30 da Lei nº 5.766/71, e art. 47 da Lei das Contravenções Penais, sob pena de prisão simples ou multa (Decreto-lei Nº 3.688, de 3 de outubro de 1941)”, alerta a nota.

Criminalização, regularização e perspectivas

Passou na plataforma e-Cidadania, do Senado Federal, uma proposta que propõe a criminalização do coaching no Brasil. A proposta, que atingiu a marca de 24 mil assinaturas, ainda será debatida no Senado.

Para a professora Anna Cherubina Scofano, coordenadora do curso de Analista em Recursos Humanos da Fundação Getúlio Vargas (FGV), a atitude, apesar de servir como alerta para a existência de maus profissionais, dificilmente coibirá a prática como um todo.

“A atitude deste cidadão ecoa como um ponto de alerta importante para as pessoas, quanto às práticas inadequadas do coaching no mercado. Entretanto, não se pode considerar que todos os coaches sejam charlatões. Portanto, coibir a prática é algo muito complicado, pois no mesmo mercado que habitam profissionais embusteiros com formações insipientes existem coaches seríssimos, com formação adequada e embasada fortemente nos princípios éticos, humanos e técnicos “, disse a professora.

Outra saída que não a criminalização seria o caminho oposto: regulamentar oficialmente a profissão. A regulamentação oficial, que já existe em inúmeras profissões, traria requisitos mínimos exigidos dos profissionais, evitando que pessoas despreparadas se valessem do termo para tirar proveito financeiro.

Com a regulamentação, os coaches também teriam benefícios, como a fixação de direitos, a possível criação de um Conselho, a possibilidade de sindicalização, entre outros, como coloca uma proposta já existente no e-Cidadania, porém que ainda não alcançou a marca necessária para se tornar um projeto de lei.

“São aproximadamente 70 mil profissionais no Brasil formados por diversas escolas e sem definição de currículo mínimo ou carga horária mínima. O mesmo ocorre com o mentoring. Ambas metodologias de desenvolvimento humano são consolidadas em países como Estados Unidos, Canadá e em toda a Europa. A ideia é que tenhamos a regulamentação da profissão”, defende Ronald Dennis, autor da proposta.

A proposta que criminaliza o coaching atualmente está em debate na Comissão de Direitos Humanos, de onde passará para outras comissões caso seja aprovada. Esse mercado, segundo o IBC, movimenta mais de 2,3 bilhões de dólares ao ano somente nos Estados Unidos.

Thaysa Alves
Foto capa:Internet
Jornalismo Portal Panorama
panorama.not.br

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