O número de vasectomias realizadas pela rede pública de Saúde em Goiás no primeiro quadrimestre de 2023 foi praticamente o dobro do registrado nos primeiros quatro meses de 2022. O número saltou de 197 para 386. Em março deste ano entrou em vigor a lei que facilita o acesso a procedimentos de esterilização voluntária. Quando considerados os meses de março e abril, a procura pela intervenção cresceu 55% na comparação com o mesmo período de 2022. Em números totais são 175 cirurgias contra 113.
A Lei 14.443/2022 foi aprovada em agosto do ano passado. As mudanças ocorreram no sentido de desburocratizar o acesso a cirurgia. Antes da alteração, somente homens a partir de 25 anos ou com dois filhos podiam fazer o procedimento. Também era necessária a autorização do cônjuge. Com a nova lei, a idade mínima diminuiu para 21 anos e a autorização do procedimento não fica atrelada a nenhuma outra pessoa.
O urologista Pedro Junqueira, que é membro da Sociedade Brasileira de Urologia (SBU), explica que percebeu um aumento na procura pelo procedimento no consultório desde a mudança legislativa, “Outra alteração importante foi que antes os pacientes tinham que manifestar o desejo de fazer a cirurgia e esperar por um prazo de 60 dias, o que chamam de prazo de arrependimento. Agora, são apenas 30”, conta.
Planejamento familiar
O médico afirma que a mudança na legislação traz benefícios reais no que diz respeito ao planejamento familiar, uma vez que coloca o desejo do homem que quer se submeter a esterilização independente da vontade de uma segunda pessoa.
“Não podemos desprezar o fato de que muitos homens sofrem assédio para terem mais filhos por questões ligadas, por exemplo, ao próprio relacionamento ou a religião. Muitas vezes, no relacionamento, o cônjuge quer ter mais filhos. Essa alteração facilita a autonomia para os indivíduos.”
Entretanto, Junqueira ressalta a importância de a decisão ser tomada de forma consciente, já que o procedimento cirúrgico é apenas potencialmente reversível.
“Os pacientes precisam ver como algo definitivo. Trabalhamos bastante essa parte da conscientização. Depois de 10 anos da cirurgia, as chances de sucesso na reversão do procedimento são baixas. Um rapaz que faz o procedimento com 21 anos, daqui 10, terá apenas 31, com toda uma vida pela frente. Por isso, é preciso ter certeza”, aponta.
O Procedimento
A cirurgia de vasectomia é um procedimento ambulatorial com duração de até 30 minutos e não necessita de internação do paciente. O processo, que consiste no corte dos tubos responsáveis pelo transporte dos espermatozoides, é feito com anestesia local e é considerado totalmente seguro por especialistas. “É uma cirurgia pouco agressiva. Damos apenas uma sedação, parecida com a da endoscopia, para os pacientes”, pontua o médico.
Junqueira aponta que um grande temor dos homens é que a vasectomia altere a potência sexual. “É um mito. O procedimento não altera em nada a dinâmica sexual. O único objetivo do ducto deferente (tubo que é cortado) é conduzir os espermatozoides. Não tem nenhuma relação com a ereção ou o desejo sexual. Inclusive, no que diz respeito ao volume de esperma, não acontece nenhuma alteração perceptível”, esclarece.
As relações sexuais são liberadas após 10 dias do procedimento feito. “É importante manter o uso de método contraceptivo até que seja feito um espermograma para verificar se o procedimento deu certo. Somente com esse exame em mãos e apontando a inexistência de espermatozoides, que liberamos os pacientes para ter relações sexuais de forma despreocupada”, aponta.
Experiência
O advogado Hugo Nascimento, de 49 anos, fez a cirurgia há cerca de um mês. De acordo com ele, o procedimento foi tranquilo. “Não doeu nada. O médico me receitou um analgésico, mas nem precisei usar. Fiquei apenas por duas ou três horas dentro do hospital”, diz. A motivação de Hugo para fazer o procedimento foi o fato de que ele e a esposa decidiram pela interrupção do uso de anticoncepcional. “Já temos três filhos e não pretendemos ter mais”, argumenta.
O contador Edimar Cruz, de 36 anos, fez a cirurgia há dez dias. A motivação também foi o fato de que ele e a esposa não desejam aumentar a família. “Já temos duas filhas. Meu procedimento também foi tranquilo. Senti apenas um pequeno incômodo. Optamos pela vasectomia pois é um procedimento bem mais simples que a laqueadura”, finaliza.
Por Mariana Carneiro
Foto: Divulgação/Secretaria de Estado de Saúde
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