
Não temos uma bola de cristal para prever isso. Mas a atual conjuntura econômica e política que vivenciamos têm deixado os estudantes inquietos com a possibilidade de que esses temas apareçam nos vestibulares e no ENEM. Alguns processos seletivos próximos à nossa região abordaram em temas de redação a crise política e o processo de sucessão presidencial recente. Desse modo, compreender os processos históricos e as tradições políticas em nosso continente pode contribuir de maneira significativa para a construção de bons textos ou mesmo na resolução de questões que abordem essas temáticas.
É de fundamental importância compreender a fragilidade dos Estados que se constroem na América Latina ao longo do século XIX, marcado pelas lutas pela independência, ocorridas com lutas sangrentas do povo ou por meio de acordos entre as elites e os governantes, como é o caso do Brasil.
Conseguir a independência política das metrópoles europeias, no entanto, não significou alcançar autonomia econômica e estabilidade social. O passado de exploração agrícola baseado na mão de obra escrava e na monocultura, não sofreu muita alteração com o estabelecimento de Estados autônomos, em sua maioria, inseridos no caudilhismo. Nos países de colonização espanhola, as elites criollas assumem o poder e não alteram as estruturas sociais existentes no período colonial. O mesmo acontece no Brasil, porém, é importante ressaltar que não houve guerra para a independência brasileira como nos países vizinhos.
A continuidade das características do período colonial tornou esses Estados muito frágeis e suscetíveis a crises econômicas devido à grande dependência dos países europeus e dos EUA. Assim, constroem-se democracias instáveis em que se tornam recorrentes as usurpações de poder.
Isso reflete até mesmo nos acordos internacionais diplomáticos firmados entre o Brasil e os países latino-americanos. As Convenções de Caracas sobre Asilo Diplomático e sobre Asilo Territorial, de 1954, são reflexos da tradição latino-americana de golpes de Estado em sua história na qual se cria a prática de não se recusar o asilo, uma vez que os chefes políticos podem precisar reivindicar esse instituto aos países vizinhos.
Quando olhamos historicamente para os processos de construção política de nossa nação, percebemos que ela se estrutura em bases frágeis e que os interesses populares em geral, são deixados à margem. Também é necessário analisar o impacto cultural de todas as grandes transformações significativas em âmbito nacional terem sido construídas por poucos, sem a luta do povo. Basta ver o processo de Independência, a Proclamação da República, a conquista dos Direitos Trabalhistas. Isso faz com que sempre nos entendamos como incapazes de participar do processo político e muitas vezes acreditemos que abrir mão de nossos direitos democráticos não é um problema.
Se observarmos os mandatos presidenciais no Brasil desde 1930, veremos que dos dezenove presidentes, oito foram eleitos pelo voto popular para o cargo e desses apenas quatro conseguiram terminar os seus mandatos, dado esse que ratifica a ideia de fragilidade política de nosso país.
O ENEM propõe temas, não somente na redação, que se referem à cidadania e a construção de direitos no âmbito social, político e civil. Desse modo, demonstrar compreensão da nossa formação histórica pode ser um diferencial significativo na hora de realizar a sua prova!
Colunista: Profª: Aline Costa Luz de Lima
Revisão: Rosana de Carvalho
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