Imagens mostram a área desmatada, em local próximo ao portão de entrada do Parque das Emas (Foto: ICMBio)

ICMBio flagra retirada de árvores em Área de Preservação Permanente, que margeia importante Unidade de Conservação do Cerrado.

Pelo menos 50 hectares de Cerrado foram desmatados às margens do Parque Nacional das Emas, que envolve os municípios goianos de Mineiros e Chapadão do Céu, na região Sudoeste, e Costa Rica, no Mato Grosso do Sul. Como mostrou reportagem da TV Anhanguera na quinta-feira (16), a descoberta foi feita por servidores da Unidade de Conservação (UC), gerida pelo Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), que é vinculado ao Ministério do Meio Ambiente, durante uma fiscalização de rotina. A destruição é ilegal por estar em Área de Preservação Permanente (APP).

O desmatamento ocorreu a 500 metros do portão do parque numa área que é uma espécie de corredor ecológico por onde transita a fauna local. Em um dos vídeos feitos pelos fiscais é possível ver uma arara solitária numa das poucas árvores que sobraram. Outro fato revelado é que a destruição ocorreu em locais de nascentes, onde há a presença de buritizais, espécie que é endêmica em terrenos de muita umidade.

“Entraram no Instituto de Meio Ambiente do Mato Grosso do Sul (Imasul) com documentos falsos para obter o licenciamento. Tudo o que acontece a até 3 quilômetros do parque tem de passar por nós, desmatamento ou empreendimentos. Eles fizeram um mapa como se não tivesse área de amortecimento, não mencionam o parque. Esta é uma das últimas áreas de mata remanescentes fora do parque”, detalha o diretor Marcos Cunha.

Dos 132 mil hectares que formam a Unidade de Conservação, 4 mil estão dentro de Costa Rica, município sede da fazenda Olho D’Água, propriedade rural que contratou a empresa especializada para fazer o desmatamento. Quando o ICMBio se deparou com a ação, embargou a área e apreendeu o maquinário. “Pedimos os documentos e vimos que houve fraude no licenciamento. Temos conhecimento e treinamento. A gente bate o olho e percebe o que foi feito de forma incorreta. Nesse caso usaram mapas falsos”, afirma Marcos Cunha.

Nesta sexta-feira, o caso foi levado ao conhecimento do Ministério Público Federal (MPF), que deverá acionar a Polícia Federal para investigar o caso. Segundo Marcos Cunha, não dá para saber ainda se a responsabilidade é do Imasul, órgão responsável pelo licenciamento ambiental ou do consultor contratado para obter o documento. “Eles contam com a fragilidade do órgão, que não possui pessoal suficiente para fiscalizar ou com a pandemia da Covid-19. Em menos de um ano nos deparamos com duas fraudes em documentos emitidos pelo Imasul.”

Para o servidor do ICMBio, embora o parque proteja uma importante área de Cerrado, também está muito ameaçado pela pressão do agronegócio. “O parque todo margeia o Mato Grosso do Sul e a maioria dos nossos problemas está ali. Hoje a agricultura é forte, com muito maquinário. Estamos cada vez mais pressionados.” Para Marcos Cunha, as unidades de conservação no Brasil passaram a sentir mais essa pressão com a mudança da legislação, em 2012, com a criação do novo Código Florestal, que tem provocado interpretações errôneas do que é área úmida e Áreas de Proteção Permanente.

No licenciamento ambiental apresentado ao ICMBio consta que o terreno desmatado foi antropizada anteriormente, o que é permitido pela legislação, mas imagens de satélite provam o contrário. “Era uma mata consolidada, não era usada na agricultura”, diz Marcos Cunha.

O desdobramento do caso só deve ocorrer na segunda-feira (20) após o feriado prolongado de Corpus Christi, quando o Imasul e o MPF devem se posicionar.

Marcos Cunha disse que não foi procurado pelo proprietário da área, que não estava no local no momento do flagrante.

Área de preservação e de ecoturismo

Em Goiás existem apenas dois parques nacionais, o da Chapada dos Veadeiros, na região Nordeste, e o das Emas, na região Sudoeste. Ambos, geridos pelo ICMBio, enfrentam embates constantes com representantes do agronegócio. Ambos são abertos à visitação e, além da importância que representam para a preservação da fauna e da flora do Cerrado, fomentam a economia local pelas atividades do ecoturismo.

O Parque Nacional das Emas possui 354 km de trilhas que podem ser percorridas em carro-safári, de bicicleta ou a pé em visitas guiadas. Pela área também correm importantes mananciais, como os rios Taquari, Araguaia, Formoso e Jacuba, que proporcionam atividades como passeios de bote e boia cross.

Quem visitar o parque vai se deparar não somente com os verdes e chapadões, mas pelo caminho poderá encontrar aves e animais que habitam a região como emas, araras, lobos, tamanduás-bandeira, antas, veados, entre outros. Mais de 400 espécies de aves vivem por ali e cerca de 70 mamíferos, entre eles quatro espécies de veados campeiros.

Outra grande atração da UC é a bioluminescência dos cupinzeiros, um fenômeno raro que ocorre após as primeiras chuvas, entre outubro e janeiro. Pontos de luz fluorescente de cor esverdeada, produzidos por larvas de vaga-lumes para atrair insetos, irradiam de dentro dos cupinzeiros quando a noite chega.

Fonte: O Popular
Foto: ICMBio
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