Mulheres ultrapassam homens e assumem chefia de mais da metade dos lares em Goiás

Pela primeira vez na história, as mulheres são maioria na chefia dos lares em Goiás. Dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad), divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), revelam que, em 2024, 50,1% das residências do Estado tinham uma mulher como responsável, contra 49,9% chefiadas por homens. O marco acompanha a tendência nacional, registrada em 2022, quando o percentual feminino chegou a 51,2% no Brasil.
Segundo o superintendente do IBGE em Goiás, Edson Vieira, o fenômeno resulta de múltiplos fatores, como a maior inserção feminina no mercado de trabalho, o avanço da escolaridade e a independência econômica. A queda na taxa de fecundidade também é apontada como fator relevante, já que as mulheres têm menos filhos e conseguem dedicar mais tempo à carreira profissional.
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“Essa maior independência econômica das mulheres está relacionada com a queda da taxa de fecundidade que temos observado no Brasil e em Goiás, acompanhando um movimento mundial […] Isso contribui para que essas mulheres tenham maior independência econômica, o que acaba resultando na chefia de muitos domicílios”, destacou Vieira.
O IBGE ressalta, entretanto, que a definição de “chefe do domicílio” não está ligada apenas à renda. A identificação parte dos próprios moradores, que reconhecem a pessoa considerada responsável pela casa. Para Vieira, esse reconhecimento também revela uma mudança cultural sobre o papel das mulheres dentro das famílias.
Outro ponto que explica o avanço da liderança feminina é o crescimento dos lares monoparentais, em especial os chefiados por mães solo. Esse modelo familiar, cada vez mais comum em Goiás e no Brasil, reflete transformações sociais e maior aceitação cultural. “A gente acaba tendo na sociedade uma aceitação maior desse tipo de estrutura familiar, o que contribui para o aumento do número de mulheres que são chefes de família”, completou o superintendente.
Apesar de ser uma tendência mundial, Vieira lembra que o fenômeno possui nuances. Em países da Europa, nos Estados Unidos e no Canadá, a chefia feminina está ligada majoritariamente à independência financeira. No Brasil e em Goiás, em muitos casos, ela ainda está associada a contextos de vulnerabilidade social. “Tem muitos benefícios que são direcionados às mulheres, como é o caso do Bolsa Família”, afirmou.
Do ponto de vista econômico, os reflexos dessa mudança já são visíveis. O economista Luiz Carlos Ongaratto observa que os lares liderados por mulheres tendem a priorizar despesas essenciais. “As mulheres têm uma visão mais conservadora e buscam priorizar saúde, educação e alimentação”, explicou.
No entanto, Ongaratto ressalta que a ausência de redes de apoio pode aumentar a vulnerabilidade das mães solo. “Essa dupla ou até tripla jornada, que inclui cuidados com filhos e familiares, precisa ser observada pelas políticas públicas”, disse. Ele alerta que a falta de suporte governamental pode ampliar a pobreza infantil e comprometer a qualidade de vida dessas famílias.
Para o economista, a formalização do trabalho feminino é fundamental para reduzir desigualdades históricas e quebrar ciclos de pobreza entre gerações. “Quanto mais mulheres estiverem no mercado formal, mais se diminui a desigualdade e se amplia a independência econômica”, avaliou.
O avanço da chefia feminina nos lares goianos representa uma conquista histórica. Ao mesmo tempo em que reflete autonomia e reconhecimento das mulheres, evidencia a necessidade de políticas públicas eficazes para garantir que essa transformação não reproduza vulnerabilidades, mas fortaleça o papel feminino na sociedade.
Foto: Reprodução
Jornalismo Portal Pn7