22 de dezembro de 2024
Estudo do FGV/Ibre aponta ampliação na concentração de renda e na distância entre a elite e outras classes sociais; resultado pode ser explicado pela forte presença do agronegócio.

A renda da elite goiana teve crescimento real de 53% em um período de cinco anos. O estado tem 505 pessoas entre os 0,01% mais ricos do Brasil, que registraram renda média de R$ 1,9 milhão. Além disso, Goiás é o 5º com maior diferença entre a renda dos mais ricos e a classe média. O dado indica que o estado é um dos mais desiguais do País.

As informações constam na segunda fase do estudo “Concentração de renda no topo”, publicado pelo Observatório de Política Fiscal do FGV/Ibre (Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas). A pesquisa analisou a concentração de renda dos mais ricos entre 2017 e 2022, com dados de cada unidade da federação. O estudo foi realizado com base nas declarações de Imposto sobre a Renda da Pessoa Física. O período analisado compreende gestões dos ex-presidentes Michel Temer (MDB) e Jair Bolsonaro (PL), além dos principais anos de enfrentamento à Covid-19.

Responsável pelo levantamento, Sérgio Gobetti aponta que houve aumento significativo da renda dos mais ricos em estados em que o agronegócio tem mais peso na economia. “O crescimento da renda da atividade rural, ou do lucro da atividade rural, foi mais pronunciado do que o crescimento dos lucros em geral da economia”, explica Gobetti. Neste mesmo cenário, diz o pesquisador, o salário dos brasileiros, em geral, ficou estagnado, crescendo em média no nível da inflação.

Para explicar o resultado do estudo, Gobetti levanta a hipótese de que as grandes propriedades do agronegócio, que usualmente são ligadas à exportação, se beneficiaram de situações como o aumento do preço internacional da soja e de outros itens produzidos em larga escala. O pesquisador destaca que o pequeno produtor (de menor renda) não foi favorecido por esse “fenômeno conjuntural”.

“Houve uma concentração de renda muito forte no País nos últimos cinco anos. Enquanto os salários ficaram estagnados, os lucros e dividendos cresceram muito. E isso por si só beneficia aquelas pessoas que vivem mais de lucros e dividendos, que são as pessoas mais ricas. E além de esse fenômeno já ter produzido essa concentração de renda em favor dos ricos, especificamente nos estados que têm o agronegócio, ainda teve esse componente fazendo com que nessas unidades da federação os mais ricos tivessem um crescimento da renda mais forte”, explicou Gobetti.

Cada vez mais ricos (Arte O Popular)

O porcentual de aumento na renda da elite em Mato Grosso do Sul e Mato Grosso – estados que também têm forte presença agro – foi ainda mais expressivo que em Goiás, 131% e 115%, respectivamente. Com o resultado, os dois estados que compartilham a região Centro-Oeste com Goiás ficaram em 1º e 3º lugar entre as unidades da federação em que a elite registrou maior porcentual de aumento real de renda em cinco anos. Neste ranking, Goiás ficou em 15º lugar.

No Mato Grosso do Sul, são 221 pessoas entre os 0,01% mais ricos do País, com renda média de R$ 1,9 milhão. Já em Mato Grosso, são 294 pessoas no topo da pirâmide social brasileira, com renda média de R$ 2,7 milhões. O Amazonas ficou em 2º lugar, com aumento de 122%.

Para Gobetti, “diante destes dados, mostra-se injustificável manter o atual nível de isenção de tributos sobre a atividade rural”. “Uma coisa é eventualmente isentar o alimento produzido, mas não faz sentido isentar 80% da renda obtida pelo produtor rural”, declarou.

Aumento

O levantamento demonstra que, no cenário nacional, a renda dos mais ricos cresceu nominalmente 96% em cinco anos. O porcentual é quase três vezes maior do que o registrado pelos mais pobres, de 33%. Quando descontada a inflação de 31,4% do período estudado, a variação real da renda da elite brasileira foi de 49%. Enquanto isso, a variação real para os mais pobres foi de apenas 1,5%.

“Se a gente for fazer uma análise histórica das últimas cinco décadas, não vamos encontrar nenhum período de cinco anos em que a renda média da economia brasileira, ou da maioria da população, tenha crescido tão pouco”, aponta Gobetti.

Como o estudo foi feito com base nos dados de declaração de imposto de renda, não houve detalhamento da variação dos mais pobres por estado. Gobetti explica que a análise nacional deste item foi feita com base em dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

Desigualdade

Entretanto, usando as informações dos declarantes de imposto de renda, o estudo apontou indicativo de desigualdade nos estados, comparando a média da renda dos mais ricos com a classe média. Goiás ficou em 5º lugar, atrás somente de Mato Grosso, São Paulo, Paraná e Mato Grosso do Sul. “Não estou olhando o dado, mas é um indicador de que esses lugares devem ter os maiores índices de desigualdade”, diz Gobetti.

O pesquisador diz ainda que a tendência de concentração de renda do agronegócio ajuda a explicar a presença dos três estados do Centro-Oeste no topo deste ranking. “Já sabíamos que o Brasil era um País desigual, mas descobrimos que essa desigualdade e concentração de renda cresceu muito fortemente nesses últimos anos”, afirmou.

Fonte: O Popular
Foto: Wildes Barbosa
Jornalismo Portal Panorama

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