Nos versos de uma famosa canção de Renato Russo, o jovem e apaixonado casal Eduardo e Mônica se encontra no Parque da Cidade. Ela, de moto. Ele, de camelo, aliás, de bicicleta. Em Brasília, camelo é uma gíria bem comum, e se refere ao transporte de duas rodas – uma paixão para muitos indivíduos.
É o caso de Ray Pereira, carioca que adotou a capital federal como sua e se mobilizou em prol do esporte. Professor de educação física, ele é uma das figuras mais lembradas da cidade quando o assunto é ciclismo. Afinal, teve a iniciativa de fazer um abaixo-assinado que solicitou ao Governo do Distrito Federal (GDF) a instalação de uma ciclovia no afamado Parque da Cidade. “Sou do tempo em que o parque tinha um bondinho. Mas Brasília foi crescendo, e a pista que tinha lá era para tudo: corredores, patinadores, ciclistas, pedestres…”, diz ele.
O educador conta que, sozinho, conseguiu arrecadar 5 mil assinaturas para levar ao GDF. À época, o cargo de governador era de Agnelo Queiroz. “Enfrentei de tudo. Me afrontaram, riram da minha cara… teve até gente que disse que eu não gostava do parque ao ponto de querer tirar a grama e as árvores”, afirma o ciclista. No entanto, ao fim do mandato, a ideia de criar uma ciclovia no local saiu do papel.
“O Parque da Cidade é a minha vida. Eu vivo o Parque da Cidade”
Ray Pereira, professor de educação física
Além de pedalar, Ray Pereira também é maratonista. Inclusive, foi o décimo brasileiro a conduzir a tocha olímpica. Nas Olimpíadas de 2016, ele teve o prestígio de carregar o tão importante símbolo dos Jogos na Esplanada dos Ministérios. “Isso se deve ao fato de eu ter agido e me mobilizado no esporte da cidade”, compartilha.
Benefícios do ciclismo para a saúde física e mental
Visto o importante engajamento do professor de educação física com o ciclismo da capital é de se esperar que ele tenha encontrado um propósito em ensinar a modalidade às pessoas. Para ele, a atividade proporciona diversos benefícios para o organismo. “Ele é mais social que qualquer outra modalidade esportiva. Por meio dele, você encontra várias tribos”, aponta.
De acordo com o educador, o esporte trabalha o cardiorrespiratório, as pernas e o core. Ainda, se feito de maneira bem orientada, não traz forte impacto aos joelhos e aos tendões. “É um excelente exercício”, informa.
Além dos proveitos físicos, a bike, na opinião do professor, leva o indivíduo a lugares que “ele nunca imaginou ter ido”. “Fazer um pedal respirando, vendo gente nova, em longas distâncias ou em trilhas e tendo contato com a natureza (ainda mais em Brasília, que é uma cidade plana e com muitos lugares bacanas) pode ser considerado uma terapia. É muito bom”, falae.
Estar rodeado de pessoas com o mesmo interesse em comum também é vantajoso, conforme Ray Pereira comenta. “As turmas do ciclismo são pessoas do bem, com astral muito bom. No Mountain Bike, em especial, tem muito companheirismo. Uma pessoa não deixa a outra sozinha, sempre tem alguém para te ajudar”, defende.
Quilômetros rodados
O atleta acumula grandes quilometragens em sua bagagem. Sob duas rodas, ele já pedalou de Brasília a Santa Rosa e até Alto Paraíso de Goiás. No dia a dia, Ray pratica a modalidade, no mínimo, 4 vezes por semana, além de sábado e domingo.
Aos que se interessam pela atividade, o educador físico recomenda alguns passeios. Segundo ele, os iniciantes podem se aventurar no Parque da Cidade. A ciclovia do Eixo Monumental ou os Eixões Norte e Sul são ideais para os fins de semana.
As sugestões para quem já pratica a modalidade são o Poço Azul, Flona – Floresta Nacional de Brasília (Taguatinga), Água Mineral, Cachoeira do Tororó e Trilha Buritis.
Já um destino mais distante que vale o esforço, de acordo com Ray Pereira, é Pirenópolis.
Aos 74 anos, Rosinha “arrasa” no pedal
Outra amante do pedal, a mineira Rosa Tereza (mais conhecida como Rosinha) se mudou para Brasília há mais de 50 anos. O interessante é que, prestes a completar 75 anos, ela não aposentou sua bicicleta e se mantém fortemente ativa no esporte. Você pode encontrá-la passeando pela cidade acompanhada de sua turma da bike.
“Eu pedalo muito e há muitos anos. Quando eu era mais jovem, era doida para ter uma bicicleta, mas tinha uma família sem muito dinheiro. Perto da minha casa tinha um senhor que alugava. Eu juntava dinheiro para alugar e pedalar aos domingos. Acho que eu já nasci gostando disso”, relata.
Rosinha acrescenta que, com o passar tempo, ela se casou e veio morar em Brasília. Por aqui, ela costumava levar seus filhos ao Parque da Cidade. “Eu ficava vendo o pessoal passando de bike e fiquei com aquilo na cabeça. Comecei a ir para lá e alugar”, conta.
A empresária compartilha que ganhou a própria bicicleta de presente de Dia das Mães. “Fiquei com ela e ia para o parque todos os domingos para andar”, diz. Mais tarde, uma amiga da academia a motivou a entrar ainda mais no universo do ciclismo. E assim foi feito.
Uma nova vida
Para Rosa Tereza, o esporte lhe ofereceu grandes benefícios. “Por meio da bike eu fiz muitos amigos. Eles são solidários. Mesmo que você não conheça a pessoa, ela passa do seu lado e está sempre ali para ajudar. Esse é um dos grandes benefícios”, ressalta.
“Eu só conheci Brasília de fato depois que comecei a pedalar. Você vai para tantos lugares. Hoje, conheço locais lindos, como as cachoeiras, que só a bicicleta me proporcionou”
Rosinha, ciclista
No quesito saúde, o caminho é o mesmo. “Você não tem ideia do tanto que é bom. Aumenta a nossa disposição, é tudo de bom. Sou muito ligada ao esporte. Apesar da minha idade, eu deixo muita gente no chinelo, pois pedalo bastante. Tenho muita força na perna”, frisa.
Voltas ao ar livre
Rosinha já participou de vários passeios sob duas rodas. “Fiz um de 4 dias em Florianópolis com a minha amiga. Demos a volta na ilha. Foi muito gostoso”, lembra. Ela também se aventurou em uma jornada de seis dias em Santa Catarina, saindo de Camboriú.
Fora do Brasil, a empresária teve a oportunidade de pedalar na Itália. “Saímos de Florença, pedalamos 7 ou 8 dias, fomos em várias cidades. Foi um passeio lindíssimo. Nunca vou esquecer”, afirma a ciclista, que almeja ir para a Alemanha participar da Rota Romântica.
“Eu pedalo todos os dias. Faço tudo de bike. Além de ser apaixonada, acho que é um carro a menos na rua. Lugar para estacionar também é sempre um problema. Sem contar que é muito mais rápido, pois pego a ciclovia. É bem mais agradável”, fala Rosinha.
Em Brasília, Rosinha integra um grupo que se reúne todos os sábados na Catedral. “Dependendo do circuito, fazemos, 60, 70 ou até 80 km de bicicleta”, revela. Aos domingos? “Tem outra turma. Pedalamos por aí…”, responde.
Por Rafaela Amaral, Claudia Meireles
Foto: Arquivo Pessoal
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