Inteligência artificial ameaça aprendizado da escrita, alerta escritor Sérgio Rodrigues

Inteligência artificial ameaça aprendizado da escrita, alerta escritor Sérgio Rodrigues

O avanço das ferramentas de inteligência artificial (IA) levanta um alerta importante para o futuro da escrita. Um romance, a redação de escola, uma poesia, uma carta de amor ou até um aviso simples na geladeira podem estar ameaçados, na avaliação do escritor Sérgio Rodrigues, jornalista e romancista. Para ele, a perda da prática de escrever representa um retrocesso civilizatório e intelectual significativo.

No seu mais recente livro, “Escrever é humano: como dar vida à sua escrita em tempo de robôs”, Rodrigues aborda a necessidade de atenção e estímulo à prática da escrita, destacando que, embora a IA avance rapidamente, os robôs ainda não conseguem replicar a subjetividade e a criatividade humanas. A obra será lançada em Brasília na próxima quinta-feira (18).

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“Mais do que pelo mercado de trabalho, eu temo um retrocesso civilizatório e intelectual”, afirma Rodrigues, destacando que a escrita é uma tecnologia de pensamento que não pode ser terceirizada por completo sem prejudicar o desenvolvimento da mente humana.

Durante entrevista, o autor explicou que a ideia do livro surgiu como um manual para iniciantes na escrita, principalmente de ficção, mas a emergência das tecnologias de IA alterou o foco da obra. “Eu entendo que escrever com criatividade é tudo o que o robô não sabe fazer. A IA imita a linguagem humana de forma impressionante, mas não possui as dimensões que estão por trás da escrita criativa verdadeira.”

Rodrigues alerta que o impacto da IA não se limita ao mercado de trabalho, onde já substitui tarefas humanas com rapidez e baixo custo. “A maior ameaça é o ser humano desaprender a escrever. Você pode terceirizar tudo, da lista de compras ao e-mail, e, quando isso acontece, se esquece como se escreve.”

O escritor ressalta que a educação escolar desempenha papel crucial nesse cenário. Se não houver controle sobre o uso da IA em trabalhos acadêmicos, crianças podem deixar de desenvolver habilidades essenciais de escrita. Ele destaca a importância de cultivar o prazer de escrever, lembrando que a superficialidade na leitura e no pensamento crítico já vinha crescendo antes do surgimento dessas tecnologias.

Rodrigues defende que escolas e famílias criem ambientes seguros para a escrita e o pensamento, nos quais a IA não seja protagonista. Cita a Finlândia como exemplo, país que inicialmente incorporou computadores nas salas de aula, mas depois os retirou para priorizar o desenvolvimento intelectual das crianças.

Para ele, a prática da escrita não se limita à escola: envolve todas as fases da vida, desde a redação acadêmica até a elaboração de cartas pessoais. A falta de leitura e escrita compromete não apenas a expressão individual, mas também a capacidade de relacionamento interpessoal e de pensamento crítico.

“O livro é uma tentativa de abrir os olhos para o que está acontecendo. A IA pode ser uma ferramenta, mas não pode ser a mestre ou dona da pessoa”, conclui Rodrigues, alertando ainda para a necessidade de políticas públicas que regulamentem o uso da inteligência artificial, frente à pressão das grandes empresas de tecnologia.

Por Victor Santana Costa
Foto: Reprodução
Jornalismo Portal Pn7

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Víctor Santana Costa

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