26 de dezembro de 2024
77% dos municípios de Goiás têm risco alto da volta da poliomielite

No colo da avó Gisele Eloise Lisboa, Elena Bassê Correia recebe dose no Centro municipal de Vacinação — Foto: Fábio Lima

Gestores e técnicos da área da saúde de todos os municípios goianos estão reunidos na cidade de Goiás para a Oficina Imuniza SUS em busca de estratégias para ampliar a cobertura vacinal.

Preocupado com os números de cobertura vacinal mostrados pelo mapeamento realizado pela Gerência de Vigilância Epidemiológica de Doenças Transmissíveis, da Secretaria Estadual de Saúde (SES), durante reunião ordinária da Comissão Intergestores Bipartite de Goiás no dia 22, o Conselho Municipal de Secretários de Saúde (Cosems) de Goiás realiza hoje (29) na cidade de Goiás a Oficina Imuniza SUS. Os dados mostram que 77% dos municípios goianos apresentam risco muito alto de retorno da poliomielite, doença viral erradicada do País na década de 1980, que mata ou paralisa membros inferiores.

“Os números são desesperadores”, afirma a presidente do Cosems Goiás, Verônica Savatin. Segundo ela, a expectativa é que o encontro, que terá a participação de representantes da SES e do Conselho Nacional de Secretários Municipais de Saúde (Conasems), seja capaz de trazer novas ideias para vencer os obstáculos enfrentados pelos gestores na cobertura vacinal. Para Verônica, um dos aspectos que precisam ser analisados é a questão do Censo. “Em Chapadão do Céu, onde sou secretária, eu teria de vacinar um quantitativo de mais de 800 crianças e minha busca ativa não as localizou. Mas, não podemos nos apegar a isso. Precisamos ampliar a cobertura vacinal”

Mais de 700 gestores municipais de saúde, coordenadores de atenção básica, coordenadores de vigilância em saúde e técnicos de salas de vacinas de todos os municípios goianos já estão na antiga capital para discutir estratégias que possam aumentar as metas vacinais que caem no País desde 2016. O principal documento em discussão é a Pesquisa Nacional de Cobertura vacinal realizada pelo Núcleo de Educação em Saúde Coletiva da Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Minas Gerais, realizada a pedido do Conasems, de maio a dezembro do ano passado.

O estudo analisou a cobertura vacinal no Brasil, considerando 11 tipos de vacinas que compõem o calendário de imunização de crianças brasileiras com até 15 meses de vida, e identificou os desafios à efetividade da política e das ações nesse campo. Foram investigadas as causas da queda da cobertura vacinal e suas determinantes, com ênfase na hesitação e desinformação. O levantamento mostrou que, a partir da pandemia da Covid-19, a circulação de notícias falsas aumentou mais de 76% no Brasil, na região Centro-Oeste e em Goiás. Consequentemente, houve queda da procura de vacinas básicas em 64% dos municípios brasileiros, 71% deles no Centro-Oeste e 70% em Goiás.

Os pesquisadores ouviram 1.115 profissionais de saúde, vinculados aos órgãos públicos responsáveis pelas políticas de imunização e 2.235 cidadãos adultos. Em Goiás, foram ouvidos 202 servidores nos 246 municípios (82,1%). O recebimento e o armazenamento de vacinas não têm impactado na baixa cobertura de imunização, conforme os respondentes. E em 95% dos municípios há busca ativa dos faltosos. Entre os motivos para o atraso ou a recusa em Goiás estão: achar agulhas dolorosas (87,3%), quer escolher o tipo de vacina (80,1%), notícias falsas sobre vacinas ( 75,3%) e falta de confiança da população nas vacinas ( 66,3%).

A cidade de Goiás, que recebe a Oficina Imuniza SUS nesta quinta-feira (29), é um oásis nesse cenário, com mais de 104% de cobertura vacinal. Secretário de Saúde do município, que tem 24 mil habitantes, Marcos Elias da Neiva atribui os resultados à grande mobilização realizada pela pasta. “Houve uma grande integração, que envolveu as Unidades Básicas de Saúde (UBSs), com outras áreas da secretaria. Adquirimos o casal Zé Gotinha e Maria Gotinha e, com eles, visitamos todas as escolas e creches, fizemos busca ativa na zona rural, distritos e povoados e realizamos carreatas e panfletagem”, detalha. O secretário, que é administrador pós-graduado em Gestão de Saúde, acredita que a experiência do município poderá servir de exemplo para outras localidades.

Doença é altamente contagiosa

O último caso de poliomielite no Brasil foi registrado em 1989. Em Goiás, o último óbito provocado pela doença data de 1986. O mapeamento feito pela Suvisa mostra que em 186 municípios goianos (77%) o risco é muito alto de reintrodução da doença. Em 46 (18%) o risco é alto e nos outros 14 (5) o risco é médio.

A poliomielite, altamente contagiosa, afeta principalmente crianças com menos de cinco anos de idade e, segundo a Organização Panamericana de Saúde (Opas), uma em cada 200 infecções leva a uma paralisia irreversível (geralmente das pernas). Entre os acometidos, 5% a 10% morrem por paralisia dos músculos respiratórios. Até que a doença seja totalmente erradicada no mundo, é muito grande a possibilidade de um país ter o vírus circulando novamente.

Na Campanha Nacional de Vacinação Contra a Poliomielite de 2022, realizada no dia 7 de agosto com mobilização até 9 de setembro, somente 18 dos 246 municípios goianos atingiram a meta de 100% ou superior a isso de cobertura vacinal. Guarinos, com 133,8%, da meta ficou no topo do ranking. Mais de 100 não chegaram sequer a 50% da previsão de imunização. O município de Monte Alegre de Goiás, na região Nordeste, atingiu somente 11,49% da meta prevista.

Por Malu Longo / O Popular
Foto: Fábio Lima
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