O sistema de vigilância da qualidade da água dos mananciais que abastecem as cidades goianas aponta que, em 2023, 9,2% de todos os 8.451 testes analisados para verificar o padrão microbiológico da água estavam fora do padrão. Isso significa dizer que cerca de uma a cada dez amostras coletadas no Estado apresenta problemas para o consumo humano, que vão desde a presença de bactérias causadoras de gastroenterite ou até mesmo cloro em índices considerados perigosos para as pessoas pela indicação de problemas na água. Os dados são do Ministério da Saúde (MS), via Programa Nacional de Vigilância da Qualidade da Água para Consumo Humano (Vigiagua).
Do total, há ainda 153 amostras cujos resultados foram inconclusivos para a quantidade de substâncias verificadas, o que representa 1,81%, e as outras 7.517 estavam no padrão adequado, ou seja, 88,9%. Os números são referentes às coletas feitas entre janeiro e julho deste ano. Para se ter uma ideia, no mesmo período do ano passado, a coleta ocorreu em 14.640 amostras, em que 934, ou seja, 6,4% estavam fora do padrão, e 184 estavam inconclusivas, o que demonstra uma piora do resultado na comparação com os dados atuais. As coletas são realizadas pelas companhias responsáveis pelo abastecimento dos municípios. Em Goiás, há a atuação da Saneago na maior parte do Estado e de companhias municipais no restante.
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Principal companhia do Estado e uma das usuárias dos mananciais, a Saneago informou que entre janeiro e o final de agosto deste ano, foram coletadas pela empresa em Goiás um total de 81.154 amostras para medição do padrão microbiológico nas quais foram feitas 162.308 análises. Destas, evidenciou-se 99,42% de conformidade com os padrões estabelecidos pela portaria do Ministério da Saúde 888 de 4 de maio de 2021, que dispõe sobre a qualidade da água para consumo humano e seu padrão de potabilidade.
Deste total de amostras coletadas neste ano pela companhia, em todas foi realizada a análise laboratorial sobre a presença da bactéria Escherichia coli, com apontamento de 99,84% de conformidade. Esta bactéria é um marcador biológico que demonstra, com a sua presença, uma contaminação recente, fazendo com que o consumo humano da água com ela seja inadequado e capaz de gerar infecções gastrointestinais. Além disso, em apenas três do total de amostras não foram feitas a análise, também, da presença de coliformes totais, cujo índice de conformidade nas 81.151 amostras foi de 98,99% nos números da Saneago.
Segundo a Saneago, sempre quando ocorre a não conformidade do resultado das análises, os requisitos legais, segundo o artigo 27 da portaria 888/2021, determinam que as amostras sejam recoletadas e analisadas novamente. “Nestas recoletas, todas deram resultados dentro dos padrões”. Porém, alerta a companhia, esses valores não estão no sistema Vigiagua do Ministério da Saúde porque o mesmo não permite a inserção dos dados de recoleta. “Por isso, permaneceram registrados os dados da não conformidade. Ou seja, diante dos resultados da recoleta, a água distribuída estava dentro dos padrões”, garante a companhia de abastecimento.
Válido lembrar que, além de não deixar inserir dados de recoleta, valendo o analisado em todas as amostras feitas pelos mananciais, o Vigiagua também recebe informações de outras companhias de abastecimento, como as municipais e, por isso, há diferença entre os números oficiais do Ministério da Saúde e da Saneago. Como mostra da diferença, no município de Brazabrantes, o Vigiagua aponta 18 amostras coletadas e todas fora do padrão. Já a Saneago afirma que no município realizou, para padrões microbiológicos, 394 amostras microbiológicas, com 98,98% de conformidade. Para se ter uma ideia, das 781 amostras fora do padrão informadas ao Vigiagua, na maior parte, 648, foi constatada a presença de cloro residual livre.
Neste caso, o nível inferior ao necessário, de 0,2 mg/l, permite o desenvolvimento de bactérias mais tolerantes ao cloro na água, o que ocorreu em 627 amostras, que tinham potencial de contaminação. Já o excesso de cloro livre, quando o índice é acima de 5 mg/l, pode gerar a formação de cloraminas e os trihalometanos, o que foi verificado em 21 amostras. As cloraminas são substâncias com potencial para causar alergias nos usuários da água, enquanto os trihalometanos são apontados como cancerígenos. Além disso, os dados do Vigiagua mostram que 141 das amostras coletadas nos mananciais goianos neste ano ainda tiveram a presença bactéria Escherichia coli, e em 11 haviam coliformes totais, além de duas amostras com cloro combinado com amônia ou outros compostos nitrogenados, o que forma as cloraminas.
Segundo a Saneago, dentre os mananciais utilizados pela companhia, não existe qualquer um que ofereça risco ao consumo humano. “A Saneago é uma empresa que promove saúde pública por meio da distribuição de água potável e garante a qualidade do produto ao seu usuário. Garantimos que água fora do padrão de potabilidade, que possa causar risco à população, não é distribuída aos consumidores, portanto, não chega aos imóveis”, informa. A companhia garante ainda que está em alerta, como ocorreu no município de Campos Verdes, onde a captação no Rio dos Bois ficou temporariamente paralisada, imediatamente, após identificação de alterações na água antes de passar pelo tratamento. No caso, havia a provável presença de rejeitos de mineração.
“Para minimizar os impactos à população e garantir a segurança da água tratada distribuída, a captação emergencial de poços tubulares profundos foi acionada”, garante a Saneago. A companhia ressalta ainda que em situações com potencial risco “são executadas ações preventivas ou corretivas, como: paralisação do tratamento de água, manutenção nos sistemas de abastecimento, limpeza dos reservatórios, limpeza da rede de distribuição, descargas em ramais e na rede de distribuição”. Essas ações são informadas à população e às autoridades de saúde pública.
Fonte: O Popular
Foto: Wildes Barbosa
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