Foto: Aline Caetano

A magistrada destacou que cada dia mais denúncias relativas à violência doméstica chegam ao Juizado, onde tramitam cerca de 1.600 mil processos desse tipo.

A juíza Sabrina Rampazzo de Oliveira, do Juizado de Violência Doméstica e Familiar contra a mulher da comarca de Jataí, participou neste domingo (17), do Projeto Colmeia, realizado em um clube da cidade. A magistrada ministrou palestra para as quase mil mulheres que participaram do evento.

A magistrada destacou que cada dia mais denúncias relativas à violência doméstica chegam ao Juizado, onde tramitam cerca de 1.600 mil processos desse tipo. Segundo ela, em um ano chegaram ao Juizado de Violência contra a Mulher de Jataí cerca de 880 casos. Segundo ela, Jataí é o quarto município do Estado de Goiás com maior número de casos de violência contra a mulher.

Sabrina Rampazzo explicou sobre cada uma das formas de violência doméstica e familiar contra a mulher: a violência física, entendida como qualquer conduta que ofenda sua integridade ou saúde corporal; a violência psicológica, entendida como qualquer conduta que lhe cause dano emocional e diminuição da autoestima ou que lhe prejudique e perturbe o pleno desenvolvimento ou que vise degradar ou controlar suas ações; a violência sexual, entendida como qualquer conduta que a constranja a presenciar, a manter ou a participar de relação sexual não desejada; violência patrimonial, entendida como qualquer conduta que configure retenção, subtração, destruição parcial ou total de seus objetos, instrumentos de trabalho, documentos pessoais, bens, valores e direitos ou recursos econômicos, incluindo os destinados a satisfazer suas necessidades; a violência moral, entendida como qualquer conduta que configure calúnia, difamação ou injúria.

A juíza lembrou da importância de denunciar. De acordo com ela, os casos de violência doméstica que desembocam no Poder Judiciário têm início em delegacias de polícia, disque-denúncia e promotorias. Sabrina falou às mulheres sobre a importância de denunciarem qualquer ato de violência. “Não se calem. A denúncia é segura e uma ligação pode salvar vida”, frisou ela.

Outro ponto importante da palestra foi o depoimento de uma mulher que passou pelo juizado, Jacsele Cavalcante, que foi agredida pelo marido. Ela relatou que só está viva hoje porque o companheiro foi denunciado. Contou, também, como iniciaram as agressões. “Primeiro, por ciúmes, ele quebrou meu celular, depois  implicou com a maquiagem e minhas roupas. Até que chegou ao ponto dele não deixar ver minha família”, contou.

Ela lembrou que já no primeiro mês de casada foi agredida por um tapa, depois veio o segundo, o terceiro tapa e o puxão de cabelo. Com o passar dos meses, vieram as ameaças. “Ele falava que se eu denunciasse, quem iria pagar era minha mãe e meus filhos. E, a partir daí, minha vida foi um terror ao lado dele. Até um dia em que a agressão foi tanta, que quem denunciou foi minha vizinha, porque eu não tinha coragem”, disse.

O relato chamou a atenção de várias mulheres que estavam presente. “Por isso, não tenham medo de denunciar. Eu passei por todas as formas de violência, só não a morte. Não fiquem esperando, as coisas só tendem a piorar”, declarou. Ela frisou que teve apoio da família, dos amigos e, principalmente, de todos do fórum. “Hoje eu tenho gratidão porque quando eu iniciei com o processo, eu queria parar, se não fosse o apoio que eu tive dos servidores, da juíza, eu teria desistido. A união e o apoio que eu encontrei no Juizado da Mulher de Jataí foi muito importante”, revelou.

Vítima
Daniele Prado, de 37 anos, participou do evento e em alguns momentos da palestra chorou. Ela lembrou de tudo o que viveu com o ex-companheiro, há 14 anos. “Hoje estou feliz e amanhã começo a trabalhar”, contou ela emocionada. Disse, também,  que a agressão do ex-marido começou com xingamentos e depois que partiu para a agressão física. “Ele batia no meu rosto, no meu corpo todo, e isso tudo na frente do meu filho. Hoje não era para eu estar aqui falando com vocês, era para eu estar morta”, desabafou.
Ela disse que, com apoio da família, tomou a atitude de encerrar o casamento e preservar sua vida. “Na época, tinha consciência de que acabaria morta se continuasse casada. Hoje vivo uma nova vida”, pontuou. Ela alertou que é questão de vida denunciar. “Hoje eu tenho consciência de que denunciar é a melhor coisa. Não se cale e jamais se sinta culpada”, finalizou.

Atendimentos psicológicos
Sabrina Rampazzo falou que no Juizado são realizadas atividades desenvolvidas pela equipe de psicologia. Como, por exemplo, atendimento individualizado às mulheres, que visa acolher, orientar, fortalecer e realizar os devidos encaminhamentos às mulheres que vivenciam ou vivenciaram violência doméstica, ainda que não tenham realizado denúncia. Além disso, há grupos reflexivos com autores, que são atividades coletivas direcionadas aos homens denunciados como autores de agressão objetivando prevenir a reincidência de violências praticadas contra as mulheres, bem como criar repertórios não violentos para a resolução de conflitos no ambiente doméstico e familiar.

A juíza lembrou dos contatos dos principais veículos de denúncia para as mulheres, como Polícia Militar, Central de Atendimento à Mulher, Patrulha Maria da Penha, Whatapp do Juizado de Violência Doméstica( 64-99311-1518) e do Juizado (64-3631-2505), como também da Delegacia Especializada de Atendimento à Mulher.

O evento
Durante todo o domingo, as mulheres e seus filhos assistiram palestras educativas, tiveram acesso aos serviços de saúde, jurídicos, psicológicos, educacionais e oficinas de cuidados pessoais, além de espaço kids para as crianças. Além disso, eles tiveram transporte gratuito até o local do evento.

“O Judiciário de Jataí não mede esforços para ajudar as mulheres. Nosso objetivo principal com o evento é levar uma reflexão para a sociedade sobre a importância do assunto, aproximando a população do Judiciário, e, com isso, fazendo com que as mulheres denunciem mais”, frisou Layla Milena Oliveira, presidente do Conselho Municipal da Mulher e do Conselho da OAB local.

Arianne Lopes / Fotos: Aline Caetano

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