Leite importado chega ao Brasil até 23% mais barato e aponta risco de prejuízo aos produtores

Leite importado chega ao Brasil até 23% mais barato e aponta risco de prejuízo aos produtores

Dados divulgados nesta segunda-feira (17) pelo boletim Agro em Dados de novembro, produzido pela Embrapa, mostram que o leite importado chega ao Brasil 23,4% mais barato que o valor pago ao produtor nacional. Enquanto o produtor argentino recebeu US$ 0,36 por litro, o brasileiro recebeu em média US$ 0,47. Essa diferença aumenta a competitividade dos lácteos estrangeiros e, consequentemente, eleva a entrada desses produtos no País. Em Goiás, isso se reflete na chegada de 62,4 toneladas de soro de leite apenas em setembro.

Além disso, o levantamento aponta um avanço expressivo nas compras externas. O volume importado subiu de 9,2 mil toneladas em agosto para 23,3 mil toneladas em setembro, um salto de 20%. A Argentina forneceu 66% desse total. De acordo com o relatório, esse movimento surpreendeu o setor, já que muitos esperavam redução nas importações durante o segundo semestre. Isso porque a produção interna cresceu e os preços nacionais recuaram, o que, em tese, deveria diminuir a dependência externa.


Goiás avança na produção, mas enfrenta pressão internacional

Embora Goiás tenha se consolidado como uma potência leiteira em 2024, o mercado externo pressiona o setor de forma crescente. O Estado produziu 2,9 bilhões de litros, ocupou a 5ª posição nacional e totalizou 1,4 milhão de vacas ordenhadas. Orizona liderou o ranking estadual com 124,5 milhões de litros, seguida por Piracanjuba e Bela Vista de Goiás.

Mesmo com esses resultados, o cenário internacional cria um desafio adicional. Para 2025, o Valor Bruto de Produção (VBP) previsto para o leite goiano é de R$ 6,1 bilhões, equivalente a 8,5% do VBP nacional. Contudo, a maior entrada de lácteos estrangeiros reduz a competitividade do produto local, o que preocupa produtores e entidades do setor.


Produtores relatam dificuldades e cobram medidas

Segundo Vinícius Correia, presidente da Comissão de Leite da Faeg, a pressão externa já compromete a rentabilidade. Ele afirma que, embora novembro ainda permita equilíbrio financeiro, dezembro deve trazer prejuízos. Vinícius explica que o produtor argentino trabalha com custos mais baixos, paga menos impostos e enfrenta menos burocracia. “Somos competentes, mas não conseguimos competir”, destaca.

Outro ponto crítico envolve o volume importado. Historicamente, o Brasil precisa trazer até 5% da demanda para suprir o mercado interno. Entretanto, com os preços atuais, o índice subiu para 10% a 12%. “Vai importar quase a produção de Goiás neste ano”, afirma.

Com isso, o setor já apresentou ao governo algumas alternativas. Uma delas propõe a criação de uma cota de importação, que limitaria as compras externas ao volume necessário para atender o consumo nacional. Outra defende a suspensão das importações por 90 dias, permitindo que o mercado se reorganize e reduza a pressão sobre os produtores.

Por Gessica Vieira
Foto: Reprodução
Jornalismo Portal Pn7

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Gessica Vieira

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