22 de dezembro de 2024
47 escolas deixam de ser integrais em Goiás

Colégio Estadual Sol Nascente, em Trindade, é uma das 47 escolas que deixaram de ser em tempo integral em Goiás: secretaria estadual quer reduzir custos e tomou decisão de forma emergencial (Foto: Wildes Barbosa)

Medida atinge unidades do 1º ao 5º ano. Outras 18 escolas já haviam sido fechadas...

Após ter anunciado o fechamento de 18 escolas da rede estadual, a Secretaria de Educação, Cultura e Esportes de Goiás (Seduce) também reduziu o número de unidades em tempo integral para reduzir gastos. Em 38 cidades, 47 escolas – a maioria de 1º ao 5º ano do ensino fundamental – foram transformadas em padrão, atendendo apenas o ensino regular em um turno. A medida foi comunicada aos diretores, professores e pais a partir de quarta-feira da semana passada, pegando todos de surpresa e causando muitos transtornos, uma vez que as aulas começaram nesta segunda-feira, dia 21, na rede estadual.

A alegação da Seduce para o fechamento ou redução dos turnos destas escolas é que a gestão dos anos iniciais do ensino fundamental deveria ser de responsabilidade dos municípios, segundo a lei federal 9.394, de 1996, a Lei de Diretrizes e Bases da Educação (LDB). Essa foi a explicação dada aos diretores que tiveram as escolas afetadas pela decisão da Seduce, apesar de a pasta reconhecer que a decisão foi tomada como forma rápida para reduzir custos.

Na relação das escolas que deixaram de ser em tempo integral repassada ao jornal pela Seduce, consta que pelo menos 18 vão ser “gradativamente” municipalizadas. Em algumas, conforme a reportagem apurou, já não houve matrícula do 1º ano do ensino fundamental.

Professores ouvidos pela reportagem afirmam também que muitas escolas tiveram turnos ou turmas encerrados, mas a secretaria não informou quantas unidades foram atingidas pela medida. Coordenadores regionais admitem que estão trabalhando para analisar a situação de cada escola, principalmente aquelas com poucos alunos, para ver onde mais é possível enxugar ou até mesmo quais unidades podem ser fechadas.

No final do ano passado, 1.291 contratos de professores e 479 de servidores temporários foram finalizados sem renovação e não existe previsão de contratar novos profissionais até encerrar a fase de reordenamento das escolas. A decisão não afeta a convocação de professores aprovados em concurso no ano passado, que deverão ser convocados parte na próxima semana e parte em abril.

Os pais dos estudantes da Escola Estadual Sol Dourado, em Trindade, foram informados na sexta-feira, dia 18, que a unidade deixaria de ser em tempo integral neste ano e a reação foi imediata. O número de alunos matriculados caiu de 206 para 130 e, segundo a diretora Adyla de Fátima Silva, ainda tem mãe ligando e dizendo que vai tirar o aluno de lá. “Os pais ficaram uma onça. Estão procurando vagas em outras escolas que sejam de tempo integral”, comentou. Adyla disse que ficou sabendo da mudança por volta das 17 horas de quinta-feira, dia 17. A Sol Nascente, que era em tempo integral desde 2006, passou de 17 professores para apenas 5.

As mudanças não acabaram na rede estadual. A presidente do Sindicato dos Trabalhadores em Educação de Goiás (Sintego), Bia de Lima, diz que na semana passada foi acertada a participação do sindicato em uma comissão da secretaria que vai fazer o reordenamento das unidades de ensino, com junção de escolas e turmas. A ordem é enxugar custos.

Aviso foi feito em cima da hora

Diretores de escolas da rede estadual atingidos pelas mudanças feitas pela Secretaria Estadual de Educação, Cultura e Esportes de Goiás (Seduce) afirmam que foram informados com menos de uma semana de prazo para o início do ano letivo e teve casos em que os pais foram informados na última sexta-feira antes do começo das aulas, ocorrido nesta segunda-feira, dia 21. Coordenadores regionais de ensino da Seduce informaram ao POPULAR que as decisões não passaram por eles e que também ficaram sabendo da decisão da pasta na semana passada.
Os pais dos 81 alunos do Colégio Estadual José Costa Paranhos, de Ipameri, ficaram sabendo na semana passada que a escola não abriria mais as portas neste ano. De acordo com a diretora Vânia Cristina de Souza Silva, informada da decisão, no dia 11, não há outras unidades de ensino próximas dali e muitos pais foram pegos desprevenidos com a notícia. “Aqui para conseguirem ir até outra escola vão precisar de van ou carro, a pé com criança não dá não.” A unidade atendia crianças do 1º ao 5º ano há 32 anos na cidade.

No Colégio Estadual Gertrudes Lutz, em Morrinhos, os 130 alunos já matriculados descobriram na quarta-feira que a unidade passaria a atender em apenas um turno. “No dia 15, à noite, fui informada e no dia seguinte fiz uma reunião com a escola toda. Foi tudo muito de repente. Os pais reclamaram muito e muitos tiraram seus filhos”, comentou a diretora Kassia Marques. Ela ainda não sabe dizer quantos permaneceram na escola.

A diretora do colégio estadual Leão Neto, em Quirinópolis, Gladis Cabral Martins, também não sabe quantos dos 110 alunos matriculados vão permanecer na escola depois que seus pais foram informados que ela deixou de ser em tempo integral. A situação de Quirinópolis é pior porque além da Leão Neto, outras duas unidades da rede estadual também se tornaram escolas padrões.

Teve escola atingida pela decisão da Seduce que atendia também os anos finais do ensino médio. Em São Francisco, a unidade que leva o mesmo nome da cidade, fundada em 1947, fechou as portas e também pegou os pais de surpresa. A diretora Rosângela Cardoso diz que primeiro foi informada da decisão da secretaria de encerrar o período integral da unidade e que já havia conversado com os pais dos 54 alunos sobre isso quando foram surpreendidos com a decisão do fechamento da unidade.
Todos os alunos foram transferidos para uma escola próxima, garante a diretora. A escolha teria sido por causa do prédio, que é do Estado e é do interesse da prefeitura local. “Teve pai que saiu daqui chorando. Eram poucos alunos, mas eles gostavam daqui. Os professores temporários não foram reaproveitados”, informou.

Seduce mantém convocação de aprovados em concurso até abril

A Secretaria de Educação, Cultura e Esportes de Goiás (Seduce) vai aguardar o reordenamento do número de escolas e turmas da rede estadual de ensino para definir novas contratações de professores e servidores temporários.

Até lá, dois processos seletivos simplificados que já estavam em andamento continuarão com as inscrições abertas até o dia 30, mas um terceiro processo, mais recente, foi cancelado e só deve ser retomado oficialmente após revisão. Não há previsão para convocação dos aprovados nestes processos.

Já o concurso para contratação de professores efetivos realizado em 2018 teve o prazo de validade prorrogado por mais seis meses e a Seduce deve convocar 150 aprovados já na próxima semana.
Entretanto, apenas em abril outros 285 professores serão chamados.

Faltou planejamento, critica sindicato

O Sindicato dos Trabalhadores em Educação de Goiás (Sintego) diz que concorda com a decisão de reordenar a rede estadual da Secretaria de Educação, Cultura e Esportes de Goiás (Seduce), no sentido de otimizar os recursos existentes e aproveitar melhor os espaços das escolas, mas criticou a forma como a primeira etapa da medida foi tomada, pegando professores, servidores, alunos e pais de surpresa.

“Precisa ter critérios claros, discutir com pais, alunos, trabalhadores, qual a melhor opção, como fazer isso da melhor forma”, disse a presidente do Sintego, Bia de Lima. Ela diz que uma comissão foi criada pela Seduce para discutir novas mudanças e acredita que agora haverá tempo para que as decisões “sejam tomadas com calma”.

O coordenador da Mobilização dos Professores de Goiás (MPG), Thiago Oliveira Martins, diz que o certo seria a Seduce ter feito a discussão durante este ano para tomar as decisões apenas em 2020, quando venceria o prazo para transferir aos municípios as turmas dos anos iniciais do ensino fundamental. “Não pode ser assim, de surpresa”, critica.

Fonte: O Popular
Foto Capa: Wildes Barbosa
Jornalismo Portal Panorama

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