O corpo feminino ainda é um símbolo de objeto e controle social. Isso fica evidente quando verifica-se pesquisas que mostram, por exemplo, que um terço dos brasileiros acredita que a roupa que a mulher usa contribui para o assédio e o estupro – sim, um terço, o que significa que aí do seu lado tem alguém que pensa assim. Mas será que as roupas definem se uma pessoa é fútil, sexualmente disponível, elegante, bem-sucedida, arrogante ou doce, etc.? Será que um homem de terno bem cortado é sempre um homem digno, honesto, respeitável?
O debate sobre a roupa enquanto definidora do comportamento e do caráter, sobretudo de mulheres, surgiu com intensidade nas redes sociais dos jataienses nos últimos dias e revelou que o caminho ainda é longo para que seja possível romper com o chamado “machismo estrutural”.
O machismo estrutural está presente nos detalhes do nosso dia-a-dia: insultos e piadas relacionadas à mulher baseados na sua sexualidade, meninos criados para serem fortes e “pegadores”, meninas criadas para serem frágeis e recatadas, roupas rosa e bonecas para as meninas, roupas azuis e carrinhos para os meninos, mulheres cuidadoras do lar e dos filhos, homens provedores, mulheres sendo censuradas por amamentar em público… seria possível apontar uma infinidade de coisas, mas o importante é termos em mente que é estrutural, ou seja, são comportamentos enraizados na nossa sociedade por séculos e por isso reproduzidos por muitos, sem a menor reflexão sobre a inadequação de seus comportamentos.
Muito mais do que ser inadequada por vestir uma roupa curta ou decotada, uma pessoa é inadequada, no mundo atual, por não ter respeito, empatia e sobretudo por não enxergar o mundo ao seu redor. A vida de uma mulher sem um homem, ou com um homem, a vida de uma mulher livre, que escolhe suas companhias, que escolhe quando e como se comportar de cada maneira não deveria ser objeto de julgamento por ninguém, mas o machismo estrutural ainda está por aqui… e faz seu papel através de homens e mulheres.
Dentro de todo esse contexto, o desserviço prestado por muitas pessoas com recursos de mídia e audiências nas mãos, em alguns momentos, como esse, podem ser tornar uma boa oportunidade de levar conhecimento e construir um debate saudável que contribua para a mudança do cenário social em que ainda é permeado pelo machismo e pelo falta de empatia.
Então, sim… se você concorda que uma mulher que quer um bom marido/namorado/emprego deve se vestir de forma X ou de forma Y, sinto muito, penso bem diferente e, felizmente, cada dia mais pessoas pensam diferente e contribuem para um mundo melhor, onde seres humanos, independente de seu gênero, são respeitados e têm sua dignidade e valores validados.
De terno ou de biquíni, de mini saia ou de burca, não importa, uma roupa nunca será definidora de caráter ou comportamento e nunca será um convite.
Por Estael Lima
Foto capa: Free Pik
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