14 de dezembro de 2024
Dèjá vu neurologista alerta que fenômeno nem sempre é inofensivo

Foto: Nikada/Getty Images

Segundo especialistas, a falsa sensação de lembrança é uma falha do circuito cerebral relacionado à memória, percepção e o lobo temporal.

Quem nunca sentiu, diante de uma situação completamente nova, já ter vivido algo parecido antes? Trata-se de um sentimento que recebe o nome de déjà vu, e significa “já visto”, em português. Segundo especialistas, o evento é uma ilusão que ocorre quando o sujeito experimenta sensações de familiaridade em um cenário novo e desconhecido, e se recorda de um acontecimento que não viveu.

Embora a expressão tenha surgido no século 18, atualmente já é possível observar e estudar o fenômeno através da neurologia e atribuir as suas causas a questões neurológicas, especificamente a distúrbios nas funções cognitivas relacionadas à memória e atenção. Todavia, esse tema ainda é um desafio para a ciência.

Estudos mostram que a falsa sensação de lembrança é uma falha do circuito cerebral relacionado à memória, percepção e o lobo temporal. Indivíduos que não são familiarizados com a situação chegam a confundi-la com alucinações e estados fora da realidade. De acordo com o neurocientista e diretor do Centro de Pesquisas e Análises Heráclito, Fabiano de Abreu, o déjà vu é considerado um fenômeno sem causas patogênicas nem manifestações físicas e ocorre de maneira rápida e espontânea. Entretanto, quando ocorre com frequência, deve ser investigado por um especialista.

“Para que o déjà vu seja considerado de ordem patológica, é necessário que ele aconteça com certa frequência e tenha um maior tempo de duração. Caso seja recorrente, é importante investigar se essas sensações não estão sinalizando algo mais grave”, alerta Abreu.

O neurocientista explica que existem patologias associadas à ocorrência: as principais são a epilepsia e doenças psiquiátricas. Geralmente, as enfermidades surgem quando há uma alteração das atividades do cérebro, causando curto-circuito nos disparos elétricos das células nervosas, que provoca uma perturbação sem sincronia nos pensamentos e comportamentos. Embora pesquisadores estudem o dèjá vu, a ciência ainda não conseguiu encontrar todas as respostas que expliquem suas origens.

“Não há dados conclusivos sobre suas causas e suas conexões com distúrbios neurológicos, como a epilepsia e esquizofrenia, nem sua relação com questões psiquiátricas, como a ansiedade e depressão. Para afirmar que o déjà vu ocorreu, é levada em consideração a subjetividade do indivíduo e seu entendimento sobre os próprios processos cognitivos”, esclarece.

Tipos de dèjá vu

O neuropsiquiatra Vernon M. Neppe, propôs, no livro “The Psychology of Déjà Vu”, de 1983, que existem quatro tipos de déjà vu:

  • Déjà vécu: sensação de já ter visto ou vivido algo, geralmente são sentimentos detalhados e com maior duração do que o dèjá vu comum. São intensos e a memória é persistente;
  • Déjà senti: esse fenômeno especifica algo “já sentido”, mas sem o mesmo sentido do déjà vécu. O déjà senti é exclusivo para um acontecimento mental, sem aspectos pré-cognitivos, e raramente permanece na memória da pessoa logo depois;
  • Déjà visité: está relacionado a um lugar novo, a pessoa conhece absolutamente tudo sobre o lugar, sem nunca ter pisado nele;
  • Jamais-vu: nomeia a sensação de medo e insegurança, isto é, sabermos que estamos na situação pela primeira vez, mas com um sentimento ruim como se já tivéssemos passado por ela antes.

O que fazer depois que acontecer um déjà vu?

Especialistas orientam que, após acontecer o déjà vu, o melhor a se fazer é respirar, fechar os olhos e tentar trazer na memória o por que daquela sensação ter vindo à tona e o que possivelmente levou ao sentimento. Todavia, se as sensações forem recorrentes, o ideal é buscar um especialista para identificar possíveis disfunções cerebrais.

Por Jaqueline Fernandes
Foto: Nikada/Getty Images
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