Suponha que, em novembro de 2021, Maria e João tenham saído dos locais de prova levando os cadernos de questões do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem). Quando conferiram o gabarito oficial da prova, divulgado pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), descobriram que ambos acertaram o mesmo número de questões na primeira etapa: 65.
No entanto, na última quarta-feira (9), quando os resultados oficiais foram divulgados, eles se surpreenderam: tiraram notas diferentes. Isso acontece por causa do modelo matemático de correção do Enem: a Teoria de Resposta ao Item (TRI).
Explicando de forma simplificada, é um método que busca priorizar a coerência no desempenho dos candidatos. Se alguém acerta as questões mais difíceis, mas erra aquelas consideradas fáceis, provavelmente “chutou” as respostas. Por isso, terá uma nota inferior à de um estudante que acertou as fáceis, mas errou as mais complexas.
Como a TRI funciona?
A prova é preparada com perguntas pré-classificadas como fáceis, médias e difíceis. O esperado é que o candidato tenha um desempenho melhor nas mais simples. A TRI faz uma análise estatística, “antichute”, para calcular uma nota final que indique se houve coerência nas respostas.
Um exemplo: supondo que haja, no Enem, uma questão sobre quanto é 3 vezes 2. O candidato erra e responde 5, em vez de 6. Outra pergunta pede que o aluno calcule a área de um retângulo cuja base meça 3 cm e a altura, 2 cm. Ele responde corretamente: 6 cm².
Pela TRI, mesmo acertando a pergunta mais difícil, o aluno faria menos pontos. Isso porque, se ele não conseguiu efetuar a multiplicação da primeira questão, não teria como saber a resposta da segunda. Ou seja: provavelmente, “chutou” a resposta.
Para que existe a TRI?
A TRI apresenta as seguintes vantagens em relação ao método clássico de correção:
- ao detectar os famosos “chutes”, premia o aluno que, de fato, se preparou para a prova;
- possibilita a comparação entre candidatos que tenham feito diferentes edições do exame;
- torna mais improvável que dois concorrentes tirem exatamente a mesma nota – já que o resultado final é divulgado com duas casas decimais (816,48 pontos, por exemplo).
Vale a pena deixar questão em branco?
Não. A TRI não tira pontos de quem chuta a resposta – apenas dá uma pontuação menor para o acerto “na sorte”.
O aluno com desempenho incoerente, que errou as fáceis e acertou as difíceis, vai ganhar menos pontos, mas não vai perder nada.
Não preencher o gabarito, portanto, não é uma boa estratégia.
A redação também é por TRI?
Não. A TRI só vale para as respostas de múltipla escolha. Na redação, os corretores atribuem uma nota de 0 a 1.000, com base nas competências exigidas pelo Enem.
Contestação de notas
Na última quinta-feira (10), candidatos do Enem 2021 postaram nas redes sociais pedidos para que o Inep revise as notas da prova. Segundo relatos, há quem tenha tirado cerca de 800 pontos na redação de 2020 e cerca de 600 na de 2021. Essa “quebra de padrão” no desempenho poderia indicar inconsistência nos dados divulgados, afirmam os estudantes.
O portal entrou em contato com o Inep para saber se haverá um processo de revisão de notas, mas não recebeu resposta até a última atualização desta reportagem.
Por g1
Foto: Divulgação
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