
Foto: Arquivo
No dia 31 de maio, aniversário de Jataí, a cidade tradicionalmente realiza o desfile cívico-militar, no qual são apresentados diversos aspectos sócio-histórico-culturais do município e são representados as diversas instituições, entidades e povos que constituem a cidade. Em 2023, diversas denominações religiosas foram convidadas a participar da festividade, representando as diversas crenças que convivem no município.
Durante o desfile foi possível ver representações do catolicismo, do protestantismo, do neopentecostalismo e das religiões de matriz africana. Cenas do desfile mostram a presença de imagens religiosas, de festas populares e até de pastores portando bíblias. No entanto, o desfile não terminou de forma festiva todos.
Lideranças e participantes de terreiros e centros de Umbanda e de Candomblé denunciaram posturas de intolerância religiosa praticada contra o grupo durante e logo após o desfile cívico-militar. Nas redes sociais a Casa de Candomblé Ile Ase Oya Mesan Onira, divulgou nota de repúdio às atitudes dos organizadores do evento, do locutor e de pessoas que hostilizaram o grupo na dispersão do desfile.
Segundo denúncia recebida pelo Portal Panorama, os representantes das religiões de matriz africana foram impedidos de realizar cantos na frente do palco principal do evento, no qual se colocavam as autoridades, o que não aconteceu com outras denominações. No fim do desfile, já na área de dispersão, eles foram hostilizados por um grupo oriundo de uma escola estadual que, segundo os denunciantes, foi instigado por sua diretora a entoar cânticos evangélicos como forma de oprimir os participantes.
Em vídeos disponibilizados por populares nas redes sociais é possível ouvir o locutor do evento agradecer os participantes, mas logo depois, quando o grupo começa a se preparar para apresentar um cântico na frente do palco, o locutor diz: “Vamos seguindo, porque o desfile está cumprido!” e afirma que a apresentação do grupo de matriz africana não está “dentro do protocolo”. Segundo os denunciantes, pessoas da organização os orientavam a seguir sem fazer a apresentação.
O babalorixá Gabriel de Onira, da casa Ile Ase Oya Mesan Onira, declarou “Infelizmente fomos vetados. Os locutores não conseguiram nos diferenciar da denominação Espírita, não deram atenção para nossa apresentação e falaram sobre outras religiões enquanto desfilávamos” .
Já a yalorixá Cida da Iansã, afirmou estar indignada com a situação: “A minha cidade tem que aprender a respeitar as diferenças, aprender a respeitar a fé dos outros. Somos todos iguais perante Deus, todos filhos dele. Minha indignação vem da gente ser convidado e depois não ser tratado igual e ser afrontado.”
As religiões de matriz africana
As religiões de matriz africana englobam uma ampla variedade de tradições, incluindo o Candomblé, a Umbanda, o Vodou, o Tambor de Mina, o Batuque, entre outras. O Candomblé, por exemplo, que tem suas origens principalmente na região da atual Nigéria, cultua os orixás, divindades que representam diferentes aspectos da natureza e da vida humana. Já na Umbanda, que surgiu no Brasil, há uma combinação de elementos do Candomblé e de outras tradições.
As religiões de matriz africana valorizam a conexão com a natureza, a ancestralidade e o culto aos antepassados. Os rituais envolvem música, dança, cânticos, oferendas, transe mediúnico e outros elementos que visam estabelecer uma comunicação entre o mundo espiritual e o mundo terreno.
É importante destacar que as religiões de matriz africana sofreram perseguição e discriminação ao longo da história, principalmente devido ao sincretismo religioso e à associação pejorativa com práticas consideradas “pagãs” ou “diabólicas”. No entanto, nas últimas décadas, houve um processo de valorização e resgate dessas tradições, reconhecendo sua importância cultural, religiosa e social.
Intolerância religiosa é crime
As religiões de matriz africana são o alvo mais frequente de quem não respeita a liberdade de crença. Segundo dados do Ministério dos Direitos Humanos, só em 2022 foram 1.200 ataques – um aumento de 45% em relação a 2020.
Recentemente, a Lei nº 14.532/2023 foi promulgada, introduzindo uma alteração ao artigo 140 do Código Penal. O parágrafo terceiro desse artigo estabelece que, no caso do crime de injúria, quando envolver elementos relacionados à religião, à condição de pessoa idosa ou com deficiência, a pena será de reclusão de um a três anos, além de multa.
Por sua vez, o Estatuto da Igualdade Racial (Lei 12.288/2010) dedica um capítulo específico (Capítulo III) aos direitos relacionados à liberdade de consciência, crença e livre exercício dos cultos religiosos.
O objetivo dessas leis é promover a igualdade racial, combater a intolerância religiosa e assegurar a plena liberdade de consciência, crença e culto para todos os cidadãos, independentemente de sua religião ou origem étnica.
Nota da Prefeitura de Jataí
A equipe do Portal Panorama procurou a Secretaria de Comunicação da Prefeitura Municipal para esclarecimento dos fatos e recebeu a nota que segue abaixo:
NOTA RESPOSTA AO PORTAL PANORAMA
A Prefeitura de Jataí esclarece que a maior demonstração de respeito com as religiões de matriz africana foi a inclusão das mesmas no Desfile Estudantil, Cívico e Militar do último dia 31/05.
A todo tempo a equipe organizadora enfatizou a importância do respeito com todas as religiões, e inclusive da matriz africana.
Quanto às reclamações que circulam na nota de repúdio, as mesmas não procedem, visto que nenhum outro segmento religioso realizou cerimônia ou parte de cerimônia em frente ao palanque.
Salientamos que inclusive um dos pedidos da organização é que não houvessem apresentações paradas em frente ao palco, mas apenas as mesmas fossem continuas, com o objetivo de não alongar o tempo do desfile, a única exceção foi para a banca do colégio militar, que cantou os parabéns para a cidade, pois todo aniversário tem que ter parabéns.
Nos colocamos a disposição para quaisquer esclarecimentos.
GUILHERME ALVES
Superintendente de Comunicação
Por Estael Lima
Foto: Arquivo
Jornalismo Portal Panorama
panorama.not.br
Pelo que entendi , as outras religiões foram bem comentadas . Enquanto a matriz africana nao teve oportunidade nem de se apresentar. Mandarm seguir em frente rapido.sem nenhum comentario . Como as outras 😥