No primeiro semestre de 2023, dez motoristas foram flagrados pelas autoridades por hora em Goiás usando o celular enquanto dirigiam.
Ao todo, foram 43,3 mil infrações nos primeiros seis meses deste ano, uma média de 239 registros por dia. Os dados são do Departamento Estadual de Trânsito de Goiás (Detran-GO). Especialista aponta que o número ainda não reflete a realidade do uso massivo dos aparelhos no trânsito e alerta para a possibilidade de acidentes graves.
Atualmente, pelo Código de Trânsito Brasileiro (CTB), o uso do celular ao dirigir não é previsto como crime de trânsito, mas é classificado como uma infração gravíssima, que prevê multa no valor de R$ 293,47 e sete pontos na Carteira Nacional de Habilitação (CNH) do motorista.
Em Goiás, quando comparado com o primeiro semestre de 2022, o número de infrações por usar o celular no trânsito nos primeiros seis meses de 2023 teve um leve aumento. No ano passado, foram 40,8 mil registros, número 6,2% menor que o deste ano. Considerando 2019, ano pré-pandemia da Covid-19, o número teve um crescimento de 45%. Naquele ano, Goiás teve 29,8 mil infrações do tipo no primeiro semestre.
Dados ainda desatualizados do Ministério de Transportes, que dependem da alimentação dos departamentos de trânsito dos estados brasileiros, apontam Goiás como o terceiro estado brasileiro com o maior número de ocorrências do uso de celular no trânsito considerando o primeiro trimestre de 2023, perdendo apenas para São Paulo e Minas Gerais. Reportagem do Bom Dia Brasil veiculada na segunda-feira (3) mostrou que, no País, 60,9 mil motoristas foram flagrados dirigindo enquanto usavam o celular nos três primeiros meses deste ano, um aumento de 30% em comparação com o mesmo período do ano passado.
O engenheiro especialista em trânsito e professor do Instituto Federal de Goiás (IFG), Marcos Rothen, explica que apesar da quantidade de infrações do tipo registradas em Goiás nos primeiros seis meses deste ano ser alta, ela ainda não reflete a realidade do trânsito goiano. “A maioria das pessoas mexe no celular. Isso vai desde os condutores de carros e motos até os ciclistas e pedestres”, enfatiza.
Uma diretriz da Associação Brasileira de Medicina de Tráfego (Abramet) sobre uso de celular e a direção veicular, publicada em 2021, evidencia que a ato de digitar uma mensagem de texto, faz com que o veículo seja conduzido por diversos metros sem o olhar atento do condutor que chega a ficar, em média, 4,5 segundos sem prestar atenção na via e, dependendo da velocidade, poderá percorrer até 100 metros sem atenção, “tempo e distâncias suficientes para atropelar pedestres, ciclistas e colidir com outros veículos”, diz trecho do texto que aborda a chamada Falha de Atenção ao Conduzir (FAC).
Rothen aponta que essa falta de atenção é crucial para facilitar acidentes de trânsito que podem ser evitados. “As pessoas estão viciadas. Não avaliam mais as situações de risco. Usam o celular em qualquer situação. Outro dia vi uma mãe atravessando uma avenida com um bebê em um carrinho e ao mesmo tempo com o celular na mão. Se viesse um carro desgovernado, ela não conseguiria tentar proteger o bebê. A desatenção se repete com os condutores de veículos”, esclarece.
O especialista destaca que apesar da alta velocidade ser um agravante para a ocorrência de acidentes, o uso do celular pode provocar sinistros graves mesmo em baixas velocidades. “É comum as pessoas usarem o celular enquanto estão nos semáforos. No momento da saída, por exemplo, é comum que engatem os carros, acelerem e voltem a usar o celular. Se acontecer qualquer coisa nesse momento, o condutor não vai conseguir reagir a tempo”, enfatiza.
O especialista pontua ainda que tem percebido uma piora no comportamento dos motoristas, especialmente os de carros. “Antes, eram só ligações. Depois, eles passaram para as mensagens de texto. Agora, vemos pessoas assistindo vídeos ou fazendo chamadas de vídeo. Esse é o pior cenário de todos. O que já era grave, agora ficou gravíssimo”, alerta Rothen, que salienta que parar em local inapropriado para mexer no celular e usar fones ou o sistema do próprio veículo para atender chamadas também são consideradas infrações.
Solução
Mesmo com o número alto de infrações, Rothen aponta que é necessário aumentar ainda mais a fiscalização. “As pessoas sabem que é algo proibido. Prova disso é que quando elas veem um agente de trânsito, imediatamente guardam os celulares. Por isso, a fiscalização não pode acontecer de forma eventual. Precisamos de mais agentes de trânsito nas ruas. O monitoramento precisa ser constante”, esclarece o especialista.
Além disso, ele destaca que é essencial promover mais campanhas educativas. “Não pode ser uma campanha genérica. É preciso pensar no tema de forma crítica. Antigamente, todo mundo fumava. A redução do tabagismo no Brasil foi fruto, principalmente, da conscientização da população. As pessoas têm de aprender a esperar (para usar o celular). Nada é tão urgente que valha a pena pôr em risco a vida de alguém”, finaliza Rothen.
Por Mariana Carneiro
Foto: Fábio Lima
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