Hábitos, comportamentos, crenças, valores e símbolos constituem aquilo que denominamos cultura de um povo...

Hábitos, comportamentos, crenças, valores e símbolos constituem aquilo que denominamos cultura de um povo. É a manifestação coletiva que reúne heranças do passado, mas que pode também englobar modos de ser do presente. Para ser verdadeira, a cultura tem de resultar das relações profundas do homem com seu meio. Será que alimentamos, no Brasil de hoje, uma cultura que representa nossa identidade?

Já em 1928, quando Oswald de Andrade lançou o “Manifesto Antropofágico”, já se discutia o resgate da cultura primitiva brasileira. A preocupação, naquele momento, era a predominância da modernidade europeia sobre a nossa cultura. Seria preciso, então, “deglutir” as formas importadas para produzir algo genuinamente nacional. – essa era a tese de Oswald. Baseava-se naquele hábito selvagem em que o índio, ao matar os brancos, só devorava os mais inteligentes para roubar-lhes as qualidades. Assim deveria ocorrer com nossa cultura: devorar os valores estrangeiros no sentido de digeri-los sob a forma de uma arte tipicamente brasileira.

Estamos em 2016, viramos o século, mas o problema persiste. As causas são outras, o problema é o mesmo. O Brasil não aprendeu a valorizar sua verdadeira cultura, a se orgulhar do que é seu. É verdade que nossa identidade cultural é marcada por uma diversidade riquíssima que, até certo ponto, dificulta sua compreensão.

Somos o resultado de agentes históricos variadíssimos: o índio, o europeu, o negro, a escravatura e séculos de colonialismo deixaram marcas profundas no nosso modo de ser, de conviver, na música, pintura, literatura, carnaval e, claro, no “jeitinho nacional” de agir.

Se o obstáculo para Oswald de Andrade era a imitação dos modelos europeus, pode-se afirmar que, hoje, os modelos são ainda mais amplos: são globalizados. Eles nos trouxeram – via mídia – a cultura de massa que apresenta produtos padronizados, de caráter comercial, para consumo rápido, sem a mínima preocupação com as raízes que nos identificam como nação. É a banalização da verdadeira cultura.

O pior é que o novo modelo está introjetado na sociedade de tal forma que se torna inevitável o seu consumo. Esta nação, carente de uma formação cultural autêntica, sucumbe diante da avalanche de imagens e símbolos que homogeneízam seus gostos, seu jeito de ser e de comportar-se. Com um agravante: a sociedade tem vergonha do que é nosso. Não assiste a nossos filmes, não lê nossos autores, não exalta nossa arte, não valoriza nossa língua. (Prof. Jorge Pita)

Percebe-se, então, que não é da cultura das pessoas nem do poder público valorizar o passado. Daí a precária preservação e restauração dos bens patrimoniais, como museus, igrejas e monumentos antigos.

Tudo se resume a um problema de autoestima. Um problema de fé em si mesmo. Resgatar os valores nacionais da nossa identidade deve ser motivo de orgulho para o brasileiro. É papel dos órgãos públicos vinculados à cultura e educação promover uma reflexão nacional sobre a questão. Universidades e escolas têm, hoje, a responsabilidade de manifestar-se – ao estilo de Oswald de Andrade – antes que nossos valores sejam “deglutidos” pela força avassaladora da indústria cultural.

Colunista: Prof: Jorge Pita
Revisão: Rosana de Carvalho
Jornalismo Portal Panorama

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