Contaminação alarmante: substância usada no tratamento de água é achada em peixes de Goiás

Contaminação alarmante: substância usada no tratamento de água é achada em peixes de Goiás

Peixes capturados em diferentes pontos da Bacia do Rio Paranaíba apresentaram contaminação por acrilamida, uma substância química potencialmente tóxica. A constatação foi feita por pesquisadores do Projeto AquaCerrado, que realizam estudos sobre os impactos ambientais nos cursos d’água do Cerrado. O levantamento teve como foco o Córrego Sussuapara, localizado na região de Bela Vista de Goiás, e revelou índices alarmantes da substância nos organismos analisados.

Em um dos peixes examinados, o nível de acrilamida atingiu 4,22 miligramas por litro (ml/L) — valor cerca de 8,4 mil vezes acima do limite permitido pelo Ministério da Saúde. A presença da substância na água, por outro lado, não foi detectada em níveis significativos. Segundo os pesquisadores, a hipótese é de que o composto esteja se acumulando de forma crônica nos peixes devido à exposição contínua.

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A acrilamida é um composto químico usado principalmente na produção de poliacrilamida, substância empregada no tratamento de água potável e de reuso, bem como na fabricação de colas, papel, cosméticos e materiais de construção. De acordo com a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), estudos apontam que a substância pode causar câncer em animais e provocar mutações no DNA humano, embora ainda não conste na Lista Nacional de Agentes Cancerígenos para Humanos (Linach).

Os resultados do AquaCerrado indicaram a presença da substância em sete regiões diferentes do Córrego Sussuapara, todas próximas à estação de tratamento de esgoto (ETE) de Bela Vista de Goiás. A iniciativa é resultado de uma parceria entre a Universidade Federal de Goiás (UFG), a Universidade Federal de Jataí (UFJ) e outras cinco instituições de pesquisa.

O caso ocorre em meio a outras denúncias de poluição na região. Em 15 de setembro, após inspeção da Secretaria de Estado do Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável (Semad), a Saneago foi multada em R$ 2,7 milhões por irregularidades na ETE de Bela Vista. A penalidade se baseou na constatação de altas concentrações de poluentes nas águas próximas à estação, embora o uso de acrilamida não tenha sido avaliado na ocasião, já que o laboratório responsável não possuía tecnologia para identificar o composto.

Em nota, a Saneago afirmou que não utiliza acrilamida em seus processos e que o tratamento de esgoto local é feito por lagoas de estabilização, baseadas em processos naturais de microrganismos, algas e luz solar. A empresa acrescentou que o parâmetro de acrilamida não é exigido em análises de efluentes e destacou que amostras anteriores já haviam indicado contaminação antes do ponto de lançamento da ETE, o que pode apontar outras fontes de poluição.

A Semad, por sua vez, informou que estuda a contratação de um novo instituto credenciado para realizar análises mais detalhadas sobre a presença da substância. A pasta destacou que os resultados anteriores apontaram aumento significativo de E. coli, matéria orgânica (DBO) e fósforo nos pontos próximos ao lançamento da ETE, além de níveis elevados de sólidos totais dissolvidos antes do ponto de descarga.

“Esses resultados indicam a existência de outras fontes de contaminação do Ribeirão Sussuapara, além da ETE”, concluiu a secretaria, reforçando o compromisso em ampliar o monitoramento e mitigar os impactos ambientais na região.

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Gessica Vieira

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