Aplicativo “invisível” vira arma de criminosos para aliciar crianças em Goiás
Um aplicativo de mensagens com criptografia de nível militar vem sendo usado por criminosos para ocultar crimes de aliciamento e exploração sexual infantil em Goiás. Nesta semana, a Polícia Civil do Estado de Goiás (PCGO) prendeu um homem suspeito de estupro virtual contra uma menina de 10 anos, em Rio Verde.
De acordo com a investigação, o suspeito se passava por adolescente para enganar a criança. A prisão ocorreu na segunda-feira (21), depois que a mãe da vítima identificou conversas suspeitas e entregou o celular da filha à polícia.
Operação Sombra Digital identifica uso do aplicativo Zangi
Durante a Operação Sombra Digital, a Polícia Civil detalhou o uso dessas plataformas digitais. Segundo os investigadores, o suspeito iniciou o contato com a vítima por meio de redes sociais populares.
Em seguida, ele convenceu a criança a migrar para aplicativos com maior nível de criptografia. Dessa forma, passou a dificultar a rastreabilidade das mensagens e reduziu a supervisão dos responsáveis.
Aplicativo reforça anonimato e dificulta investigações
Entre os aplicativos utilizados, a polícia destacou o Zangi. O delegado Matheus Dutra, do Grupo Especial de Investigação Criminal (Geic), explicou que a ferramenta se assemelha a aplicativos tradicionais de mensagens, como o WhatsApp.
No entanto, o Zangi não exige cadastro com número de telefone ou e-mail. Com isso, dificulta a identificação dos usuários e reforça o anonimato. Além disso, segundo o delegado, a plataforma não mantém controles internos rigorosos para bloquear conteúdos ilícitos.
Criminosos usam redes sociais para criar vínculo inicial
Conforme a Polícia Civil, os criminosos iniciam a abordagem em redes sociais amplamente utilizadas por crianças e adolescentes, como Instagram e TikTok. Nesse primeiro momento, o suspeito constrói uma relação de confiança com a vítima.
Posteriormente, ele convence a criança a migrar para o aplicativo criptografado. Assim, consegue praticar os crimes longe do controle dos pais ou responsáveis.
Especialista analisa riscos técnicos do aplicativo
Do ponto de vista técnico, o gestor em Tecnologia da Informação e especialista em Cibersegurança, Cleyton Salomé, explica que o Zangi utiliza criptografia proprietária de ponta a ponta. Além disso, o aplicativo adota uma arquitetura serverless, que afirma não armazenar dados em servidores.
Apesar disso, o especialista alerta para a falta de garantias verificáveis. O aplicativo não disponibiliza código totalmente aberto nem apresenta auditorias independentes recentes. Por essa razão, não há confirmação de que o sistema resista a ataques avançados.
Tecnologia dificulta acesso a provas digitais
Segundo Salomé, esse tipo de tecnologia dificulta diretamente o trabalho das forças de segurança. Como consequência, o acesso a provas digitais fica limitado, o que pode atrasar investigações.
Além disso, o especialista destaca que criminosos escolhem essas plataformas justamente para evitar a produção de provas e dificultar a própria identificação.
Falhas sociais favorecem ação de predadores online
Sob o ponto de vista social, o especialista ressalta que o aplicativo atrai criminosos pela facilidade de criação de contas. Somado a isso, a ausência de verificações rigorosas e de relatórios de transparência sobre abusos amplia os riscos.
Por outro lado, essas falhas expõem usuários a contatos indesejados, golpes, tentativas de phishing e à atuação de predadores virtuais. Diante desse cenário, Salomé não recomenda o uso do aplicativo por menores de idade.
Educação digital é fundamental para prevenção
Segundo o especialista, pais e responsáveis devem monitorar continuamente as atividades online das crianças. Além disso, devem orientar sobre conteúdos que jamais devem ser compartilhados, como fotos íntimas, endereço ou dados escolares.
Para Salomé, a cibersegurança começa com educação digital. Em outras palavras, a orientação é semelhante ao conselho tradicional: não conversar com estranhos quando não se sabe quem está do outro lado da tela.
Denúncia da mãe permitiu avanço da investigação
No caso investigado pelo Geic, o suspeito utilizava perfis falsos no Instagram e no TikTok. Ao perceber diálogos estranhos, a mãe da criança procurou a delegacia e apresentou o celular da filha para análise.
A partir desse material, a polícia conseguiu identificar o autor. Segundo o delegado Matheus Dutra, o investigado estabelecia vínculo com a vítima antes de solicitar a mudança de plataforma.
Ainda conforme a PCGO, o suspeito intensificou a conduta criminosa após a migração para o aplicativo criptografado. Ele chegou a usar conteúdos envolvendo outras meninas para influenciar a vítima.
Enquanto isso, a criança acreditava conversar com alguém da mesma idade. Mesmo assim, os investigadores conseguiram identificar o autor real por trás dos perfis falsos.
Diante dos fatos, a Polícia Civil solicitou a prisão temporária do suspeito e cumpriu mandados de busca e apreensão. Agora, as investigações seguem em andamento.
Por fim, a perícia no celular do investigado deve indicar a existência de outras vítimas, possível compartilhamento de material ilícito e a participação de terceiros. Até o momento, a polícia confirma que os crimes ocorreram exclusivamente no ambiente virtual.
Por Gessica Vieira
Foto: Reprodução
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