21 de novembro de 2024

Foto: Mauricio Vieira/Secom-SC

Apesar da tendência de queda no número de pessoas contaminadas a partir de um infectado, Estado figura entre os que mais transmitem...

Goiás está com a terceira maior taxa de transmissão da Covid-19 entre as unidades da federação. Com um índice de 1,12, o Estado só está atrás de Rio Grande do Sul (1,15) e Tocantins (1,14) no indicador. O número (o chamado R) representa a quantidade de pessoas que um caso positivo da doença pode contaminar. Especialistas explicam que a pandemia passa a ficar controlada quando esta taxa é menor que um, ou seja, quando a cada pessoa infectada não se tem, estatisticamente, a transmissão para outra. Por outro lado, os números de Goiás estão em queda desde o fim de julho, quando se chegou a 1,48, com a reabertura da maior parte das atividades econômicas. A diminuição deste fator, no entanto, não é imperativa para reduzir a curva de casos (leia mais abaixo).

Antes disso, com a instituição de 14 dias de fechamento no começo de julho, o Estado tinha chegado à menor taxa de infecção, entre os dias 6 e 9, com um índice calculado em 1,08 (veja quadro). Os números são da plataforma Covid-19 Analytics, de responsabilidade de pesquisadores ligados à Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio).

A reportagem utilizou os dados com o ajuste da defasagem, que é o atraso entre a notificação de casos e o registro dos mesmos nas estatísticas oficiais. Desta forma, foram consideradas as informações até o último dia 9.

Ainda segundo os dados, por um mês, entre os dias 15 de maio e 16 de junho, Goiás apresentou taxa de transmissão com números acima de 1,79. O ápice ocorreu nos dias 11 e 12 de junho, com 1,87.

Os números diferem dos que são utilizados pela Secretaria de Estado de Saúde de Goiás (SES-GO), que se baseia no cálculo feito pela Universidade Federal de Goiás (UFG). A divergência ocorre porque cada estudo leva em consideração dados diferentes, como o número de casos ou óbitos ou de internações. A escolha pelos cálculos da UFG, diz a SES-GO, ocorreu porque a pasta confiou nos mesmos desde o início. Habituada aos mesmos, não deve mudar.

Isolamento

A UFG, por exemplo, utiliza dados de casos e de isolamento social, além de apresentar correções pelo atraso na entrega dos dados pelos municípios ao sistema do Ministério da Saúde (MS). Os cálculos da PUC-Rio são feitos a partir dos boletins divulgados diariamente, com casos e mortes. “Como estes dados podem ser impactados por mudanças no padrão de divulgação e/ou de testagem, os resultados devem ser interpretados com cautela, e se tornam mais confiáveis conforme a região se estabiliza em uma determinada faixa de número de reprodução por muitos dias”, informa a plataforma da universidade.

No caso, eles dividiram o índice em três faixas, sendo abaixo de 1, entre 1 e 1,5 e entre 1,5 e 2. Goiás está há 49 dias na faixa intermediária. Atualmente, há 11 unidades da federação no Brasil com a taxa menor que 1, o que é entendido como a pandemia em situação controlada, entre elas está o Distrito Federal (0,98). Os demais entes federativos estão todos no mesmo patamar de Goiás, ou seja, não há nenhum local com a taxa de infecção acima de 1,5. No entanto, apesar de valores nominais diferentes, a trajetória da curva do índice é semelhante.

Incerto

O professor e biólogo da UFG, José Alexandre Felizola Diniz Filho, explica que o último cálculo feito pela universidade para o Estado, no começo de julho, indicava uma taxa de transmissão entre 1,2 e 1,3, ainda com dados de junho. “Com os atrasos nos envios dos dados é complicado calcular a taxa de infecção. Estamos vendo se até o fim da semana a gente tem dados mais confiáveis e depois disso podemos fazer um novo modelo”, diz. Para ele, calcular o R em Goiás com confiança deve utilizar dados de até meados de julho, isso porque têm entrado na curva epidemiológica casos cujos sintomas ocorreram a até 4 ou 5 semanas antes, e o mesmo se dá em relação aos óbitos.

Vírus tem “menos opções”

O professor e biólogo da Universidade Federal de Goiás (UFG), José Alexandre Felizola Diniz Filho, explica que a tendência de queda na taxa de transmissão (R) da Covid-19 ocorre porque o avanço da doença também indica um menor número de pessoas suscetíveis. Ou seja, quanto mais pessoas estão contaminadas, menos pessoas estão passíveis de contrair o vírus. “A gente utilizava o índice de isolamento social da In Loco, o que hoje já não faz sentido.

O que tem segurado hoje são as outras medidas, mas pela defasagem é mais difícil fazer o cálculo. Quando os dados começam a chegar, pelas semanas anteriores, a gente vê que o nosso modelo estava certo”, afirma o professor.

Com o índice de isolamento era possível estimar quantas pessoas estavam isoladas e, claro, longe da possibilidade de contaminação. Assim, mesmo que ainda houvesse menos pessoas podendo ser infectadas, muitas estavam em casa se protegendo. Agora, com a reabertura, há mais pessoas expostas, mas como muita gente já foi contaminada, é como se o coronavírus tivesse “menos opções”, em uma explicação mais fácil. Até por isso o pico da curva epidemiológica da doença se dá justamente com um R próximo ou igual a 1, quando se tem o máximo de pessoas contaminadas.

“Para ter uma alta neste momento só se ocorrer algo muito diferente. Só se muita gente estivesse isolada e saísse deste isolamento, aumentando o número de pessoas suscetíveis, o que não deve ocorrer”, afirma Diniz Filho. Outro problema que poderia aumentar a taxa depois de cinco meses da pandemia é a ocorrência de um surto, tal qual se deu em Rio Verde, quando o R no local chegou a 3, ou seja, cada pessoa infectada era capaz de infectar até outras 3 em curto espaço de tempo. No entanto, atualmente, é estimado que a taxa na cidade esteja abaixo de 1, ou seja, em situação controlada.

Decisões são tomadas com base em conjunto de dados

Superintendente de Vigilância em Saúde da SES-GO, Flúvia Amorim estima que a taxa de infecção no Estado atualmente possa estar entre 1,3 e 1,4, seguindo os padrões adotados anteriormente pela Universidade Federal de Goiás (UFG), mas que não recebeu uma nova atualização dos cálculos. “No fim de março chegamos a 2, mas a variação é muito parecida com outros estudos”, diz sobre os dados da PUC-Rio. O professor e biólogo da UFG, José Alexandre Felizola Diniz Filho, estima que um cálculo da taxa de infecção com base em dados do começo de julho, quando ainda havia restrições drásticas de funcionamento das atividades econômicas em parte do Estado, chegaria a um resultado entre 1,1 e 1,2.

No Estado, nunca foi feito um estudo com as taxas de transmissão por municípios. “A UFG fez de alguns em maio e junho, apenas em casos específicos, como Caldas Novas, Goiânia, Rio Verde, mas não temos isso por município. O que sempre usamos foi o geral do Estado, mas nunca apenas o R para a tomada das decisões, sempre em conjunto com outros dados”, explica Flúvia. Diniz Filho afirma que os pesquisadores da UFG, no grupo do qual faz parte, deverão fazer novo cálculo assim que os dados de casos e óbitos estiverem mais consolidados.

Fonte: O Popular
Jornalismo Portal Panorama
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