Você sabia que é possível associar o agronegócio e a sustentabilidade? O tempo passa e cada vez mais as atitudes humanas causam impactos ambientais. Entretanto, nem tudo está perdido, pois há métodos disponíveis na produção rural em prol do meio ambiente, como a agricultura regenerativa.
Segundo Felipe Villela, fundador de uma empresa de consultoria para agricultura regenerativa, o método imita os processos da natureza e se baseia principalmente em aumentar a saúde do solo e a resiliência climática do produtor, com o objetivo de evitar perdas em eventos extremos climáticos, como secas, muitas chuvas e geadas.
Produtores associados de uma empresa de alimentos e bebidas estão ingressando na jornada de regeneração com os novos processos em prol da sustentabilidade. Após adotar as medidas indicadas, a Fazenda Retiro, em Gameleira de Goiás, a 95 km de Goiânia, tem uma média de produção, quando se fala em vacas em lactação, de 34 litros de leite por dia, o que é quatro vezes superior a média nacional do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
Para Bárbara Sollero, zootecnista e gerente de Milk Sourcing da Nestlé, é através da agricultura regenerativa que vai ser possível promover a regeneração da cadeia de produção de leite.
A diretora executiva de transformação digital, inovação e sustentabilidade da companhia, Bárbara Sapunar, afirma que ao pensar em práticas regenerativas, não inclui apenas o meio ambiente e a natureza, mas também os parceiros, produtores e consumidores dos produtos.
“Já não basta só sustentar, a gente precisa começar a regenerar, porque a gente já causou um impacto negativo no nosso planeta. A gente precisa devolver para a natureza muito mais do que a gente está tirando para ajudar a reequilibrar nosso lar”, comenta Bárbara Sapunar.
Felipe Villela explica que o produtor que decidir fazer a transição do sistema convencional para a agricultura regenerativa vai ter ganhos tanto na questão ambiental, quanto social e econômica.
Fazenda
A Fazenda Retiro é administrada pelo produtor rural Waldiney Pereira Dutra. Ele explica que teve muitos desafios para chegar ao nível que está, mas que sempre acreditou no desenvolvimento da propriedade. Para implementar a agricultura regenerativa, ele teve que mudar a rotina e adaptar. O grande marco foi em 2019, quando optou por construir o compost barn para as vacas.
Gustavo Henrique Lobo Dutra, engenheiro civil e filho do dono da fazenda, ajudou na construção do primeiro barracão e, na pandemia, resolveu voltar a Gameleira de Goiás e tocar os negócios com o pai. O engenheiro inclusive fez um curso sobre software para gerenciar fazenda.
“Como estávamos mexendo em algo muito grande e de muito valor, precisávamos de mais tecnologia” explicou Gustavo.
Nesta fazenda aplicam a agricultura regenerativa em três pilares. Segundo Alexandre Berndt, diretor geral da Embrapa Pecuária Sudeste, o sistema privilegia o bem-estar animal, economiza água e reduz a produção de gases através de cuidados com o solo.
Os investimentos foram altos, mas para Waldiney Pereira valeu a pena, afinal, se a vaca produz um leite de qualidade, o consumidor também vai ter um leite de qualidade. Segundo a zootecnista Bárbara Sollero, por causa dos investimentos, tecnologia, melhoramento genético e infraestrutura, a fazenda teve uma evolução de 65% na produção nos últimos cinco anos.
Três Pilares
Bem-estar animal
O bem-estar animal deve ser prioridade desde o nascimento da bezerra até o final da vida da vaca. Para isso, existe um processo de desenvolvimento animal e adaptações na fazenda, como no caso do compost barn.
Compost barn
A zootecnista Bárbara Sollero explica que compost barn é uma grande estrutura com conforto e cama macia para as vacas. A cama tem compostos orgânicos dos próprios animais. Além disso, o ambiente é climatizado, o que traz equilíbrio térmico para as vacas de raça europeia.
“É um sistema inovador que traz benefícios para os animais e para a fazenda. Oferecer um bom ambiente é consequentemente desenvolver o melhor potencial genético e qualidade do leite”, afirmou a zootecnista.
Segundo a Embrapa, esse sistema tem o objetivo de garantir aos animais conforto, higiene e um local seco para descansarem. Com isso, visa reduzir custos de manutenção, fazer o uso correto dos dejetos orgânicos das vacas e melhorar os índices produtivos da atividade leiteira.
No barracão, como é chamado o local do compost barn, os animais recebem alimentação balaceada e a cama é removida 3 vezes ao dia por um equipamento. Esse processo é importante para limpar, matar bactérias e ativar a compostagem.
Além de maior produtividade de leite, o sistema ajuda na saúde do animal e reduz a emissão de gases.
Água
O reaproveitamento de água é um dos pilares da agricultura regenerativa implantada na fazenda. Na propriedade instalaram hidrômetros para ter noção do consumo de água. Lá todos os resíduos vão para uma lagoa de estabilização e água residual é usada nas áreas de pasto.
Além disso, há calhas no telhado do compost barn utilizadas para armazenar a água da chuva. Segundo a zootecnista, em dois anos a fazenda melhorou em 30% a eficiência do uso da água, o que correspondeu a uma economia mensal de 200 mil litros.
Cuidados com o solo
Segundo o produtor rural, a agricultura regenerativa produz 90% dos insumos que os animais consomem na propriedade. Como utilizam os compostos orgânicos das próprias vacas da fazenda, reduzem o custo e uso de adubos químicos. Gustavo Henrique afirmou que a economia na última safra foi de 120 mil reais ao ano.
Nesta fazenda ocorre a rotação de cultura, que é plantar diferentes culturas nos períodos de safra e entressafra. Esse processo é importante, pois cada planta desenvolve uma função abaixo do solo e a ideia é aproveitar ao máximo o potencial de cada uma e manter o solo coberto.
A tecnologia também é uma aliada na jornada de regeneração. De acordo com Bárbara Sollero, o milho tem uma praga comum, a lagarta do cartucho. Entretanto, já existe uma vespa, desenvolvida em laboratório, que pode ser pulverizada via drone para matar de forma biológica essa praga.
Implementação
Conforme Bárbara Sapuner, a Nestlé implantou a agricultura regenerativa nas fazendas parceiras que produzem leite com o objetivo de reduzir as emissões de gases de efeito estufa, melhorar a saúde do animal e a fertilidade do solo, proteger os recursos hídricos e a biodiversidade.
“Nosso recursos podem acabar, precisamos agir agora, mudar nossas atitudes e ter um mundo mais sustentável”, conclui Bárbara.
Júlia Alves, g1 Goiás