Obesidade infantil atinge nível histórico, supera a desnutrição e ameaça saúde de uma geração

Obesidade infantil atinge nível histórico, supera a desnutrição e ameaça saúde de uma geração

Pela primeira vez na história, a obesidade infantil superou a desnutrição no cenário global, segundo relatório divulgado pelo Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef). O documento aponta que, em 2025, 9,4% das crianças e adolescentes entre 5 e 19 anos vivem com obesidade, contra 9,2% em situação de baixo peso. Isso representa cerca de 188 milhões de jovens convivendo com uma condição crônica associada a doenças graves como diabetes, hipertensão e problemas cardiovasculares.

O médico nutrólogo e intensivista Dr. José Israel Sanchez Robles avalia que o dado representa uma transição epidemiológica preocupante. “Vivenciamos uma nova forma de má nutrição. A obesidade vai além do acúmulo excessivo de peso corporal; trata-se de uma condição inflamatória crônica que interfere no desenvolvimento físico e cognitivo infantil”, explica.

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O relatório ainda destaca que 1 em cada 5 crianças e adolescentes no mundo está com sobrepeso, resultado da substituição de dietas tradicionais por alimentos ultraprocessados de baixo valor nutricional. “O marketing agressivo da indústria de alimentos ultraprocessados, aliado à ampla disponibilidade desses produtos, contribui para a formação de um ambiente alimentar obesogênico. A responsabilização exclusiva das famílias é inadequada, pois trata-se de uma questão estrutural”, ressalta José Israel.

Os efeitos vão além da saúde física. Segundo o especialista, crianças e adolescentes com obesidade estão mais vulneráveis a estigmas sociais e problemas emocionais. “O impacto psicológico é significativo. Crianças com obesidade frequentemente enfrentam bullying, estigmatização e baixa autoestima desde os primeiros anos de vida, o que contribui para quadros de ansiedade, depressão e o uso da comida como mecanismo de compensação emocional — perpetuando um ciclo de sofrimento e exclusão social”, afirma.

Embora o Brasil também apresente crescimento acelerado nos casos de obesidade infantil, o país é citado como exemplo de iniciativas positivas, como a restrição de ultraprocessados no Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE) e a adoção da rotulagem frontal obrigatória. No entanto, para José Israel, é preciso avançar. “Sem políticas públicas mais rigorosas — como taxação de bebidas açucaradas, restrição da venda de ultraprocessados em escolas e estímulo à agricultura local —, a epidemia de obesidade infantil tende a sobrecarregar ainda mais o sistema de saúde”, alerta.

Diante desse cenário, especialistas avaliam que 2025 representa um divisor de águas. “Vivemos um momento de decisão coletiva. Ou reformulamos urgentemente nosso sistema alimentar, ou comprometeremos toda uma geração com o avanço precoce das doenças crônicas não transmissíveis. Essa transformação exige uma abordagem ampla, que envolva políticas públicas eficazes, regulação da indústria alimentícia, atuação multiprofissional na saúde, compromisso das escolas como ambientes de promoção da saúde e, sobretudo, o fortalecimento do papel das famílias e da sociedade na formação de hábitos saudáveis desde a infância”, conclui o médico.

Por Victor Santana Costa
Foto: Reprodução
Jornalismo Portal Pn7

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Víctor Santana Costa

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