Número de eleitores de 16 e 17 anos sofre queda

Maria Antônia Borges, 16 anos: “Como jovem, tenho que desenvolver o meu pensamento crítico e evoluir para ajudar o meu país” (Foto: Wesley Costa / O Popular)

Cerca de 16% dos adolescentes nesta faixa etária, cujo voto é facultativo, tiraram o título de eleitor este ano em Goiás; especialista fala em envelhecimento de líderes e frustração com governantes.

Em Goiás, 36.768 adolescentes que possuem entre 15 e 17 anos já estão com o título de eleitor neste ano, segundo dados do Tribunal Regional Eleitoral de Goiás (TRE-GO). O número equivale a menos da metade do que foi registrado há 10 anos, em 2012, quando 87.311 jovens nessa faixa etária foram às urnas no estado.

O voto é facultativo para jovens com 16 ou 17 anos. Aqueles que vão completar 16 até a data da eleição já podem se registrar para votar. O prazo para pedir o título de eleitor segue até o dia 4 de maio de 2022.

Além disso, desde 2012, o número de eleitores com essas idades vem diminuindo, apontam os dados do TRE-GO. Na eleição seguinte, por exemplo, em 2014, já eram 47.995 eleitores na faixa etária. Em 2016, a quantidade subiu para 74.482, mas em 2018, caiu para 44.061. Em 2020, o dado já era de 32.841.

Segundo dados da projeção populacional do Instituto Mauro Borges (IMB), de 2020, há em Goiás um total estimado de 230.466 jovens com 16 e 17 anos. Ou seja, a quantidade que já tem o título de eleitor em 2022 equivale a cerca de 16% desse número.

Para o cientista político Guilherme Carvalho, o que pode explicar essa queda brusca ao longo dos últimos 10 anos são as jornadas de junho de 2013. Na época, houve uma onda de protestos por todo o país, puxados, inicialmente, por uma insatisfação com os aumentos nas tarifas do transporte coletivo. O movimento acabou escalando para uma revolta contra os governantes da época.

“A gente tem que lembrar que as jornadas de junho de 2013 começaram justamente com os jovens do ‘primeiro voto’ que se mostraram insatisfeitos com o produto final dos governos, com as políticas públicas, em especial aquelas que influenciavam diretamente na sua potencialidade de inserção no mercado, atingindo elementos bem primários, como a passagem do ônibus, que foi o que motivou toda aquela movimentação”, explica.

Carvalho analisa que, desde então, a forma de engajamento político desses jovens foi mudando. “Alguns passaram a se engajar por meio das redes sociais, mas muito mais voltados para o sentido da antipolítica”, cita. O especialista destaca, por exemplo, o fato de que muitos desses jovens acabaram entrando para movimentos considerados apartidários, o que pode explicar o crescente desinteresse pela antecipação do registro para votar.

Ele lembra que o presidente Jair Bolsonaro (PL) é fruto desse cenário antipolítico e que o fato de ele ter se aliado com figuras rejeitadas por esses movimentos pode ter somado para a desmotivação dos jovens. “Cada vez mais o jovem tem perdido o interesse de se engajar politicamente, de entender que o voto deles pode transformar as coisas. Então, esse é um dos fatores que mais pode ter influenciado nessa desconfiança política.”

O cientista político Pedro Mundim analisa, por outro lado, que seria estranho se esse número crescesse. “Por que o jovem precisa participar da política? Quando a gente se engaja, a gente deixa de fazer outras coisas, eu ficaria surpreso se o dado fosse o contrário. Por que a gente cobra isso deles, quando nessa faixa etária pode ter coisas mais interessantes que política?”, diz o professor, que aponta a perspectiva de um jovem de classe média ou classe média-alta.

Nos dados nacionais, foi percebido que a quantidade total de jovens com 16 e 17 anos que já fizeram o título de eleitor – 731 mil – equivale a menos que um quarto do total que foi às urnas há três décadas. Para Mundim, é injusto comparar esses números, se for considerar que há 30 anos o país saía do período da Ditadura Militar e as eleições diretas eram, de certa forma, uma novidade para esses jovens. “Era uma população que saía de um período de 24 anos sem ter direito ao voto”, destaca.

Interesse

Maria Antônia Borges, de 16 anos, decidiu fazer o título de eleitor em 2022. É a primeira vez que ela vai votar e já terá 17 anos no dia da eleição. Seu aniversário é no dia 8 de junho. “Eu acho que, como jovem, eu tenho que começar a desenvolver o meu pensamento crítico e evoluir para ajudar o meu país a caminhar para frente”, diz, ao explicar porque tomou a decisão de pedir o registro eleitoral antes do período obrigatório.

Para Maria, quanto mais jovem ela começar a exercer o voto, melhor. Ela conta que até queria ter podido votar antes. “A última eleição para presidente eu fiquei chateada de não poder votar porque eu não concordava com a eleição do Bolsonaro e queria fazer a minha parte, tentar fazer a diferença”, conta.

Apesar desse interesse pela política, a estudante confessa que esse não é um sentimento comum na sua geração. “Acho que falta um pouco de influência, mas a minha parte eu estou fazendo. Tenho muitos professores também incentivando os alunos a votarem neste ano”, diz.

Maria já fez o pedido do título no site do TRE-GO e aguarda a aprovação. Para ela, votar é importante para o exercício da cidadania. “Na minha mente funciona assim, se eu deixo de votar, eu estou deixando outra pessoa escolher quem vai administrar minhas ideias políticas e isso não é justo.”

A mãe de Maria, Elisângela Borges, conta que o incentivo à participação política é generalizado na família. “Somos todos a favor do jovem já começar desde cedo a ter responsabilidade civil”, diz.

O Tribunal Superior Eleitoral (TSE) tem feito campanhas constantes de incentivo para que esses jovens façam o título eleitor. Terminou na última sexta-feira (18) a Semana do Jovem Eleitor 2022. Na quarta-feira (16), por exemplo, foi feito um tuitaço para conscientizar a juventude sobre a importância do registro.

Fonte: O Popular
Foto: Wesley Costa / O Popular
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