
Foto: Agência Brasil
O governo federal lançou na última terça-feira, dia 03 de janeiro, sua nova campanha de prevenção a gravidez na adolescência. O material pauta-se pela indicação de busca de informações e “reflexão” por parte dos jovens com o objetivo de prevenção das gestações indesejadas e não trata de métodos tradicionalmente abordados como os preservativos.
Pensada como um “start” para campanhas mais fortes que abordem a abstinência sexual, a ideia, saída do Ministério da Mulher, Família e Direitos Humanos, terá o apoio dos Ministérios da Saúde e da Educação. A campanha, que será veiculada na tv, outdoors e mídias sociais, recomenda que os jovens planejem seus futuros e procurem orientações na rede de saúde – a hashtag #tudotemseutempo acompanha os materiais a fim de promover a difusão da mensagem.
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A ministra Damares Alves, da Mulher, Família e Direitos Humanos, rebateu as críticas que tem recebido e afirmou que a campanha não é moralista, mas fruto de conversas com pais, adolescentes, educadores e especialistas. Para Damares a campanha é um ato de coragem ao apontar para os jovens a necessidade de retardar o início da vida sexual.
O ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, afirmou que as pesquisas mostram que cerca de 434 mil adolescentes ficam grávidas por ano no país. Segundo Mandetta, os adolescentes se sentem pressionados a iniciar a vida sexual precocemente, por isso o tema “adolescência primeiro, gravidez depois”.
A pedagoga e mestre em educação sexual pela Universidade Estadual Paulista (Unesp) Caroline Arcari afirmou recentemente, em entrevista ao site Gênero e Número, que esses programas, baseados na ideia de abstinência sexual, são construídos desconsiderando a realidade das e dos jovens, apostando que quanto menos informações sobre sexo, menor a probabilidade de iniciarem a vida sexual precocemente. Arcari lembra que há estudos que mostram que investir exclusivamente na mensagem de que os adolescentes devem se manter virgens é uma estratégia ineficaz, que não adia a iniciação sexual nem reduz comportamentos de risco.
Segundo a especialista, uma educação sexual ideal, perante cenários recorrentes no país, como o abuso sexual e a ausência de estrutura socio-econômica, não se pode investir na abstinência como estratégia principal. Carolina Arcari afirma que: “É preciso que as adolescentes entendam o impacto de relações sexuais desprotegidas sobre sua saúde e tenham espaços de diálogo e informação para construírem empoderamento sobre si mesmas e suas vidas, desenvolvendo autonomia, autocuidado e independência. Precisamos falar sobre o machismo, sobre as relações tóxicas, sobre violência de gênero, sobre estupro marital. Precisamos educar garotos e homens para o uso da camisinha, para a responsabilidade sobre as relações afetivas e sobre a necessidade do cuidado com a própria saúde – algo que a masculinidade vigente acaba negligenciando.”
Estael Lima
Foto capa: Agência Brasil
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