A canela-de-velho, nome popular da planta brasileira Miconia albicans, é comercializada com a promessa de aliviar dores nas articulações e combater inflamações.
De fato, diversos membros da flora brasileira possuem propriedades medicinais, e muitos dos remédios conhecidos hoje vieram de algum elemento da natureza.
Mas, é preciso ter cautela quanto a indicações milagrosas, principalmente se tratando de fitoterápicos. Ou, pior, de uma espécie que nem nessa categoria está. Infelizmente, é aí que se encaixa a canela-de-velho.
Para piorar, muitos dos produtos vendidos com esse rótulo sequer contém a planta na sua composição.
O que é para que serve a canela-de-velho (Miconia albicans)?
Típica do Cerrado, essa planta é conhecida por propriedades anti-inflamatórias e analgésicas. Em suas folhas, ela possui diversos fitoquímicos responsáveis por essas ações, e estudos feitos em camundongos já demonstraram esse efeito.
A Miconia albicans é o princípio-ativo de chás, pomadas e até cápsulas com uma versão em pó, muito usados por pessoas com dores articulares, artroses e artrites.
Porém, é preciso ficar claro que nada disso é regulado e legalizado pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA). Por meio da Resolução Nº 400 de 16 de fevereiro de 2017, ela proibiu a produção, distribuição e comercialização de produtos fitoterápicos ou medicamentosos obtidos da canela-de-velho, devido à ausência de registro para essa finalidade.
Em humanos, só um estudo clínico foi realizado, com 24 pessoas. Ele mostrou efeitos positivos e seguros, porém mais pesquisas são necessárias para assegurar sua eficácia.
Por aqui, apenas cosméticos com Miconia albicans como princípio ativo são autorizados. Você pode conferir todos aqui.
O que dizem os médicos sobre a canela-de-velho
“Apesar de muito popular no Brasil, é preciso mais estudos, com um grande número de pacientes. No momento, não há validação científica do seu uso como analgésico e anti-inflamatório”, pontua o presidente da Sociedade Brasileira de Reumatologia (SBR), Marco Antônio da Rocha Loures.
Ou seja, nenhuma formulação (oral, tópica, chás ou temperos) tem eficácia. E os reumatologistas não recomendam o uso a pacientes com artrite, artrose ou dores articulares.
O médico João Alho, também da SBR, faz outra ponderação: “Existe pouco ou um risco desprezível relacionado ao seu uso. Assim, há pessoas que realmente se sentem bem com o uso deste tipo de produto, ainda que saibamos que é placebo, e então insistir no seu não-uso pode minar a relação médico-paciente”, afirma o especialista.
Ele afirma que os profissionais precisam ter a habilidade de saber quando permitir que algo não eficaz – mas não nocivo! – seja usado por um paciente muito conectado com aquele traço cultural. “Isso pode ajudar a alcançar os objetivos em um tratamento”, acrescenta.
Lembrando que as terapias eficazes para dores articulares incluem exercícios físicos que promovam alongamentos e fortalecimento muscular, antinflamatórios, compressas geladas e fisioterapia. Dependendo da doença, podem ser necessárias medicações específicas ou mesmo infiltrações guiadas.
Consulte sempre um médico especialista.
Produtos podem nem conter canela-de-velho
Como não são regulados pela ANVISA, muitas formulações que afirmam ser Miconia albicans na verdade não são.
Foi isso que concluiu uma pesquisa feita pelo biólogo Diego Tavares Iglesias, da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). Das 19 amostras colhidas em feiras de seis municípios de Minas Gerais, 13 não eram Miconia albicans.
“É preciso alertar que existe um problema de identificação: muitas vezes, as pessoas coletam a planta achando que é canela-de-velho mas não é, é uma parente dela que nem foi estudada. Por serem do cerrado, essas espécies crescem num solo muito rico em alumínio e podem ser bioacumuladoras desse metal, o que traria uma toxicidade para elas”, afirma o biólogo.
Caso vá comprar, procure empórios da sua confiança e não tome o chá em excesso, no máximo duas vezes ao disso. Cuidado também ao colher uma planta achando que é canela-de-velho, pois pode não ser.
Por Ingrid Luisa
Foto: Freepik
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