Do “Pão de Toni” à Bauducco: a história e as lendas por trás do panetone natalino
A pergunta “por que comemos panetone no Natal?” ressurge todos os anos, acompanhando a presença quase obrigatória do doce nas mesas brasileiras durante as festas. Símbolo das ceias de fim de ano, este pão adocicado de origem italiana, tradicionalmente recheado com frutas cristalizadas e uvas-passas, consolidou-se como um dos principais ícones do Natal. Sua associação com valores de celebração, partilha e união familiar explica, em parte, essa tradição.
Uma origem entre a história e a lenda
As origens precisas do panetone não contam com uma comprovação documental total. Os historiadores sabem que a criação ocorreu na Itália, com forte ligação a Milão e ao norte do país. Alguns indícios apontam para um surgimento ainda na Idade Média, período em que os padeiros preparavam pães especiais para celebrações religiosas. Além disso, a primeira menção documentada data de 1470, em um manuscrito da Biblioteca Ambrosiana de Milão.
No entanto, a narrativa mais popular é uma lenda que remonta a 1495, na corte do duque Ludovico Sforza, em Milão. Segundo a história, a sobremesa oficial de um banquete de Natal queimou. Então, um ajudante de cozinha chamado Toni improvisou um pão fermentado com farinha, ovos, açúcar, frutas cristalizadas e passas. O sucesso foi tão grande que os convidados batizaram o doce de “pão de Toni” – “pan di Toni” –, expressão que depois evoluiu para “panetone”. Embora seja apenas uma lenda, ela reforça fortemente o vínculo do doce com as festas natalinas italianas.
O símbolo da partilha que cruzou o oceano
Historicamente, as pessoas reservavam pães mais elaborados e com ingredientes caros para datas especiais. Por isso, o consumo do panetone no Natal passou a representar fartura, prosperidade e generosidade. Afinal, dividir o pão sempre simbolizou o ato de compartilhar o melhor que se tem. Este gesto de confraternização se alinha perfeitamente ao espírito natalino.
No Brasil, o hábito ganhou força com a imigração italiana a partir de 1874, principalmente em estados como São Paulo, Rio Grande do Sul e Espírito Santo. Posteriormente, um marco decisivo para sua popularização em massa foi a atuação da indústria Bauducco. Fundada por Carlo Bauducco, a empresa chegou ao Brasil em 1952, no bairro do Brás, em São Paulo, e trouxe a receita original com o fermento natural típico de Milão, a massa madre. Décadas depois, a empresa inovou ao lançar o chocotone, uma versão com gotas de chocolate que conquistou um novo público e, consequentemente, ampliou o mercado.
Consumo robusto e adaptação ao paladar local
Atualmente, a Bauducco produz cerca de 80 milhões de panetones e chocotones por ano, o que a consolida como a maior produtora mundial. Os números do consumo no Brasil confirmam essa força. De acordo com a Associação Brasileira das Indústrias de Biscoitos, Massas Alimentícias e Pães & Bolos Industrializados (Abimapi), entre novembro de 2024 e janeiro de 2025, o país consumiu aproximadamente 49,7 mil toneladas do produto.
Portanto, independentemente das preferências pessoais – com ou sem frutas cristalizadas –, o panetone mantém seu status como um símbolo duradouro do Natal. Sua trajetória, que vai das lendas medievais de Milão à produção industrial em larga escala no Brasil, reflete uma notável capacidade de adaptação. Ao mesmo tempo, ele preserva os significados de união, abundância e celebração que marcam a data.
Por Gessica Vieira
Foto: Reprodução
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