Foto: Reprodução

Existem evidências de que os cachorros pequenos latem mais. Saiba por quê e como atenuar.

Antes de falar por que os cachorros pequenos latem tanto, é importante considerar que os latidos são uma parte importante da comunicação dos cães – tanto entre eles, quanto nas “conversas” com humanos.

Portanto, os latidos são naturais, previsíveis e necessários. Com tanta poluição sonora, especialmente nas grandes cidades, o barulho dos peludos não chega a ser um grande problema. É possível usar algumas técnicas de adestramento para fazê-los latir menos, mas não para fazê-los parar de latir.

Os motivos dos latidos dos cachorros pequenos

Algumas raças caninas foram desenvolvidas para chamarem atenção e, por isso, são mais barulhentas. O beagle, por exemplo, foi criado para caçar em matilhas numerosas – e ele precisava alertar os colegas quando avistava uma raposa ou identificava um rastro. Os cães da raça continuam “ruidosos” até hoje.

Cães de trabalho costumam latir em momentos específicos: quando encontram uma pista, quando uma rês se afasta do rebanho, quando um estranho se aproxima perigosamente. Por isso, pastores, boiadeiros e cães de guarda emitem sinais quando percebem que alguma coisa está errada.

No passado, entre os pastores de Shetland, que são animais de porte pequeno para médio, os mais valorizados nas Ilhas Britânicas eram justamente os que latiam mais: os criadores acreditavam que eles eram mais eficientes para manejar os rebanhos.

Os caçadores, especialmente em terra firme, precisavam chamar a atenção dos tutores quando encontravam uma trilha ou visualizavam uma presa. Por isso, terriers, pointers e setters são muito “sonoros”.

Já os que trabalham “por conta própria”, isto é, saem para caçar e trazem para o acampamento o resultado das suas incursões, são naturalmente solitários e tendem a ser silenciosos. É o caso dos cães d’água, que mergulham sozinhos para caçar ou resgatar as presas, e dos caçadores de grandes presas, como o afghan hound e o weimaraner – este último, aliás, é conhecido como “fantasma cinza”.

Os problemas podem começar na vida urbana, em que os peludos são adotados basicamente para fazer companhia. A “pista” pode ser apenas um cheiro diferente; a “rês desgarrada”, um carro ou moto passando na vizinhança; o “estranho perigoso”, um vizinho chegando em casa em horário diferente; e assim por diante.

Os cães latem nas mais diversas situações, com motivos reais ou não: quando eles estão excitados e estimulados, quando pessoas queridas se aproximam, quando a hora do passeio ou da brincadeira está chegando e quando sentem medo.

Os cachorros pequenos, no entanto, parecem ter desenvolvido uma estratégia fundamental para a “sobrevivência”. Independentemente do porte, todos os cães, do dogue alemão ao chihuahua, pertencem à mesma espécie e, entre eles, não costuma haver diferenças por causa do tamanho: um nanico pode ser o alfa da matilha, mantendo o gigante submisso.

Contudo, nas interações, os riscos para os pequenos são muito maiores e eles precisavam de uma tática eficiente para se preservar, especialmente aqueles cujas raças foram estimuladas a latir e chamar a atenção.

Os cães pequenos atuais passaram a latir para compensar o tamanho diminuto. Um yorkshire terrier, por exemplo, pode ser muito útil na caça solitária a roedores em galerias de minas de carvão, mas fica muito exposto quando está em ambiente aberto.

Os cachorros pequenos latem bastante para mostrar que estão por perto e para intimidar eventuais competidores. É como se eles estivessem dizendo: “Eu sou pequeno, mas sou muito barulhento. Já, já, a matilha vai chegar aqui”.

A genética, no entanto, não consegue explicar sozinha os motivos dos comportamentos caninos, que podem ser reforçados ou modificados de acordo com o ambiente em que vivem e a criação que recebem.

Quando um tutor se diverte com a gritaria do cãozinho, ele passa a se sentir motivado a repetir a conduta, não apenas por se considerar corajoso, mas também porque quer agradar os humanos da família, que, no raciocínio dos peludos, ocupam as posições de liderança do grupo.

Os latidos também podem estar relacionados a poucas oportunidades de socialização. Quando se encontram, os cães gostam de interagir: eles se cheiram, se lambem, assumem diversas posições e vão conhecendo um ao outro.

Muitos tutores, no entanto, ficam com medo de que o cachorro pequeno possa se machucar. Instintivamente, ele passa a ser levado no colo nos passeios, sempre protegido de eventuais agressões. Este excesso de zelo pode acabar prejudicando o equilíbrio emocional.

Vale lembrar que os cachorros, independentemente do porte, precisam ser socializados ainda filhotes, entre a sétima e a 12ª semana de vida, logo depois de tomarem as vacinas e vermífugos. Quanto mais estímulos externos eles receberem, mais estarão ajustados e acostumados com humanos e outros cães.

Porém, é nesta fase principalmente que os tutores mais temem pela integridade dos cachorros. Um pinscher miniatura, um chihuahua ou um shih tzu (pequenos inclusive quando adultos) parecem ser ainda mais frágeis quando são filhotes.

É na infância que os cachorros também devem ser desestimulados a comportamentos inadequados. Nos passeios, eles precisam aprender a respeitar as regras e os transeuntes. O excesso de zelo – muito colo e proteção desnecessária – pode torná-los birrentos e malcriados, comportamentos de difícil reversão.

O barulho

Entre os quatro recordistas de latidos, três pertencem a raças caninas de pequeno porte. Esta é mais uma evidência de que os nanicos são realmente mais barulhentos do que os seus primos de tamanho grande ou gigante:

  • o “campeão do barulho” é o yorkshire terrier, que pode passar vários minutos latindo sem parar. O comportamento é resultante do desenvolvimento da raça, mas também dos mimos exagerados dispensados por boa parte dos tutores;
  • os volumes mais elevados, no entanto, são emitidos pelos rottweilers. O latido dos cães da raça é potente, prolongado e apresenta um volume absurdo: ele alcança a marca dos 105 decibéis, superior ao de um bate-estaca (95 dB), de uma ambulância (100 dB) e quase atinge o de uma torcida numerosa em final de campeonato (115 dB, registrado em uma partida da NBA);
  • o latido mais estranho pertence ao pequeno e simpático pug: é curto, rouco e se parece com um engasgo. A vocalização esquisita porque o focinho – o mais achatado entre os cães – limita a circulação de ar nas narinas;
  • já o latido mais agudo é o do schnauzer miniatura, uma raça desenvolvida na Alemanha para a caça de ratos. O som fino e penetrante parece ser extremamente irritante para os roedores, que se afastam rapidamente.

A melhor estratégia para atenuar os latidos, é sempre importante não esquecer, é justamente tratar os cachorros como eles são: cachorros.

Como atenuar os latidos dos cachorros pequenos

Lembrando mais uma vez que o latido é uma forma natural de comunicação e expressão dos cachorros, é possível atenuar o barulho com técnicas de treinamento. O melhor método é o adestramento positivo, com recompensas a cada acerto e sem gritos, muito menos agressões físicas.

Alguns cachorros latem demais. Isto pode ser um problema, especialmente para quem mora em apartamentos e precisa se submeter aos regulamentos do condomínio – que, aliás, nada mais são do que regras de convivência.

A norma básica é não valorizar os latidos. Quando um filhote chega à casa nova, ele está apavorado, desorientado, e tenta chamar a atenção para os muitos perigos que depara. O tutor deve acolhê-lo, mas precisa organizar as coisas de acordo com horários adequados para os humanos da casa – e não para o cãozinho, que não precisa seguir relógios e calendários.

Os latidos, portanto, devem ser desencorajados. Se o cãozinho late quando um vizinho passa no corredor, precisa ser advertido. Basta um “não” pronunciado em tom firme e repetido tantas vezes quantas forem necessárias. Felizmente, a imensa maioria dos cachorros costuma aprender depois de três ou quatro repetições (alguns assimilam logo no primeiro comando).

Os tutores também devem ficar atentos às próprias formas de comunicação: se o cachorro presencia gritos o tempo todo, ele naturalmente passará a agir da mesma forma. Especialmente durante os treinamentos, não se deve elevar a voz: basta adotar um tom firme – e, claro, não voltar atrás e se render aos pedidos insistentes e à cara de pidão.

Alguns cachorros são mais insistentes e teimosos. Muitas vezes, eles tentam manter o “padrão sonoro”, com latidos irritantes. Para eles, o ideal é ignorar. Não se deve atender a nenhum pedido enquanto o peludo estiver latindo. No início, os tutores podem usar fones de ouvido para ignorar os latidos.

Sempre que o cachorro estiver latindo de maneira exagerada, é preciso desviar a atenção. Os latidos sempre têm um motivo: um cheiro diferente, um reflexo na janela, um ruído que chega por baixo da porta.

Nesses momentos, a atenção do peludo deve ser distraída com uma brincadeira – um objeto escondido, por exemplo, que aguça a curiosidade e desvia o interesse do cachorro de maneira quase instantânea.

Os cães têm o dom de passar de uma atividade para outra com uma velocidade incrível. Os petiscos, no entanto, devem ser evitados, para que eles não encarem a guloseima como recompensa – justamente para o hábito que se está tentando desestimular.

Assim que o cachorro parar de latir, o tutor deve redirecionar a atenção do peludo para alguma coisa positiva. Pode-se dar um comando simples (“senta”, “junto”, etc.) que, uma vez atendido, merece recompensa.

O raciocínio canino é bastante fragmentado. Quase imediatamente, ele deixa de latir, envolve-se na brincadeira proposta pelo tutor e precisa identificá-la como algo prazeroso e interessante. Quando isso acontece, ele já esqueceu completamente os motivos dos latidos – a menos que eles sejam muito bem fundamentados.

Normalmente, cachorros que vivem em casas com quintal costumam latir mais quando estão nas áreas externa, já que os estímulos são abundantes: conversas de humanos, motores em funcionamento, etc.

Nestes casos, o tutor precisa levar o peludo imediatamente para dentro da casa. Não é preciso nenhuma advertência: o cão deve apenas perceber o interesse dos humanos pelos sons e cheiros que tanto o estão atraindo.

Se o cachorro estiver muito excitado, prenda-o com a coleira durante alguns instantes. É possível que ele entenda que não há motivo para estardalhaço. Na pior das hipóteses, ele não vai gostar nada de ser tolhido e o “castigo” será associado aos latidos.

Os cachorros também podem latir excessivamente por puro tédio. Quando eles não encontram nada útil e interessante para fazer, os latidos podem parecer uma boa companhia. Por isso, é importante providenciar atividades para os peludos.

Ao sair de casa e deixar o cachorro sozinho, ele deve ter acesso a alguns brinquedos, a uma fresta na janela ou até a uma peça de roupa do tutor, cujo odor o faz lembrar dos bons momentos. Os animais mais ansiosos podem se ocupar com uma TV programada para ligar por alguns minutos ou por objetos escondidos no ambiente.

Ao voltar para casa, é importante dedicar alguns minutos para o cachorro. As brincadeiras reforçam os vínculos com os tutores, favorecem o desenvolvimento cognitivo e contribuem para reduzir os comportamentos considerados inadequados.

Alguns cachorros mais “intensos”, no entanto, podem continuar exibindo os sinais de tédio mesmo com as brincadeiras e estratégias de estímulo. Nestes casos, é necessário aumentar a intensidade das atividades: alguns cães são realmente hiperativos.

A cordectomia

Trata-se de uma cirurgia na qual, através de uma incisão na boca ou na garganta, as cordas vocais são rompidas. Apesar de ter sido um procedimento relativamente comum em cães há algumas décadas, até mesmo gatos foram submetidos a ele.

Com a cordectomia, os latidos se tornam mais ásperos e graves. Ao vocalizar, os cães parecem estar permanentemente roucos. A cirurgia foi contraindicada pelo Conselho Federal de Medicina Veterinária, através de uma resolução publicada em 2008, que também proibiu a conchectomia (corte das orelhas) e caudectomia (corte da cauda) para fins estéticos.

Desde 2021, com a promulgação da lei nº 14.064/20, que alterou a Lei de Crimes Ambientais, os três procedimentos foram classificados como “maus tratos a animais domésticos”, criminalizados e suscetíveis a multas e penas de reclusão que podem chegar a cinco anos.

A cordectomia, além de praticamente inócua (os peludos continuam latindo, apesar do volume mais baixo), também representa um risco à saúde dos animais. Além de possíveis infecções, uma incisão mal feita pode exigir uma série de cirurgias reparadoras.

Os cães também ficam traumatizados. Como já foi dito, eles usam os latidos na comunicação. Ao se verem privados da “fala”, eles perdem referências importantes, com reflexos no comportamento cotidiano.

Fonte: Cães Online
Foto: Reprodução
Jornalismo Portal Panorama
panorama.not.br

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Esse site utiliza o Akismet para reduzir spam. Aprenda como seus dados de comentários são processados.

CONTINUA DEPOIS DA PUBLICIDADE