
Foto: Tchelo Figueredo
Goiás tem primeiro caso em investigação de hepatite aguda grave de causa desconhecida em crianças. Trata-se de uma menina, de 2 anos, moradora de Aparecida de Goiânia, que chegou a ser internada, mas já recebeu alta. A paciente faz parte de um dos 47 registros em apuração da doença no Brasil. Especialista alerta para importância de responsáveis ficarem atentos aos sintomas.
No País, os 47 casos em investigação, em 11 estados diferentes. Outros dez já foram descartados, sendo um deles em Goiás. O registro em investigação foi notificado dia 14 de maio. “Atualmente, a classificação de um caso provável de hepatite aguda grave de causa desconhecida é com base no descarte de outras hepatites e doenças de base. Ela (a paciente) foi submetida aos testes e aguardamos o resultado para hepatite E. Por isso, o caso ainda tem classificação pendente”, explica a superintendente de Vigilância em Saúde da Secretaria de Estado da Saúde (SES-GO), Flúvia Amorim.
Na última semana, a SES-GO já havia emitido um alerta para sintomas e a necessidade de notificação de casos de hepatites agudas.
A menina apresentou os sintomas clássicos de hepatite como dor abdominal, vômito, diarreia e icterícia. A gastropediatra Mariana Di Paula explica que esses sintomas são os mais comuns da doença. “Os responsáveis também devem ficar atentos à urina muito escura, fezes esbranquiçadas e alterações nos exames do fígado”, diz a Mariana Di Paula, que é gastropediatra. A médica explica que apesar de ainda não se ter certeza sobre o agente causador da doença, o essencial é que o atendimento médico seja feito no tempo correto.
“É imprescindível procurar atendimento médico para fazer os exames necessários. Se o profissional ver que é necessário, encaminhará o paciente para o serviço de referência. É importante lembrar que caso a situação chegue numa fase muito aguda, a criança pode precisar de transplante hepático, que não é feito em Goiás e precisamos de tempo para mandá-la para outros estados”, relata. No momento atual, o tratamento da doença é apenas dos sintomas.
O primeiro caso da hepatite aguda grave de causa desconhecida foi registrado no dia 5 de abril, no Reino Unido, onde se notou um aumento de notificações em crianças anteriormente saudáveis, menores de 10 anos e residentes da Escócia. Uma semana depois foram notificados casos sob investigação na Inglaterra, País de Gales e Irlanda do Norte. Atualmente, de acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), já são mais de 300 casos pelo mundo em crianças com idade entre um mês e 16 anos. Há relato da morte de uma criança, mas ainda sem informações sobre país ou idade.
A hepatite é uma inflamação do fígado. Existem diferentes causas que levam a esta inflamação, mas as mais frequentes são a ação de vírus, que são os responsáveis, por exemplo, pelas hepatites A, B, C, D e E. Quando a inflamação ocorre de forma rápida e abrupta, é chamada de hepatite aguda ou fulminante. Até agora, os exames laboratoriais relacionados à hepatite aguda grave em crianças descartam casos de hepatite viral conhecida. “Acontece quando a inflamação está tão intensa que interfere no funcionamento do fígado. Em alguns casos, é necessário o transplante”, afirma Mariana.
O que se sabe até o momento é que em aproximadamente 10% dos casos de crianças com hepatite aguda grave de causa desconhecida, foi necessário realizar um transplante de fígado. “A maioria dos casos de hepatite normalmente têm uma boa evolução. Nos casos de hepatite A, cerca de 1% deles costuma evoluir com maior gravidade. Também são raros os pacientes que têm hepatite B e evoluem dessa maneira”, comenta a gastropediatra.
Adenovírus pode ser resposta
Em muitos casos de crianças com hepatite aguda grave de causa desconhecida, os cientistas verificaram também infecção por adenovírus e a ligação entre esses dois é investigada como uma das hipóteses sobre as causas desta hepatite.
O adenovírus é um vírus comum que pode causar sintomas respiratórios ou vômito e diarreia. Em geral, a infecção não é longa e não evolui para quadros preocupantes. Porém, em alguns casos também foi detectada a presença do coronavírus causador da Covid-19, o Sars-CoV-2. “Acredita-se que a associação dele com a infecção prévia pela Covid-19, somada à predisposição genética podem levar ao quadro de hepatite aguda grave”, explica Mariana.
Uma das hipóteses é que algumas crianças, quando infectadas pela Covid 19, permanecem com o vírus “adormecido” em algumas regiões do corpo, inclusive no intestino, ativando o sistema imunológico. “Quando esta criança entra em contato com o adenovírus, a infecção atual, somada à inflamação prévia pelo vírus da Covid-19, pode ser um gatilho para uma reação inflamatória muito intensa no fígado, levando aos quadros de hepatite aguda grave.” É importante destacar que a maioria dos casos documentados até agora foi de crianças que não estavam vacinadas para a Covid 19, ou seja, estes quadros muito provavelmente não têm nenhuma relação direta com a vacina.
Apesar de a causa ainda ser desconhecida, Mariana explica que, levando em conta que a doença deve ter uma etiologia infecciosa viral, a prevenção pode ser feita com base na etiqueta respiratória como lavar as mãos, cobrir a boca e o nariz ao tossir ou espirrar e usar máscara se estiver com sintomas gripais. “Neste momento, as crianças devem evitar se infectar com o adenovírus.”
Fonte: O Popular
Foto: Tchelo Figueredo
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