Garagem vazia por que está cada vez mais difícil financiar um carro

Foto: iStock

Número de financiamento caiu 10,2% em relação a agosto do ano passado.

A vida de quem quer comprar um carro no Brasil não está fácil. Apesar dos estoques de veículos terem se estabilizado, além do alto preço alcançado durante a pandemia, está mais difícil financiar um veículo. Inadimplência e taxas de juros em alta pressionam para baixo a quantidade de crédito aprovado para a compra de automóveis novos e usados.

De acordo com dados reunidos pela B3, no acumulado do ano de 2022, até o mês de agosto, as vendas de veículos financiados somaram 3.551 mil unidades, entre novos e usados – incluindo motos, automóveis leves e pesados. Esse número apresentou uma queda de 10,2% em relação ao ano de 2021, o que equivale a 403 mil unidades financiadas a menos.

Os dados não sugerem, no entanto, que os brasileiros não querem comprar carros, já que o número de consórcios – que têm a aprovação mais fácil – aumentou 25,1% no mesmo período. A penalidade, no entanto, é ter que esperar mais tempo para usufruir do veículo, quando não há dinheiro para dar um lance vencedor ou sorte para vencer o sorteio.

Taxas de juros encarecem o crédito

Dois fatores influenciam na dificuldade do brasileiro de conseguir crédito. Primeiro, a taxa de juros subiu 4,7% nos últimos 12 meses. De acordo com o Branco Central, em agosto de 2021, a taxa anual média para crédito automotivo era de 22,7%, em agosto de 2022, último mês analisado, saltou para 27,4%. O que significa que, além de arcar com o preço do carro, o comprador precisa ter uma renda maior para custear o financiamento.

Ainda segundo informações do Banco Central, a taxa de juros mais baixa é oferecida pela BMW Financeira, na faixa de 12,78% ao ano, e a mais cara, do SF3 CFI, chega a 60,46%.

Outro fator faz com que os bancos sejam mais criteriosos na hora de analisar um pedido de crédito: a taxa de inadimplência do financiamento de veículos, ou seja, pessoas que tomaram empréstimo e deixaram de pagar. Em agosto de 2021, estava em 3,4%, em 2022, em 5,1%.

Vida real

Os dados econômicos já se refletem na vida real. De acordo com a Anfavea – associação das montadoras de veículos -, historicamente, a cada dez pedidos de aprovação de crédito automotivo, entre seis e sete eram aprovados. Nos últimos meses, no entanto, pouco mais da metade das fichas está sendo efetivada.

Cassio Pagliarini, da Bright Consulting, avalia que o cenário econômico atual explica a mudança. “As taxas de juros estão altíssimas, chegando a mais de 27% ao ano. Devido a essa e outras dificuldades do mercado – como redução das remunerações das famílias – a inadimplência cresceu. Com isso, os bancos estão sendo mais rigorosos para aprovar crédito, o que explica a redução do número de clientes passando na peneira”, explica.

De acordo com especialistas, nesse imbróglio ainda há uma outra situação: quando o consumidor até tem o crédito aprovado, mas não tem condições financeiras para atender às exigências dos bancos, como entradas mais robustas e parcelas mais altas do que esperava.

Segundo Pagliarini, o pagamento via financiamento já chegou a representar dois terços das vendas de veículos no passado, atualmente, porém, não chega a 40% das transações.

“Definitivamente está mais difícil comprar um veículo novo, principalmente para quem precisa financiar: o preço e as taxas de juros subiram e o crédito está mais escasso. Esse é um dos motivos de estar crescendo a procura por assinatura de veículos, pois a pessoa usufrui sem contrair a dívida e não precisa de aprovação de crédito, mesmo que pague mais caro por isso”, opina Pagliarini.

Consumidor mais longe do carro zero

Para o consultor automotivo Ricardo Bacellar, mesmo durante o período mais intenso da pandemia, o principal problema da indústria não era a falta de componentes, mas sim a inflação próxima aos 12% e perda de receita do brasileiro médio na casa de 11%, o que deixou o consumidor 23% mais longe do carro zero.

“Antes, faltava carro. Hoje, faltam compradores. E não é por falta de vontade, é que o brasileiro, em média, está com menor poder aquisitivo. O custo do crédito aumentou absurdamente e o nível de inadimplência também está preocupando as instituições financeiras, o que gerou um aperto no crédito. Isso fez as pessoas descerem de categoria, do carro novo para o cada vez mais usado”, analisa o especialista.

Por Paula Gama
Foto: iStock
Jornalismo Portal Panorama
panorama.not.br

CONTINUA DEPOIS DA PUBLICIDADE

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Este site utiliza o Akismet para reduzir spam. Saiba como seus dados em comentários são processados.