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Peça queridinha no closet das mulheres se torna hit entre homens.

Peça queridinha no closet das mulheres, o cropped já foi popular entre os homens nos anos 1980 e 1990 e agora volta a ganhar o guarda-roupa masculino. De coleções e desfiles de grifes internacionais até campanhas de influenciadores e artistas, como o ator João Guilherme e o pop star Harry Styles, a roupa é o hit da estação.

“É um retorno muito positivo para a moda, principalmente quando falamos sobre a liberdade e expressão do corpo em suas diversas formas”, adianta o estrategista de marcas Jared Rocha, 26, que mantém em seu guarda-roupa croppeds de diversas formas, cores e tamanhos. “A peça vem mudando o comportamento das pessoas e suas expressões corporais, estéticas, artísticas ou de gênero”, diz.

Roupa que se assemelha à camiseta, mas com o comprimento na altura ou acima do umbigo, mostrando a barriga, o cropped fez fama nas últimas décadas do século 20. De Will Smith a Sylvester Stallone, passando por John Travolta e Adam Sandler, muitos foram os famosos que se renderam à peça.

Nos Estados Unidos, o cropped é chamado de “crop top”, popular no uniforme de futebol americano, já que a camiseta do uniforme dos jogadores é geralmente mais curta. Em filmes como A Hora do Pesadelo (1984), é possível ver um Johnny Depp bem mais jovem de barriguinha de fora. Em videoclipes e shows de cantores como Prince e Lenny Kravitz, o cropped mais uma vez é presença garantida.

Polemizado tempos depois por ser considerado uma peça dita feminina, a roupa tem provocado discussões na internet e nos grupos de família. O ator João Guilherme, filho do cantor Leonardo, sofreu ataques virtuais nas últimas semanas após surgir usando a roupa na Paris Fashion Week. “É uma forma de se expressar. Se caiu bem no meu corpo e eu estou gostando, quem mais precisa estar aprovando? Independentemente de ser cropped ou não ser, é realmente o que eu botei no meu corpo e pensei: 100%”, disse o ator nas redes sociais.

Não é raro as vezes em que Jared bota seu cropped para sair em Goiânia e enfrenta olhares ofensivos e repressores nas ruas. “É usar algo que fuja um pouco do ‘padrão’ imposto pela cidade que aquilo já é visto como algo estranho, mas eu gosto de causar essa estranheza nas pessoas, fujo de tudo o que é padrão normativo imposto pela cidade”, argumenta.

Versatilidade

Peça vista como coringa do guarda-roupa, o cropped tem ganhado mais uma vez os desfiles de moda. De grifes internacionais, como Gucci e Louis Vuitton, até assinaturas regionais, a roupa é uma das queridinhas das coleções. Na marca autoral goiana Novelo, a estilista Milleide Lopes aproveitou o clima ensolarado de Goiânia para fabricar modelos ideais para a academia, caminhada ou um happy hour entre os amigos.

“Eu sou da turma que, se você se sente bem, use e abuse mesmo, mas não é qualquer look em qualquer lugar. Tem de ter estilo próprio muito bem definido e saber fazer suas combinações”, explica Milleide, que faz croppeds desde 2012 em suas coleções com modelagens amplas. “A moda hoje está para além da tendência. Precisamos sair da ideia de padrão de corpos”, reitera.

De barriguinha de fora

“Não consigo entender o motivo de me vestir do jeito que quero poder incomodar tanto outra pessoa”, adianta o stylist e DJ Paulo Nunes, 32, que é adepto do cropped há mais de 10 anos. O profissional conta que, por diversas vezes, passou por episódios de tentativas de agressões verbais e até mesmo físicas pelo simples fato de usar uma peça de roupa. “Fera a masculinidade frágil alheia”, completa.

Nos últimos tempos, a moda têm encontrado caminhos para discutir e difundir o conceito genderless, isto é, sem gênero. Não apenas o cropped, mas as saias também têm caído no gosto dos homens. De acordo com Paulo, a moda é cíclica e, de tempos em tempos, retorna com expressões renovadas. “O cropped desconstrói a noção de masculinidade tóxica, de que nós não podemos performar nada que brinque com valores e personificação de genero”, explica Nunes.

De conjuntinhos em cores e estampas, passando por formatos em alfaiataria ou cortes mais rentes ao corpo, os croppeds são reformulados para atender as novas gerações. A stylist Izabelle Capuzzo dá a dica: para dar uma quebrada na composição da peça, o ideal é usar sapatos mais pesados, como botas e coturnos, além de calças e bermudas oversized, com bolsos multifuncionais e cuecas aparentes, especialmente as samba-canção.

“A moda responde a movimentos que acontecem na sociedade e nós viemos de um momento de muito preconceito, padrões de beleza, de gênero. A gente vê que a moda está contestando tudo isso”, reflete Izabelle. Para a profissional, as pessoas estão cansadas de todo o preconceito e escolhendo e exercendo sua identidade. “É uma luta por uma moda sem gênero, não binária”, finaliza a stylist.

Por Clenon Ferreira
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Jornalismo Portal Panorama
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